sábado, 5 de maio de 2018

Observando Atos dos Apóstolos

O  Livro de Atos dos Apóstolos durante algum período recebeu alguns  nomes que destacamos abaixo, sendo um Livro atribuído ao médico amigo de São Paulo Autor do terceiro evangelho presente  texto iremos fazer uma  reflexão  sobre autoria, aspecto histórico, o seu contexto  no tripé  didática,  teológico e a apologética  adotada no livro, como também iremos  fazer uma breve analise do livro ressaltando o papel de Pedro e de Paulo no contexto do Livro. Temos o conhecimento que o livro   foi considerado como um único livro junto com terceiro evangelho sendo a certidão de nascimento da Igreja[1].  Há uma breve introdução no início do texto, mas não se sabe ao certo quem está escrevendo e introdução, é possível notar claramente que o texto não está sendo iniciado aqui, mas é a continuação de outro já escrito. Ou seja, Atos não é um livro completo por si mesmo  (At.1.1-2; Lc.1.1-3). Contudo, um ponto relevante pode ser colocado aqui em relação a esses versículos entre o terceiro evangelho e Atos, pois  em nenhum dos documentos os autor revela-se claramente.
Há uma tradição que atribuir[2] os “Atos de todos os apóstolos” a Lucas. A validade dessa afirmação pode ser questionada pelo próprio documento, pois ele sugere que o livro foi escrito após a morte de Pedro, e que a partida de Paulo de Roma for a posterior a esse evento. Contudo, não é este o único documento que faz menção a Atos como sendo de Lucas. Irineu de Lion, em seu escrito[3], indicava sua aceitação de Lucas como autor de Atos. O mesmo fez Clemente de Alexandria (155-215d.C.), em Stromata, e Tertuliano (150-220d.C.), em Do Jejum. Contudo, o mais explícito dos testemunhos é feito por Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica), que parece ser o argumento final para as declarações externas a própria escritura. 
Seguindo o raciocínio, podemos dizer que o autor de ambos os livros é alguém de estimada a cultura e bom nível literário. Isso pode ser observado pelo conhecimento claro, da parte do autor, em relação a versão grega do do Primeiro Testamento, a Septuaginta. Sem contar no seu conhecimento sobre as condições políticas e sociais vigentes na época em que escreve. Outro detalhe importante é que tal personagem histórico não pode ser um dos discípulos de Cristo, visto que ele escreve a respeito das coisas  que foram transmitidas a ele pelas testemunhas oculares e ministros da palavra (Lc.1.1-3). Por outro lado, não é alguém alheio aos acontecimentos narrados, pois existe a indicação de que o autor esteve presente em alguns deles[4]. Observe que a narrativa normal acontece sempre na terceira pessoa do plural. Isso sugere que o narrador participou eventualmente de acontecimentos narrados no próprio livro. Ou seja, o autor acompanhou Paulo nesses acontecimentos. Logo, não pode ser nenhum dos personagens citadoso nesses trechos. Assim, como nem Lucas nem Tito são mencionados especificamente entre os companheiros de Paulo em Atos, presume-se que um dos dois tenha sido aquele que, anonimamente, se incluiu entre esse “nós”.  Portanto, se os argumentos anteriores são corretos não podemos ter outra opção senão considerar que Lucas, o “amado médico” (Cl.1.14) como o autor de tal documento. Aliás, é digno de nota que a autoria lucana não teria sido contestada até o advento das abordagens críticas do Novo Testamento no fim do século XVIII.
O livro teve alguns nomes[5] que podemos destacar:
·        simplemente Atos (Praxeis)
·        Atos de todos os apóstolos
·        Atos dos Santos Apóstolos (Praxeis ton hagion apostolon)
·        Atos dos Apóstolos
·         História do poder de Deus entre os Apóstolos
Sendo uma obra  que  tem um sentido,  uma  conexão  cronológica com o terceiro evangelho  e apresenta a missão da Igreja. Dedica cerca de sete capítulos à Igreja em Jerusalém, o restante (outros vinte e um capítulos) relata a expansão do Cristianismo até a cidade mais importante da época, Roma. A ênfase, portanto, é na missão aos Gentios – ainda que Paulo procure sempre os judeus em primeiro lugar (Rm.1.16).  Se percebe uma identificação com  Paulo[6],   e apresenta os aspectos como o evangelho chegou aos gentios duas vezes (10.1ss; 11.4ss); o decreto de Jerusalém sobre os Gentios três vezes (15.20, 29; 21.25). É interessante observar também que a missão da igreja foi essencialmente urbana (Jerusalém, Éfeso, Antioquia, Roma). O livro ainda apresenta  o Espirito Santo em ação.


