Amigos
todos que conhecem esse espaço onde compartilhamos aquilo que
gostamos, defendemos e até mesmo que nos toca. Peço licença ao
site; http://www.ihu.unisinos.br para publicar integra
a entrevista cedida pelo Papa Francisco, falando do Comunismo e de
outras coisas que são tabus para um grupo que se sente melhor ou mais
cristão que os outros. Na minha época de faculdade,
participando de um simpósio que falei sobre a religiosidade cristã teve um
colega que me perguntou sobre a revolução francesa, a dualidade do
Comunismo e do Cristianismo. Respondi que o a
proposta da revolução francesa não entrava em conflito com o evangelho ou
que Max não estava inaugurando um pensamento novo, pois nós os cristãos
devíamos viver a proposta do evangelho,
naquele período ainda citei o Bispo Adriano da Diocese de
Nova Iguaçu que falava de um projeto onde a Fraternidade nos obriga ir
de encontro com outros em especial das n necessidades reais
neste plano. Recordei um texto da Primeira Carta de São João 3,17
- Quem
possuir bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe
fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?
Foi
um escândalo e por fim foi encerrada minha participação neste dia.
Agora me vem Papa Francisco com mesmo discurso. Acompanhe a entrevista na
integra e tire suas conclusões.
DNonato
''O
comunismo nos roubou a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã.''
O encontro é em Santa
Marta, à tarde. Uma rápida verificação, e um guarda suíço me faz sentar em
uma pequena sala de estar.
A reportagem é de Franca
Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 29-06-2014. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Seis poltroninhas verdes de
veludo um pouco desgastado, uma mesinha de madeira, um televisor daqueles
antigos, com a "barriga". Tudo em perfeita ordem, o mármore polido
lucidamente, alguns quadros. Poderia ser uma sala de espera paroquial, uma
daquelas a que se vai para pedir um conselho ou para fazer os documentos de
casamento.
Francisco entra
sorrindo: "Finalmente! Eu a leio e agora a conheço". Eu coro.
"Eu, ao contrário, o conheço e agora o escuto". Ele ri. Ri com gosto,
o papa, como fará outras vezes no decorrer de mais de uma hora de conversa
livre.
Roma,
com os seus males de megalópole, a época de mudanças que enfraquecem a
política; o esforço para defender o bem comum; a reapropriação por parte da
Igreja dos temas da pobreza e da partilha ("Marx não inventou
nada"); a desolação diante da degradação das periferias da alma,
escorregadio abismo moral em que se abusa da infância, tolera-se a mendicância,
o trabalho infantil e, não por último, a exploração de meninas prostitutas com
menos de 15 anos. E os clientes que poderiam ser seus avós;
"pedófilos": o papa os define justamente assim.
Francisco fala,
explica, se interrompe, retorna. Paixão, doçura, ironia. Um fio de voz, parecem
ninar as palavras. As mãos acompanham o raciocínio, entrelaça-as, solta-as,
parecem desenhar geometrias invisíveis no ar. Está em ótima forma, apesar dos
rumores sobre a sua saúde.
É a hora do jogo entre a
Itália e o Uruguai. Santo Padre, por quem o senhor torce?
Ah, eu, por ninguém, de
verdade. Prometi à presidente do Brasil (Dilma Rousseff)
que me manteria neutro.
Comecemos por Roma?
Mas você sabe que eu não
conheço Roma? Pense que eu vi a Capela Sistina pela
primeira vez quando participei do conclave que elegeu Bento XVI (2005).
Nunca estive nem mesmo nos museus. O fato é que, como cardeal, eu não vinha
muitas vezes. Eu conheço Santa Maria Maior, porque sempre ia lá. E
depois São Lourenço Fora dos Muros, onde eu fui para crismas,
quando estava o padre Giacomo Tantardini. Obviamente, conheço
a Praça Navona, porque sempre me hospedei na Via della Scrofa, lá
atrás.
Há algo de romano no
argentino Bergoglio?
Pouco ou nada. Eu sou mais
piemontês, são essas as raízes da minha família de origem. No entanto, estou
começando a me sentir romano. Pretendo ir visitar o território, as paróquias.
Estou descobrindo pouco a pouco esta cidade. É uma metrópole belíssima, única,
com os problemas das grandes metrópoles. Uma cidade pequena possui uma
estrutura quase unívoca; uma metrópole, ao contrário, inclui sete ou oito
cidades imaginárias, sobrepostas, em vários níveis. Também níveis culturais.
