quinta-feira, 10 de maio de 2012

A Questão do sentimento e o Respeito por si mesmo - IV


Sinta o peso. Esse fardo temporal que, como as correntes de Cronos, comprime a própria alma. O que pulsa em sua decisão neste instante ecoa a sacralidade de um oráculo. Olhe para o rio da vida que escorre... 

Você também se reconhece, porventura, erguido na própria hybris, negando as sombras de escolhas passadas?
No silêncio espectral de sua mente, onde a farsa se revela, o castelo de cristal que você ergueu – quimera de um Ícaro moderno – desmorona. Um usurpador, ciente da própria culpa, jamais provará a doçura da gratidão na taça da vítima. Se ainda acalenta essa ilusão, enquanto o destino, implacável como Nêmesis, o confronta, e você crê que olvidaríamos o labirinto de dor que semeou em nossa jornada, porventura nos imagina cativos, à espera de seu retorno, prisioneiros nas sombras de seu Érebo pessoal? Ledo engano. Escolhemos a liberdade severa da solitude, renunciando ao canto fugaz das sereias de um sentimento insensato, trilhando caminhos onde seus omina caíram em solo árido.
Os caminhos da vida nem sempre se alinham aos nossos desejos; talvez a Nêmesis do destino o alcance agora da pior forma possível. Você foi advertido de que sua chegada poderia ser tardia demais, contudo, preferiu fechar os olhos aos sinais, como Cassandra amaldiçoada.
As emoções que outrora o envolveram ressurgiram, e não houve máscara capaz de ocultá-las do nosso olhar onisciente.
Seus olhos brilharam, e sua essência irradiava em nossa presença, como uma efêmera epifania. Lamentamos profundamente informar que a oportunidade de retornar à senda antiga que o guiaria à felicidade se esvaiu como a areia entre os dedos, selando seu destino, tal como um decreto dos doze olímpicos. A morada que você abandonou repousa intacta, guardando apenas uma significativa alteração: os ferrolhos e fechaduras foram substituídos, erguendo barreiras como as muralhas de Roma, selando qualquer tentativa de perturbar a jornada que agora nos define.

Desfaça a quimera de nossa dependência. Não ansiamos reviver os espectros do passado, fantasmas do seu Inferno pessoal. Mergulhe na análise de suas emoções, perscrute a profundidade de seu íntimo, buscando talvez uma tênue redenção. Estivemos aqui, em compasso de espera, e sua ausência no momento crucial selou seu destino conosco, como uma profecia autocumprida. Comunicamos-lhe que o perdão pelas suas transgressões foi concedido, mas neste momento, quem o absolverá da dor que você mesmo se infligiu, perante o tribunal da própria consciência?
A essência de tudo reside no sentimento, fio condutor da alma, como o labrys do destino. Quando ele floresceu, você escolheu o distanciamento, como um exílio voluntário. Suas ações nos fizeram verter lágrimas em momentos destinados ao sorriso e à celebração de cada vitória, maculando nosso ágape. Entregue ao egoísmo, você agora revela sua verdadeira índole, buscando o retorno àqueles que um dia relegou ao abandono, como um Sísifo fadado à repetição. É fundamental que você reconheça: toda emoção descontrolada é um perigo iminente, uma fúria a ser dominada.
E assim, o fim chega, inexorável como a lâmina do destino. A última moeda escorre de sua mão, selando uma jornada sem retorno para um lugar sombrio onde a paz jamais o encontrará. O tempo, esse tear implacável, teceu o fim da linha, sem chance de desfazê-lo. Que a dor pungente de suas escolhas ressoe em sua alma para sempre, sua única herança. A porta da esperança, antes um sonho distante, agora se fecha com o som pesado de eras perdidas, banindo-o para sempre de um lar que seu coração anseia, mas jamais alcançará. Resta apenas a fria e eterna solidão, um abismo sem fim onde a tortura da própria consciência o consumirá incessantemente.

DNonato  - 
Graduado  em História 

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