  • Algumas observações em relação a data de sua origem:
1.     Não é mencionada nenhum material paulino em Atos. Portanto Atos foi escrito antes da circulação universal das carta de Paulo. Portanto Atos foi escrito antes do segundo século.
2.     Não é mencionada a Queda de Jerusalém. Isso aconteceu no ano 70d.C com General Tito. Portanto, Atos foi escrito em data anterior a esta.
3.     Não é mencionada a morte de Paulo. Isso sugere que Paulo ainda estava vivo enquanto Lucas coletava informações sobre os fatos mencionados. Se a tradição está correta, Paulo morreu debaixo do governo de Nero, que findou por volta do ano 68 d.C. Portanto, Atos foi escrito antes dessa data.
4.     Não é mencionada a perseguição de Nero contra os cristãos. Segundo a história, a perseguição de Nero, iniciada no ano de 64d.C., foi a mais cruel. Portanto, Lucas escreveu Atos antes de 64d.C.

O autor combina uma multiplicidade de intenções, todas elas envolvidos com aspectos característicos da narrativa. Podemos dizer que existem três grandes pilares em Atos: Didático, Teológico e Apologético.
 O Livro é o segundo volume de uma obra com intenções claramente didáticas (cf. Lc 1.1-4). Lucas intenta fortalecer e edificar Teófilo em sua fé por meio de um relato ordenado. No evangelho Lucas narra o ensino e a obra de Jesus, o Messias; em Atos, ele narra as obras do Cristo ressurreto por meio de Seus apóstolos, no poder do Espírito.
O tema do reino de Deus permeia os dois livros. Assim é que Atos começa com uma pergunta escatológica (1.6) e termina com vocabulário escatológico (28.31).
Outra ênfase teológica é o relacionamento da Igreja com o Reino de Deus, ou seja, como a mensagem do reino, soberanamente, deixou de ser um fenômeno predominantemente judeu e se tornou um movimento predominantemente gentílico, com seu centro se deslocando de Jerusalém para Roma. Ele demonstrou ao(s) seu(s) leitor(es) como Deus tencionava incluir em Seu reino um povo formado por judeus e gentios durante esta era
Assim como fizera no evangelho, Lucas vindicou esta mudança na operação divina em Atos narrando a oferta autorizada da mensagem cristã aos judeus, e sua rejeição por Israel, de Jerusalém a Roma, escancarando assim a porta aos Gentios. Assim, as palavras de Paulo e Barnabé aos judeus em Antioquia da Pisídia são significativas:
·        “Era necessário que a Palavra de Deus fosse proclamada primeiramente a vós; visto que a repudiais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios” [7]
Para os judeus incrédulos em Roma, Paulo citou Isaías 6.9-10, a passagem clássica de endurecimento e condenação nos quatro evangelhos, e disse:
·        “Fique sabido, portanto, que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios: eles a ouvirão”[8]
Outra ênfase é o papel preponderante do Espírito Santo como o fator motivador no progresso da mensagem do reino. Não foi o esforço humano, e sim o cumprimento da promessa de Jesus que possibilitou o dramático avanço do cristianismo até os confins da terra. Essa ênfase no Espírito Santo é vista ainda na continuidade dos ensinos proféticos de Jesus no livro de Atos:
 Alguns destaques  no Livro de Atos:
TEMATICA DE JESUS APRESENTADAS NO LIVRO DE ATOS
a)          A profecia do crescimento da Igreja, que seria vitoriosa contra Satanás (Mt 16.18)
b)          Jesus afirmou aos líderes religiosos que apenas um sinal seria dado a Israel, a Sua ressurreição (Mt 12.38-40; cf. Jo 2.19).
c)          Jesus declarou que a cidade de Jerusalém seria destruída, porque aquela geração de israelitas estava sob julgamento divino pelo pecado nacional de haver rejeitado o Messias (Lc 21.23-24).
d)          Lucas registrou o nascimento e o crescimento da nova entidade chamada igreja e a conquista dos domínios das trevas e do mal,
e)          A morte, ressurreição, e o ministério continuado de Jesus Cristo formam o contexto e a base do livro de Atos, sendo o centro da pregação dos apóstolos.
f)            Os apóstolos instaram com os judeus a que se arrependessem e se salvassem daquela “geração perversa” (At 2.40).
O autor   coloca em evidencia  as seguintes situações:
(1) O reino permaneceu em foco (1.3, 6; 28.31);
(2) Jesus não negou a restauração do reino a Israel (1.6-7);
(3) Jesus esboçou para os discípulos a sua tarefa até a época fixada pela autoridade do Pai (1.8);
(4) O ministério dos apóstolos, especialmente de Paulo, confirmou mais profunda e amplamente a rejeição do Messias por Israel e demonstrou um deslocamento da obra divina dentre os judeus para entre os gentios por meio da Igreja.