Penso, por exemplo, nas tribos urbanas dos jovens. É assim em todas as
metrópoles. Em novembro, faremos em Barcelona um congresso
dedicado justamente à pastoral das metrópoles. Na Argentina, foram
promovidos intercâmbios com o México. Descobrem-se tantas culturas
cruzadas, mas não tanto por causa das migrações, mas porque se trata de
territórios culturais transversais, feitos de pertencimentos próprios. Cidades
nas cidades. A Igreja deve saber responder também a esse fenômeno.
Por que, desde o início, o
senhor quis enfatizar tanto a função de bispo de Roma?
O primeiro serviço de Francisco é
este: ser o bispo de Roma. Ele só tem todos os títulos do papa,
Pastor universal, Vigário de Cristo etc., porque é bispo de Roma. É a escolha
primeira. A consequência do primado de Pedro. Se, amanhã, o papa
quisesse ser bispo de Tivoli, é claro que me expulsariam.
Há 40 anos, com Paulo VI, o
Vicariato promoveu o congresso sobre os males da Roma. Emergiu o quadro de uma
cidade em que aqueles que tinham muito levavam a melhor, e aqueles que tinha,
pouco, a pior. Hoje, na sua opinião, quais são os males desta cidade?
São os das metrópoles,
como Buenos Aires. Quem aumenta os benefícios, e quem é
cada vez mais pobre. Eu não estava ciente do congresso sobre os males da Roma.
São questões muito romanas, e eu, na época, tinha 38 anos. Sou o primeiro papa
que não participou do Concílio e o primeiro que estudou teologia na
pós-Concílio,, e nesse tempo, para nós, a grande luz era Paulo VI.
Para mim, a Evangelii nuntiandi continua sendo
um documento pastoral nunca superado.
Existe uma hierarquia de
valores a ser respeitada na gestão da coisa pública?
Certamente. Proteger sempre
o bem comum. A vocação para qualquer político é essa. Um conceito amplo que
inclui, por exemplo, a proteção da vida humana, a sua dignidade. Paulo
VI costumava dizer que a missão da política continua sendo uma das
formas mais altas de caridade. Hoje, o problema da política – eu não falo só
da Itália, mas de todos os países, o problema é mundial – é que ela
se desvalorizou, arruinada pela corrupção, pelo fenômeno dos subornos.
Lembro-me de um documento que os bispos franceses publicaram há 15 anos. Era
uma carta pastoral que se intitulava "Reabilitar a política" e
abordava justamente esse assunto. Se não houver serviço na base, não se pode
entender nem mesmo a identidade da política.
O senhor disse que a
corrupção tem cheiro de podridão. Também disse que a corrupção social é o fruto
do coração doente e não só de condições externas. Não haveria corrupção sem
corações corruptos. O corrupto não tem amigos, mas idiotas úteis. Pode nos explicar
isso melhor?
Eu falei dois dias seguidos
desse assunto, porque eu comentava a leitura da Vinha de Nabot.
Gosto de falar sobre as leituras do dia. No primeiro dia, abordei a
fenomenologia da corrupção; no segundo dia, de como acabam os corruptos. O corrupto
não tem amigos, mas apenas cúmplices.
De acordo com o senhor,
fala-se muito da corrupção porque os meios de comunicação insistem demais no
assunto ou porque efetivamente se trata de um mal endêmico e grave?
Não, infelizmente, é um
fenômeno mundial. Há chefes de Estado na prisão justamente por causa disso. Eu
me interroguei muito e cheguei à conclusão de que muitos males crescem
principalmente durante as mudanças epocais. Estamos vivendo não tanto uma época
de mudanças, mas uma mudança de época. E, portanto, se trata de uma mudança de
cultura. Justamente nesta fase, emergem coisas desse tipo. A mudança de época
alimenta a decadência moral, não só na política, mas também na vida financeira
ou social.
Os cristãos também não
parecem brilhar por testemunho...
É o ambiente que facilita a
corrupção. Não digo que todos sejam corruptos, mas acho que é difícil
permanecer honesto na política. Falo sobre todos os lugares, não da Itália.
Eu também penso em outros casos. Às vezes há pessoas que gostariam de deixar as
coisas claras, mas depois se encontram em dificuldades, e é como se fossem
fagocitadas por um fenômeno endêmico, em vários níveis, transversal. Não porque
seja a natureza da política, mas porque, em uma mudança de época, os estímulos
em direção a um certo desvio moral se tornam mais fortes.
O senhor se assusta mais com
a pobreza moral ou material de uma cidade?
