Há verdades que se impõem mesmo quando tentamos silenciá-las. Elas ardem, incomodam, mas libertam. E é em nome de uma dessas verdades — que insiste em nascer mesmo sob os escombros de promessas não cumpridas e sentimentos rasgados — que rompemos o silêncio. Não para ferir, não para culpar, mas para dar voz ao que, em nós, ainda pulsa. Porque o amor, quando traído por atitudes covardes, não morre — ele resiste, mesmo entre espinhos.
Costumamos dizer que “a verdade é como o Sol: nada, absolutamente nada, pode impedir o seu brilho”. Começamos com essa frase por dois motivos. Este mês celebramos mais um ano e, com isso, também se impõe um tempo de reflexão sobre algumas atitudes que tomamos. Sabemos que você não se importa com nossas palavras, pensamentos ou ações. Na verdade, você nunca deu a devida atenção à nossa opinião. Como sempre, preferiu se esconder atrás de terceiros, fazendo-se de vítima, quando a culpa é sua — e apenas sua — pois são as suas escolhas que deram à sua vida essa cor desbotada e sem sentido.
Carregamos em nós o germe da culpa, seja pela omissão ou por não termos dito a palavra certa naquele momento crítico. Ontem, você disse que nos amava e que tudo o que queria era estar aqui, ao nosso lado, para reconstruir nossas vidas a partir do alicerce da história que compartilhamos um dia. Talvez estejamos escrevendo estas linhas sob o impacto de uma dor recente, causada por mais uma de suas atitudes infantis, como se os espinhos que lançou em nosso caminho fossem apenas isso: espinhos. Mas não. Eles deixarão novas cicatrizes, que não nos permitirão esquecer você, transformando tudo numa mistura amarga de amor e ódio.
Para você, tudo não passou de uma aventura. Nós, no entanto, colocamos nossa vida em suas mãos. E o que você fez? Agora, depois de uma eternidade, retorna — trazendo consigo toda a tempestade de sentimentos daquele tempo e tudo o que um dia fomos. Sua insegurança nos feriu. Sua falta de coragem para ser apenas você mesma, para admitir que precisava — e ainda precisa — estar conosco, foi o que nos causou tanta dor.
Saiba que só há uma pessoa responsável pelos seus atos e por tudo o que acontece na sua vida — e na vida daquele a quem um dia jurou amar em dias de céu azul ou de tempestade —: você. Não vamos cobrar, exigir ou implorar que cumpra a palavra que um dia nos deu. De você, só esperamos o que sempre nos trouxe: dor e sofrimento. O único gesto de misericórdia que lhe pedimos é que assuma as consequências das suas escolhas e caminhe na luz, dizendo sempre a verdade — para si mesma e para aqueles que um dia jurou amar.
Existe um santo que usava uma tríade — amor, esperança e fé (cf. 1Coríntios 13,13) — e escreveu aquele belíssimo texto cantado por uma banda de rock dos anos 80. Esse mesmo santo, em outro momento, falou de uma dor, um espinho em sua carne, contra o qual lutava para não cair:
- “Foi-mew dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me torne orgulhoso” (2Coríntios 12,7).
Toda essa tristeza que nos consome é como esse espinho, para que não nos tornemos orgulhosos. Esse mesmo santo nos lembra, com humildade, que:
- “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, isso eu faço” (Romanos 7,19).
Sabe, sentimos pena de você e dessa sua vida longe da verdadeira felicidade. Não, por favor, não diga que a encontrou distante dos seus, pois nós sabemos de sua frustração e do remorso por uma escolha que não foi acertada — e que agora você tenta disfarçar, agarrando-se a algo que chama de amor, mas que não passa de uma bijuteria, muito distante da joia preciosa que um dia você teve a chance de contemplar.
Você finge força para esconder sua maior dor: viver longe daqueles que um dia você disse amar de verdade. Hoje, nega isso aos outros — e tenta negar até para si mesma. Mas ninguém pode mentir para si.
Sim, estamos tristes, magoados, arrasados. Mas.assumimos, diante de nós mesmos e de todos, nossa derrota frente à sua escolha. E, como diz o mesmo santo: “Somos abatidos, mas não destruídos” (2Coríntios 4,9).
Quanto a você, sabe muito bem que sua maior derrota foi a fuga. Mas não tem coragem de admitir os próprios erros e retornar ao projeto que abandonou, ao caminho que começou a trilhar, mas do qual recuou por covardia. Agora, vem dizer que nos ama, mas não consegue assumir isso nem diante dos outros, nem diante de si mesma. Você precisa da nossa presença para ser feliz por completo. Só esperávamos que tivesse coragem de se assumir — e descer logo do muro de ilusões que construiu ao redor da própria vida.
Aceite perder essa ilusão, para ganhar a verdade. Não lhe propomos o ontem nem o amanhã: só pedimos que venha no hoje. Porque a vida é curta para quem deseja amar, ser amado — e precisa ser feliz no agora.
Por isso, não lhe escrevemos apenas para recordar dores, mas para afirmar uma esperança: a de que a verdade um dia a alcance por inteiro. Que o espinho que hoje ainda fere também a transforme. Que desça do muro onde se esconde e ouse viver, com inteireza, o amor que outrora jurou. Porque, no fim das contas, não há bijuteria que substitua a beleza crua de uma vida construída no chão firme da verdade. E, como diz o mesmo apóstolo ferido e esperançoso: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Timóteo 4,7). Nós seguimos. Feridos, mas inteiros. Magoados, mas vivos. Derrotados aos olhos do mundo, mas jamais destruídos.
DNonato – Leigo católico, graduado em História; seguimos com cicatrizes, mas de pé, porque ainda acreditamos no poder libertador da verdade.
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A verdade é que não te esqueci, mas tem coisas que não dá para mudar. Eu tenho a minha vida e você tem a sua. Sempre te serei grata por tudo que me deste, mas, não posso deixar o meu mundo. È VERDADE NÃO SOU FELIZ MAS VOU LEVANDO
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