O autor  faz uma ligação a histórica com o propósito divino para o povo de Israel e para o mundo, que o acesso ao reino e o desfrute de suas bênçãos espirituais fosse partilhado por judeus e gentios em pé de igualdade até o tempo da restauração de Israel (cf. 1.6).
O livro faz uma comparação do ministério de Paulo e Pedro em evidencia,  demostrando a importância de ambos para Igreja  primitiva,  se percebe a narração da conversão de Paulo três vezes[9] sendo um evento de suma importância  na visão do autor. Eis um quadro[10] comparativo  entre Pedro e Paulo
Atos de Pedro
Atos de Paulo
3.1-11  Curou um paralítico de nascença
14.8-18  Curou um paralítico de nascença
5.15-16  Cria-se que sua sombra curava pes­soas.
19.11-12  Cria-se que seus lenços e aventais curavam pessoas.
9.32-35  Curou Enéias de paralisia
28.7-9  Curou o pai de Públio e outros (Malta)
9.36-41  Ressuscitou a Dorcas
20.9-12  Ressuscitou a Êutico
8.9-24  Repreendeu Simão, um ilusionista
13.6-11  Repreendeu Elimas, um feiticeiro

A possibilidade de que o Autor tenha escrito para demonstrar que o cristianismo não era religião nociva à pax romana pode-se depreender da afirmação dos judeus romanos sobre a fé cristã de que “em toda parte se fala contra ela” (28.22). O cristianismo já havia sido difamado em Roma antes de Paulo ali chegar.
Assim, Lucas indica cuidadosamente que as perseguições em Atos eram de origem religiosa, não política. Que haviam nascido da intolerância e incredulidade dos judeus, exceto em Éfeso e Filipos, onde os motivos foram puramente econômicos, embora relacionados a práticas religiosas.
Se levarmos em conta os dois volumes escritos por Lucas, descobrimos a declaração de inocência de Jesus por Pilatos foi registrada nada menos de três vezes (Lc 23.4, 14, 22). Em Pafos, o procônsul de Chipre, um homem de bom senso, abraçou a fé cristã (At 13.6-12). Em Filipos os magistrados se desculparam diante de Paulo e Silas por abuso de poder e violação de seus direitos de cidadania romana. Em Corinto, o procônsul da Acaia, Gálio, julgou Paulo e Silas inocentes de qualquer ofensa contra a lei romana (18.12-17). Em Éfeso, alguns dos oficiais da província eram amigos de Paulo e o escrivão da cidade o absolveu da acusação de sacrilégio (19.31, 35-41). Na Palestina os governadores Félix e Festo consideraram Paulo inocente das acusações contra ele levantadas, e o rei Agripa II concordou que Paulo “poderia ser libertado, se não houvesse apelado a César” (24.1-26.32).

O autor coloca em evidencia  na obra a origem da Igreja dando uma ênfase a sua origem no dia de Pentecoste,  na presença de  Pedro  como um dos lideres  até o capitulo 15, a  eleição e o martírio de Estevão[11] e pregação de Felipe ao ministro da Rainha Etíope[12]   a importância  da expansão da Igreja pelos confins da Terra.  O texto vai nos apresenta o papel do Espirito como fonte que vai guiar a Igreja[13]
A leitura do Livro de Atos  deve ser posterior a leitura a  de um dos Evangelhos  de preferencia a Leitura de Lucas, pois como se  perceber e até se defende como um único livro felicitará o entendimento abaixo apresentamos um quadro comparativo
Das viagens de Paulo e  as suas cartas.
  



[1] Atos 2
[2] Canon Muratoriano (180d.C)
[3] escrito “Adversus Heresiae“,
[4] At.16.8-10;  20.5-15; 21.1-18 e 27.1-28.16
[5] Orígenes, Tertuliano, Dídiomo, Hilário, Eusébio  Epifânio Atanásio, Cipriano, Eusébio, Ciril, Teodoret, Orígenes, Tertuliano e Hilário.
[6]  Narra três vezes (9.1ss; 22.3ss; 26.2ss) a conversão de São Paulo
[7] Atos 13, 46
[8] Atos 28,.28.
[9] Ato  9, 22, 26
[10] fonte: Carlos Osvaldo Pinto, Apostila de TBNT
[11]  Atos 6,6,;  7,55
[12]  Atos 8,29
[13] Atos  2.1-4; 6.3; 11. 28; 13.2; 15.28; 16.7; 21.11.


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