Mais do que um episódio pontual, é a repetição de um velho padrão de subserviência das elites brasileiras. Da carta régia de 1808 ao WhatsApp de 2025, o roteiro é o mesmo: elites locais buscando aprovação do poder estrangeiro enquanto dizem agir pelo bem do país.
Desde o período colonial, essa dinâmica está entranhada em nossa história. A elite colonial sempre resistiu à independência, temendo perder privilégios garantidos pela metrópole portuguesa. Após a independência, no século XIX, foi a vez da submissão à Inglaterra, que ditava as regras econômicas e políticas da jovem nação. A elite brasileira, então, passou a babar por essa potência estrangeira, abrindo mão de soberania para manter seus interesses e o status quo.
A Proclamação da República, em 1889, longe de representar uma ruptura com esse padrão, foi um movimento liderado pelas elites militares e civis que continuaram a preservar interesses estrangeiros e oligárquicos. Mais do que libertar o país, consolidou um sistema que manteve a dependência econômica e política do Brasil em relação a potências externas, especialmente os Estados Unidos e a Inglaterra.
Durante a ditadura militar (1964–1985), o discurso oficial era um tripé supostamente inabalável: “defesa do mundo livre”, “defesa da democracia” e “combate ao comunismo”. Hoje sabemos que tudo isso foi uma fake news — uma cortina de fumaça para encobrir o golpe e a repressão que se seguiram, que violaram direitos, assassinaram e silenciaram vozes democráticas. A história provou que a ditadura não foi defesa da democracia, mas seu sepultamento.
Agora, com Eduardo Bolsonaro, o método é o mesmo, só trocaram a farda por stories no Instagram.
Na América Latina, o filme é repetido. Em 1954, na Guatemala, Jacobo Árbenz caiu porque contrariou a United Fruit Company. Em 1973, Salvador Allende foi derrubado sob cerco econômico e sabotagem política. E mais recentemente, Cuba e Venezuela sofrem embargos econômicos e tentativas de isolamento político que visam sufocar suas soberanias.
No governo Bolsonaro, a base espacial de Alcântara, localizada no Maranhão — uma das mais estratégicas do mundo devido à sua proximidade com o Equador, que facilita lançamentos com menor gasto de combustível — foi cedida para uso dos Estados Unidos. Essa entrega representa uma grave afronta à soberania nacional, pois permite que uma potência estrangeira controle uma instalação estratégica em nosso território, com potencial impacto militar e comercial.
Sempre com ajuda interna, sempre com um rosto local para legitimar a traição. Eduardo Bolsonaro não é inovador — é só mais um capítulo do manual do entreguista.
Enquanto Eduardo negocia em Washington, o trabalhador brasileiro vê sua fábrica fechando, o pequeno comerciante apertar o cinto e a esperança de dias melhores fugir.
Para quem serve esse entreguismo?
Para o povo, certamente não.
Sociologicamente, o bolsonarismo fez do patriotismo um culto familiar. A lealdade não é à Constituição, mas a um sobrenome. Governadores que sonham com a faixa presidencial se calam, com medo de perder a bênção do clã. É o caudilhismo latino-americano, agora com filtro de rede social.
Politicamente, não é “oposição”. É lobby contra o próprio país. Eduardo pressiona o governo Trump para parar o julgamento de Jair por tentativa de golpe e para aprovar uma anistia feita sob medida. Usa tarifas e barreiras comerciais como chantagem. Em países sérios, isso se chama sabotagem. Aqui, ainda há quem aplauda.
Antropologicamente, é teatro. Muita bandeira, muito hino, mas, nos bastidores, a pátria é mercadoria de exportação. É patriotismo de fachada: a plateia canta o refrão enquanto o país é entregue em suaves prestações… ou de graça — e o comprador ainda é pago para levar.
A resposta de Eduardo é a cereja do bolo: diz que não controla a agenda de Bessent (como se alguém acreditasse), mas admite que Trump apresentou “razões para as tarifas” — inclusive suspender o julgamento do pai. Tradução: obedecer ordens de Washington. E já avisou que volta para mais reuniões, com R$ 2 milhões do pai para financiar a missão. Persistente, sim. Patriota, não.
Como dizia Chico Buarque, “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia” — mas só se deixarmos o entreguismo de lado.
Até quando aceitaremos que nossos representantes negociem nossa soberania como mercadoria de feira?
Quem realmente serve ao Brasil nessa história?
A elite empresarial, que defende a “pauta liberal”, aplaude quando governadores culpam Lula por problemas criados pela extrema direita. Mas se fosse um político de esquerda articulando contra um governo de direita, já teríamos capa de jornal e contagem regressiva para o impeachment. Dois pesos, duas medidas.
A omissão da mídia e de líderes conservadores é cúmplice. Democracias não caem só por golpes: apodrecem por dentro, corroídas por quem acha que o próprio cargo vale mais que o país.
Num mundo multipolar, perder autonomia para interesses externos é retroceder décadas. O Brasil já resistiu a pressões externas e soube dizer não. Merece líderes que entendam que soberania não se negocia. Quem a vende é traidor.
Hoje, defender o Brasil significa exigir que Eduardo Bolsonaro perca o mandato, seja exonerado e responda por crime de lesa-pátria. O cidadão comum pode cobrar isso de seus representantes, apoiar movimentos pela democracia e não se calar diante do entreguismo.
Quem a vende é traidor. E no caso de Eduardo, nem precisa vender: o comprador leva de graça, é pago para isso e ainda recebe em casa com frete grátis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.