sábado, 20 de agosto de 2022

Um olhar no texto de Lucas 1,39-56 - Domingo de N. Sra. da Glória

 No terceiro domingo de agosto celebramos o dia dos consagrados e consagradas (Irmãos e Irmãs – Freis e Freiras) e no Brasil temos a tradição de celebrar Nossa Senhora da Assunção ou da Glória. Tem  alguns personagens da história da Salvação que temos dificuldades de dissertar, pois o exercício de escrever pede que nos esvaziarmos do nosso olhar, talvez por causa de N. Senhora que ainda  continuamos  na Fé da Igreja, pois ter mãe é bom demais  e ate  já fizemos algum artigo para publicarmos e logo  apagamos, no inicio desse ano começamos um artigo sobre o Rosário  e logo  abandonamos, por motivo que desconhecemos e hoje por ser o domingo da assunção vamos deixar um pouco a nossa visão critica de lado e  refletir o texto da nossa liturgia dominical que são:   Apocalipse 11,19a;12,1-6a.10ab; Salmo 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b);  1Corintios  15,20-27 e Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria)

 

Vamos nos prender no texto do evangelho como nos domingos anteriores  mesmo tendo aqui hoje  duas leituras muito forte que falam da presença feminina  no texto de Apocalipse que fala da Igreja que os Cristãos e Salmo que fala da Rainha como alguém que tem favores perante o Rei, sem deixar de fora o texto de Coríntios que traz um dos dogmas[1] do cristianismos mais profundo, a ressurreição.

Para muitos Cristãos protestantes (aqueles que pregam meritocracia, prosperidade e facilidade como cristão)  a presença de Maria é algo assustador e talvez seja devido  suas falas  e o seu silêncio. Ela é o modelo de aceitação do Plano de Deus  quando diz: “Eis a serva[2]”,  modelo de orientação para os cristãos quando diz: “ Faça tudo Ele vos disser”[3] e quando abriu a boca no dia de hoje traz um cântico  que escandaliza muitos cristão que querem menosprezar a presença feminina. Para aqueles que  conseguem enxergar Jesus na hóstia consagrada não podem  esquecer  que Ele antes de mais nada foi um embrião,  uma criança, um  adolescente, um jovem e um homem que sofreu a violência estatal,  com   uma combinação do poder religioso e civil e  a bíblia sendo um livro extremamente patriarcal que sempre da ênfase a presença dos homens.   O autor sagrado dá destaque para  uma mulher é algo que  poderia chocar muitos se não tivessem trabalhado uma imagem de  Maria submissa, uma mulher que não  poderia  opinar e  esse encontro de duas mulheres dando destaque para o gesto de Maria e acolhida de Isabel  é o inicio de um novo tempo. 

Muitos tentam desmerecer a presença de Maria, conhecemos  protestantes que miram nos modelos de Pedro, de Paulo, de João e até de personagem do antigo testamento, mas se recusam a olhar para Maria como a primeira a aceitar Jesus e quando O aceita se coloca a serviço, parte em missão, ficam preocupados com fundamentalismos bíblicos e aquilo que letra diz e não consegue olhar a totalidade.    A festa da assunção que celebramos neste domingo nos faz ter certeza que Deus nos reserva uma graça e Maria na sua plenitude a carrega em seu ventre passando   ser  Theotókos[4] e até mesmo o fundador do protestantismo era devoto e defensor do Dogma Mariano, por isso seja tão dificultoso para falarmos de escrever sobre uma pessoa tão importante no projeto de salvação.

Nossa Senhora diz sim a vida e não a morte, e neste evangelho temos a alegria de Isabel que viveu uma vida toda se achando inferior por não poder gerar um filho.  Lucas narra a concepção de Jesus falando do encontro de Maria com Arcanjo Gabriel no seu cotidiano e concepção de João para Zacarias, a diferença entre ambos é que Maria logo professa a fé e Zacarias duvida, precisando ser silenciado através de uma ação divina e autor sagrado dá ênfase ao encontro de Maria com sua prima que ambas geram a esperança e a promessa de novos tempos, onde os excluídos terão voz e vez  e dá destaque para o momento de jubilo de Isabel sendo um momento de extrema alegria das duas. Talvez para muitos que falam de um Deus Dinheiro não leiam o versículo 53[5].

O Encontro das mulheres é um momento celebrativo onde o louvor de Maria ao Deus de Israel que é solidário com as dores do povo e geralmente nós olhamos para a ação de Maria ir ao encontro de Isabel, mas somos chamados a olhar nossas práticas de acolhidas como seguidores desse mesmo Deus,  como  acolhemos o próximo em nossas igrejas, celebrações, cultos e até mesmo em nossa casa, ainda somos chamados a refletir sobre o nosso sim ao projeto de Deus e devemos ainda  nos questionar sobre aquilo que  temos feito com a graça que Deus nos confia, Maria não ficou isolada fora da realidade em uma adoração  individual e egoísta, ela se coloca a serviço. Na Festa da Assunção  pintamos  uma imagem de Maria lá no céu cercada de anjos, que  deve ser superada, Ela foi e é  o ser que  mais amou e pode ter a maior intimidade  com Salvador mas precisamos ter  em mente  nesta festa como a Nossa Senhora do Encontro  e aqui  recordamos  o texto da  na Fratelli Tutti  numero 215

ü A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida». Já várias vezes convidei a fazer crescer uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque «o todo é superior à parte». O poliedro representa uma sociedade onde as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Isto implica incluir as periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspetos da realidade que não se descobrem a partir dos centros de poder onde se tomam as decisões mais determinantes.”

Neste tempo que estamos em campanha política e somos chamados a viver a cultura do encontro ouvir aqueles que pensam diferente e até votam diferente.  Meditemos o texto do evangelho e miremos no modelo de Maria e no seu discurso que nos aponta Jesus e aqui mais que nunca somos convidados a meditar o Canto de Maria.[6]    

"E Maria disse: “Minha alma glorifica ao Senhor  meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvado. Porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,  porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.  Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.  Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.  Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.  Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre"




[2]  Lucas, 1,26ss

[3] João 2,2ss

[4]  Concilio de Efeso em 442 dC, podemos conheceroutros concílios 

[5]  Enche os famintos  de bens e despede os ricos de mãos vazias

[6] Lucas 1,46-55

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