Ambas me assustam. Por
exemplo, eu posso ajudar um faminto para que não tenha mais fome, mas, se ele
perdeu o trabalho e não encontra mais um emprego, isso tem a ver com a outra
pobreza. Ele não tem mais dignidade. Talvez ele pode ir à Cáritas e
levar para casa uma cesta básica, mas experimenta uma pobreza gravíssima que
arruína o coração. Um bispo auxiliar de Roma me contou que
muitas pessoas vão ao restaurante popular e, às escondidas, cheias de vergonha,
levam comida para casa. A sua dignidade progressivamente se empobreceu, vivem
em um estado de prostração.
Pelas ruas consulares de
Roma, veem-se menininhas de apenas 14
anos muitas vezes forçadas à se prostituir na indiferença geral, enquanto, no metrô, assiste-se à mendicância das crianças. A Igreja ainda é fermento? O senhor se sente impotente como bispo diante dessa degradação moral?
anos muitas vezes forçadas à se prostituir na indiferença geral, enquanto, no metrô, assiste-se à mendicância das crianças. A Igreja ainda é fermento? O senhor se sente impotente como bispo diante dessa degradação moral?
Eu sinto dor. Sinto uma
enorme dor. A exploração das crianças me faz sofrer. Na Argentina também é a
mesma coisa. Para alguns trabalhos manuais, são usadas as crianças porque têm
as mãos menores. Mas as crianças também são exploradas sexualmente em hotéis.
Uma vez, avisaram-me que, em uma rua de Buenos Aires, havia menininhas
prostitutas de 12 anos. Eu me informei, e efetivamente era assim. Isso me fez
mal. Mas ainda mais por ver que eram carros de alta cilindrada dirigidos por
idosos que paravam. Podiam ser seus os avós. Faziam com que a menina subisse e
lhe pagavam 15 pesos, que depois serviam para comprar os restos da droga, o
"pacote". Para mim, essas pessoas que fazem isso às meninas são
pedófilos. Isso também acontece em Roma. A Cidade Eterna,
que deveria ser um farol no mundo, é espelho da degradação moral da sociedade.
Acho que são problemas que são resolvidos com uma boa política social.
O que a política pode fazer?
Responder de modo claro. Por
exemplo, com serviços sociais que levam as famílias a entender, acompanhando-as
para sair de situações pesadas. O fenômeno indica uma deficiência de serviço
social na sociedade.
Mas a Igreja está
trabalhando muito...
E deve continuar a fazê-lo.
Ela precisa ajudar as famílias em dificuldades, um trabalho em saída que impõe
o esforço comum.
Em Roma, cada vez mais jovens
não vão à igreja, não batizam os filhos, não sabem nem mesmo fazer o sinal da
cruz. Que estratégia é preciso para inverter essta tendência?
A Igreja deve sair pelas
ruas, buscar as pessoas, ir às casas, visitar as famílias, ir às periferias.
Não ser uma Igreja que só recebe, mas que oferece.
E os párocos não devem ficar
penteando as ovelhas...
(Risos) Obviamente. Estamos
em um momento de missão há cerca de uma década. Devemos insistir.
O senhor se preocupa com a
cultura da desnatalidade na Itália?
Acho que se deve trabalhar
mais pelo bem comum da infância. Formar uma família é um compromisso. Às vezes,
o salário não é suficiente, não se chega ao fim do mês. Tem-se medo de perder o
trabalho ou de não poder mais pagar o aluguel. A política social não ajuda.
A Itália tem uma taxa baixíssima de natalidade. Na Espanha é
o mesmo. A França vai um pouco melhor, mas ela também é baixa. É
como se a Europa tivesse se cansado de ser mãe, preferindo ser
avó. Muito depende da crise econômica e não só de um desvio cultural marcado
pelo egoísmo e pelo hedonismo. Outro dia, eu lia uma estatística sobre os
critérios para as despesas da população em nível mundial. Depois da
alimentação, do vestuário e dos medicamentos, três itens necessários, seguem a
cosmética e as despesas com animais de estimação.
Os animais importam mais do
que as crianças?
Trata-se de outro fenômeno
de degradação cultural. Isso porque a relação afetiva com os animais é mais
fácil, mais programável. Um animal não é livre, enquanto ter um filho é uma
coisa complexa.
O Evangelho fala mais aos
pobres ou aos ricos para convertê-los?
A pobreza está no centro do
Evangelho. Não se pode entender o Evangelho sem entender a pobreza real,
levando em conta que também existe uma pobreza belíssima do espírito: ser pobre
diante de Deus, porque Deus enche você. O Evangelho se volta indistintamente
aos pobres e aos ricos. Ele fala tanto de pobreza quanto de riqueza. De fato,
não condena os ricos; no máximo as riquezas, quando se tornam objetos
idolatrados. O deus dinheiro, o bezerro de ouro.
