sábado, 3 de maio de 2025

O vermelho no Brasil não é o mesmo dos EUA


Acredito que a camisa vermelha da Seleção Brasileira seja mais uma estratégia para agradar aos republicanos dos Estados Unidos do que à esquerda brasileira. Para quem não sabe, nos EUA não existe a mesma concepção de "direita" e "esquerda" como conhecemos no Brasil. Lá, os dois principais partidos são o Partido Republicano, representado pela cor vermelha, e o Partido Democrata, associado à cor azul.

O Partido Republicano é mais conservador, defensor do livre mercado, dos valores tradicionais e de uma política externa nacionalista — posições associadas à direita. Já o Partido Democrata defende pautas sociais mais inclusivas, maior intervenção do Estado e políticas ambientais — algo próximo da centro-esquerda no nosso contexto.

No Brasil, as cores carregam outras leituras. O vermelho sempre foi ligado à esquerda, enquanto o verde e amarelo — que deveriam representar o país como um todo — foram apropriados pela direita, especialmente durante as últimas campanhas políticas. A camisa da Seleção, antes símbolo de união e paixão nacional, passou a ser vista como bandeira ideológica. Uma deformação de sua missão original.

Mas há uma ironia histórica nessa disputa: o nome "Brasil" vem do pau-brasil, árvore cuja seiva produzia tinta vermelha. O vermelho, portanto, não é uma cor partidária — é uma cor fundadora. Está na origem do nosso nome, da nossa história. Talvez a nova camisa vermelha represente, ainda que sem intenção política direta, uma tentativa de resgatar essa identidade.

E se no Brasil o vermelho causa estranhamento, nos EUA ele pode ter o efeito oposto. É bom lembrar que a Seleção já tem há décadas uma camisa azul — que, aos olhos americanos, pode se alinhar simbolicamente aos democratas. Agora, com a vermelha, fecha-se o ciclo cromático: azul e vermelho, democratas e republicanos. Uma escolha que, no fim das contas, não parece inocente.

Em um país onde o futebol cresce como mercado e onde os símbolos são cuidadosamente lidos, essa camisa vermelha pode funcionar como um aceno sutil ao eleitorado de Trump — ao conservador médio americano que se vê representado no vermelho republicano.

No final, enquanto ideologias disputam cor e sentido, a Nike segue fazendo o que sempre soube: vender camisa. A questão ideológica se resolve nas urnas.


Por DNonato

Graduado em História

Torcedor do São Paulo, ainda consegue vestir a camisa amarela da Seleção sem nojo, mas prefere a azul pra não ser confundido com negacionista da história.

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