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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Símbolo dos Apóstolos, Credo Apostólico

 
Em nossa caminhada  construímos dois textos que recomendando  a leitura   o texto  sobre os dogmas que foi provocador do texto Credo Niceno-Constantinopolitano   e o segundo que  nos provocou  na  produção sobre  o símbolo dos Apóstolos 

Temos consciência  que  Credo Apostólico, também  conhecido  como Símbolo  dos Apóstolos  é a pedra angular da fé cristã, o fio que conecta os discípulos de Cristo de ontem e de hoje, uma memória viva transmitida oralmente e celebrada liturgicamente desde os primeiros séculos da Igreja. Em um tempo de dispersão pelo Império Romano, quando catecúmenos buscavam conhecer a fé verdadeira, esse resumo se tornou guia seguro. Padres como Santo Irineu de Lião, Tertuliano e Orígenes registraram suas palavras, preservando o núcleo cristológico e trinitário, e denunciando heresias, superstições e usos da fé como conveniência ou poder. O Credo nasceu assim como ferramenta pastoral, teológica e profética, capaz de orientar a vida dos fiéis e confrontar estruturas humanas de dominação.

Ao proclamarmos: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”, não declaramos apenas uma ideia, mas reconhecemos Aquele cuja ação sustenta toda existência. Como ecoa o Salmo 104: “Senhor, quão numerosas são tuas obras!”, cada criatura revela a grandeza do Criador. Jesus, nos Evangelhos, confirma que o Pai provê para todas as criaturas: “Olhem para os pássaros do céu… e para os lírios do campo” (Mt 6,26-30; Lc 12,22-31). A criação não é abstrata; é espaço social e cultural, chamado ao cuidado mútuo, à justiça e à solidariedade. Qualquer fé que se reduza a mercadoria ou promessa de sucesso pessoal é uma distorção do mistério revelado.

Quando dizemos: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”, mergulhamos no coração da cristologia. Os Evangelhos Sinóticos insistem em sua encarnação, ministério, paixão e ressurreição. Marcos 8,31 nos lembra: “É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas… e que seja morto e ressuscite depois de três dias”, paralelo confirmado por Mateus 16,21 e Lucas 9,22. A psicologia nos permite sentir a angústia de Jesus no Getsêmani, o medo profundo diante do sofrimento, enquanto a sociologia evidencia sua crítica às estruturas de poder, sua denúncia da hipocrisia e da exploração política. Ele confrontou sistemas que ainda hoje se reproduzem em clericalismo, teologias de prosperidade e dominação.

“Concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria” revela a grandeza do divino na humildade. O Concílio de Éfeso (431) afirma que a Encarnação não é alegoria, mas realidade histórica e teológica: Deus se faz humano para resgatar a humanidade do pecado e nos mostrar que a verdadeira grandeza se encontra na entrega e na obediência. Maria, figura de receptividade e comunhão ativa, nos ensina que a fé não é instrumento de ascensão pessoal ou sucesso material.

Ao confessarmos: “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”, confrontamos a vulnerabilidade humana e a injustiça histórica. Mateus 27, Marcos 15 e Lucas 23 narram uma morte planejada pelas tensões políticas e religiosas do século I. Esta realidade desafia qualquer teologia que prometa sucesso imediato ou prosperidade: a fé verdadeira caminha com o sofrimento, denuncia a opressão e inspira resistência ética. A antropologia social nos lembra que toda comunidade é chamada a proteger os vulneráveis e confrontar tiranias.

A afirmação de que Cristo “desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus” é escatológica e ética. A ressurreição (Mt 28,1-10; Mc 16,1-8; Lc 24,1-12) declara que a morte, a injustiça e a opressão não têm a última palavra. A ascensão revela que o verdadeiro poder é do Amor de Deus, não da autoridade humana, e desafia qualquer fé mercantilizada ou espetáculo clerical.

“Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos” nos chama à vida comunitária. O Espírito sustenta, guia e inspira a transformação, enquanto a comunhão dos santos nos lembra que a fé é interdependência, solidariedade e denúncia. O Concílio Vaticano II, em Gaudium et Spes (n. 63-66), e o Papa Francisco, em Evangelii Gaudium (n. 28-30), reforçam que a missão da Igreja é engajada no mundo real, atuante na justiça social e crítica às estruturas de dominação.

Ao concluir com a remissão dos pecados, a ressurreição da carne e a vida eterna, afirmamos que a fé é transformação ética, psicológica e espiritual: a liberdade e a moralidade humanas encontram seu sentido na fidelidade ao Amor divino, não na acumulação de riqueza ou poder. A vida humana é digna, o perdão cura, e a esperança transcende a morte.

O Credo Apostólico é assim uma profissão de fé viva, profética e histórica. Ele nos convoca a caminhar com consciência, agir com justiça, denunciar o clericalismo e as distorções da fé, e transformar o mundo com a força do Amor de Deus. Cada recitação é resistência, cada gesto de amor é cumprimento, e cada denúncia de injustiça é eco da Palavra viva que sustenta a Igreja desde os primeiros séculos até hoje.

Oremos sempre: Credo Apostólico/ Símbolo dos Apóstolos 

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.  E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo,  na Santa Igreja Católica,na comunhão dos santos,na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, e na vida eterna.

Amém.

DNonato - Teólogo do Cotidiano