sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Questão do sentimento e o Respeito por si mesmo - XIV

Ontem te vi chorar de novo. Ficamos ali, parados, apenas contemplando o silêncio do teu olhar molhado, tentando dizer, sem palavras, que eu também não sabia onde guardar tanta emoção. Não havia resposta exata, apenas atitude — no encontro dos nossos lábios, no abraço desesperado pedindo um pouco de afeto — para dar algum sentido a essa vida confusa que insiste em nos afastar e nos proibir de sermos, simplesmente, um homem e uma mulher.
Sofrer por amar e não ser amado é algo que todo ser humano experimenta em sua vida em algum momento. Sabemos, em nossos corpos — pra não dizer na alma —, o que carregamos. Somos inteiros divididos em dois mundos. Somos parte da mesma essência, mas obrigados, por nossas escolhas, a seguir caminhos opostos: eu, rumo à solidão por escolha; você, em direção a uma prisão sem muros.

Entre nós dois não há inocentes. Também não há culpados. Somos o que somos: humanos. Experimentamos um envolvimento de corpos, um encontro por prazer, por desejo de encontrar um instante de felicidade. Nosso sentir, nosso ser, não podem ser reduzidos a uma aventura ou a um fogo em carpela. Somos frágeis — e em nossa fragilidade, um vulcão nos consome.

Esse vulcão nos incendeia, nos toma por inteiro, nos faz sofrer por querermos estar juntos por mais que minutos ou horas. Queremos uma eternidade vivida em um dia — mesmo que isso signifique o fim do mundo amanhã. Na tentativa de evitar esse fim, tu revelas tuas imaturidades, tua “chicha” — e sabes, no fundo, que o que temos é algo mais.

Uma carta de uma amiga me veio à mente:

"Certa vez, tive um sonho de ser feliz. Esse sonho me levou ao encontro de uma pessoa que me fez sentir algo maior que a própria felicidade, por certo tempo. O castelo construído na base de um sentimento real foi se revelando ilusão… e, aos poucos, desmoronou.
"Amo-te há tanto tempo… mas também te odeio, pelas poucas vezes em que trouxeste o sofrimento à tona. No meu coração, na minha vida, só um desejo: Te fazer feliz. Sei que cheguei perto. Naquela loucura vivida, naquela entrega, fui inteira.
"É muito estranho. Destruí meu único refúgio, que era você. Nos tornamos amargos, tristes, e precisamos reconhecer — no brilho dos olhos, no sorriso escondido, nos momentos secretos — que ainda precisamos um do outro, para cessar a dor acumulada de tantas desventuras."

Somos como crianças que não sabem onde esconder o rosto depois de aprontar. Somos imaturos, tolos nas atitudes. Mas, como diz o poeta: 

"É preciso perder um pouco para ganhar o inteiro". 

E tudo que fizeste… foi perder toda a graça que tinhas, por alguns minutos.
Espero te reencontrar… Mesmo destruídos, mesmo sufocados por essa utopia do sentimento. Talvez, nesse reencontro, possamos encontrar um pouco daquilo que perdemos.E tudo que fizeste… foi perder toda a graça que tinhas, por alguns minutos...



Daniel Nonato – Teólogo do cotidiano, P em História

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