O senhor passa a imagem de
ser um papa comunista, pauperista, populista. A revista The
Economist, que lhe dedicou uma capa, afirma que o senhor fala como Lênin. O
senhor se reconhece em tudo isso?
Eu digo apenas que os
comunistas nos roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza
está no centro do Evangelho. Os pobres estão no centro do Evangelho.
Tomemos Mateus 25, o protocolo pelo do qual seremos julgados: tive
fome, tive sede, estive na prisão, estava doente, nu. Ou olhemos para as Bem-aventuranças,
outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo isso é comunista. Sim, como não,
20 séculos depois... Então, quando eles falam, se poderia dizer a eles: mas
vocês são cristãos! (risos)
Se o senhor me permite uma
crítica...
Claro...
O senhor talvez fala pouco
das mulheres e, quando fala, aborda o assunto apenas do ponto de vista da
maternidade, da mulher esposa, da mulher mãe etc. Porém, as mulheres já lideram
Estados, multinacionais, exércitos. Na Igreja, na sua opinião, que lugar as
mulheres ocupam?
As mulheres são a coisa mais
bela que Deus fez. A Igreja é mulher. Igreja é uma palavra feminina. Não se
pode fazer teologia sem essa feminilidade. Sobre isso, você tem razão, não se
fala o suficiente. Estou de acordo que é preciso trabalhar mais sobre a teologia
da mulher. Eu já disse isso, e se está trabalhando nesse sentido.
O senhor não entrevê uma
certa misoginia de fundo?
O fato é que a mulher foi
tirada de uma costela... (ri com gosto). Estou brincando, é uma piada. Estou de
acordo que se deve aprofundar mais a questão feminina, senão não se pode
entender a própria Igreja.
Podemos esperar do senhor
decisões históricas, tipo uma mulher como chefe de dicastério, não digo do
clero...
(Risos) Bem, muitas vezes os
padres acabam sob a autoridade das perpétuas...
Em agosto, o senhor vai para
a Coreia. É a porta para a China? O senhor está apontando para a Ásia?
Vou ir à Ásia duas vezes em
seis meses. À Coreia, em agosto, para encontrar os jovens
asiáticos. Em janeiro, ao Sri Lanka e às Filipinas.
A Igreja na Ásia é uma promessa. A Coreia representa muito,
tem às suas costas uma história belíssima, por dois séculos não teve padres, e
o catolicismo avançou graças aos leigos. Também houve mártires. Quanto à China,
trata-se de um desafio cultural grande. Grandíssimo. E depois há o exemplo
de Matteo Ricci, que fez tanto bem...
Aonde está indo a Igreja de
Bergoglio?
Graças a Deus, eu não tenho
nenhuma Igreja, eu sigo a Cristo. Não fundei nada. Do ponto de
vista do estilo, não mudei de como eu era em Buenos Aires. Sim,
talvez alguma coisinha, porque se deve, mas mudar na minha idade teria sido
ridículo. Sobre o programa, ao contrário, eu sigo aquilo que os cardeais
pediram durante as congregações gerais antes do conclave. Eu vou nessa direção.
O Conselho dos oito cardeais, um organismo externo, nasce daí. Havia sido
pedido para que ajudasse a reformar a Cúria. O que, aliás, não é fácil, porque
se dá um passo, mas depois surge que é preciso fazer isto ou aquilo, e, se
antes havia um dicastério, depois se tornam quatro. As minhas decisões são o
resultado das reuniões pré-conclave. Não fiz nada sozinho.
Uma abordagem democrática...
Foram decisões dos cardeais.
Eu não sei se é uma abordagem democrática, eu diria mais sinodal, mesmo que a
palavra não seja apropriada para os cardeais.
O que o senhor deseja aos
romanos pelos patronos São Pedro e São Paulo?
Que continuem sendo bravos.
São tão simpáticos. Eu vejo isso nas audiências e quando vou às paróquias. Eu
lhes desejo que não percam a alegria, a esperança, a confiança, apesar das
dificuldades. O romanaccio [dialeto romano] também é bonito.
Wojtyla tinha aprendido a
dizer: Volemose bene, damose da fa'. O senhor aprendeu algumas
frases em romanesco?
Por enquanto, pouco. Campa
e fa' campa'! (risos).
Festa dos Apóstolos
Pedro e Paulo ; 29 de junho de 2014
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.