sábado, 3 de maio de 2025

Um breve olhar sobŕe João 14, 6-14

As palavras de Jesus no Evangelho de João 14,6-14 são um convite à fé e à confiança radical. Elas nos tocam no mais profundo da nossa condição humana: somos seres que caminham, buscam a verdade e desejam a vida. Jesus, ao afirmar “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, revela-se como a resposta definitiva às aspirações mais fundamentais do coração humano.l


Vivemos numa era de muitos caminhos, múltiplas vozes e promessas de felicidade. No entanto, tantos se encontram desorientados, feridos pela cultura do individualismo e da pressa, sem saber para onde ir. Jesus não aponta apenas o caminho; Ele é o próprio Caminho. Segui-Lo é trilhar a estrada da misericórdia, da justiça e da doação. Como dizia Santo Inácio de Antioquia, “Quem caminha em Cristo não se perde”.

O Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (n. 10), afirma que somente em Deus o homem encontra a verdadeira resposta para as angústias do seu coração. Assim, Jesus, sendo o Caminho, nos reconduz ao Pai e à nossa própria identidade como filhos e filhas de Deus.

O Documento de Aparecida (n. 278) retoma essa ideia ao afirmar que o discipulado de Jesus é uma “caminhada contínua de conversão” que nos tira de uma fé superficial e nos conduz à maturidade espiritual e ao compromisso com os mais pobres.

A verdade que Jesus é e comunica não é uma ideologia, mas uma Pessoa. Em tempos marcados pelo relativismo e fake news, a verdade de Cristo resplandece como luz que liberta. Como Ele mesmo disse: “A verdade vos libertará” (Jo 8,32). Essa verdade não aprisiona, mas conduz à liberdade autêntica e à dignidade.

Papa Bento XVI, em sua encíclica Caritas in Veritate, lembra que “sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo” (n. 3). E o Papa Francisco complementa: “A verdade não se impõe pela força, mas pela atração da sua beleza” (Evangelii Gaudium, n. 42).

Essa verdade tem consequências sociais: nos impele a denunciar injustiças, combater a corrupção, e anunciar que toda vida humana tem um valor sagrado. A fé cristã, enraizada na verdade de Jesus, exige coerência e coragem profética.

Mais do que sobreviver, queremos viver com plenitude, com sentido, alegria e esperança. Jesus se apresenta como a Vida que supera o medo, o pecado e a morte. Ele nos convida a viver uma vida em abundância (Jo 10,10), marcada pelo amor ao próximo e pela comunhão com o Pai.

Nosso mundo vive crises profundas: vidas descartadas, juventudes sem perspectivas, idosos abandonados, povos inteiros marginalizados. A vida que Jesus nos dá é um dom que desafia essas realidades de morte. Como ensina o Documento de Medellín (n. 1), “a vida não pode florescer onde reinam a injustiça e a opressão”.

A vida em Cristo é também escatológica: aponta para o futuro definitivo no seio do Pai. Mas começa já aqui, em gestos de solidariedade, perdão, e justiça. O testemunho dos santos, mártires e missionários é prova disso: viveram com intensidade porque estavam enraizados na vida verdadeira.

O pedido de Filipe – “Mostra-nos o Pai” – revela o anseio de todos nós por ver Deus, tocar o sagrado. Jesus responde: “Quem me vê, vê o Pai”. Em Jesus, Deus se faz próximo, acessível, visível. Ele nos revela um Deus de ternura, de proximidade, de compaixão.

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (n. 88), afirma: “Jesus nos mostra um Deus que nos ama com entranhas de misericórdia. Vê com os olhos, ama com o coração, cura com as mãos, caminha com os pés, e nos ensina a viver como irmãos”.

Essa revelação de Deus em Cristo também nos revela quem somos: não apenas criaturas, mas filhos no Filho, chamados à comunhão. O rosto humano de Deus nos compromete com a dignidade de todos os rostos humanos, especialmente os desfigurados pela dor, pobreza ou abandono.

Ao final do Evangelho, Jesus afirma que os que crerem Nele farão obras maiores. Essa promessa nos responsabiliza: somos chamados a dar continuidade à sua missão. Não por mérito nosso, mas porque Ele age em nós e através de nós. Ele nos envia para curar, perdoar, anunciar, transformar.

A oração em seu nome, como Ele promete, não é um ato mágico, mas comunhão de vontades: quanto mais estivermos unidos a Ele, mais nossas ações refletirão a vontade do Pai. 

Seguir Jesus é viver plenamente e a afirmação “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” é uma bússola espiritual para tempos de confusão. É convite à fé viva, ao seguimento comprometido, à esperança ativa.

  1. Como Caminho, Jesus nos dá direção, propósito e missão.
  2. Como Verdade, Ele nos revela Deus e a nós mesmos, libertando-nos de tudo que nos aliena.
  3. Como Vida, Ele nos dá plenitude já agora e eternamente.

Em um mundo que clama por sentido, justiça e esperança, somos chamados a anunciar e testemunhar esse Jesus – caminho que acolhe, verdade que liberta, vida que transforma. Que a nossa vida seja um reflexo da vida d’Aquele que nos conduz ao Pai.


DNonato

Leigo Católico, Graduado  em História  e Teólogo  inserido no meio do povo.

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