UM CLAMOR PELA PAZ Eu ouvi os clamores do meu povo. (Ex 3,7)
A paz de Jesus Cristo, que proporciona vida em
abundância e alegria plena, é um dom precioso de Deus e desejo de todo o ser
humano de boa vontade. Contudo, infelizmente, nosso mundo escuta hoje os
estrondos da guerra, os gemidos da fome, o ensurdecedor barulho dos tiros que
ceifam vidas e ecoam no choro das vítimas e de seus familiares. Soma-se a isso
a indiferença, que fecha olhos e corações, as desculpas para nada fazer e as
fake-news em seu esforço por tudo encobrir em cortinas de fumaça. As guerras
vão-se multiplicando cruelmente em diversas regiões do mundo, somando-se às
abomináveis e impactantes cenas que nos chegam da Ucrânia através da mídia. São
invisíveis os conflitos como em Moçambique, Iêmen, Etiópia, Haiti, Mianmar,
entre tantos outros, que assumem hoje os contornos de uma “terceira guerra
mundial por pedaços” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 25). Nestes tempos,
faz-se urgente escutar as vozes de tantos que, vitimados por variadas formas de
violência, clamam por justiça e paz. Esta realidade não pode ser naturalizada.
É impossível aceitar o extermínio de irmãos e irmãs. Seus corpos sem vida
clamam por justiça e responsabilização. Suas memórias e seus sonhos de paz
devem permanecer vivos entre nós. A desigualdade social, gerada pela
concentração de renda, os conflitos religiosos, o ataque sistemático aos
territórios dos povos tradicionais, o desprezo e o rechaço aos migrantes e o
flagelo da fome são algumas das formas da violência estrutural visibilizada nos
tempos de hoje. Urge não fechar os olhos diante da loucura da corrida
armamentista no Brasil. O número de caçadores, atiradores e colecionadores de
armas de fogo (CACs), aumentou 325% de 2018 a 2021. “O gasto com armas é um
escândalo, suja o coração, suja a humanidade” (Papa Francisco, 21 de março de
2022), particularmente quando alimentado por discursos fundamentalistas,
inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a
fraternidade. A violência precisa ser estancada. Diante de tantas situações que
nos envergonham, nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, voltamos a erguer
nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz. Unimo-nos
a todas as pessoas e entidades que, de coração sincero, se empenham nessa
direção. Enxergamos nesse esforço o Espírito do Deus da Vida que não nos
permite desanimar, nem nos deixa enredar pelas artimanhas do mal, por mais
astuciosas e aparentemente convincentes que possam ser. A vida é o maior dom!
Cuidar responsavelmente da vida implica trabalhar artesanalmente pela paz (Papa
Francisco, Fratelli Tutti, 225), a justiça social e o bem comum, sempre no
respeito pelas diferenças, valorizando a liberdade religiosa e a verdade,
dialogando até a exaustão, pois tudo isso é condição para a verdadeira paz. Por
isso, na responsabilidade de nossa missão de pastores, queremos expressar nossa
palavra de esperança: aos sofredores, que não desistam, aos que têm poder de
cuidar, defender e promover o bem comum, que não se omitam e aos que
diretamente ferem e destroem a paz, que se convertam! Unamo-nos em favor da
verdadeira paz! Não nos deixemos abater! Não nos deixemos frustrar! O Bom Deus
escuta os clamores de seu povo! Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Rainha da
Paz, interceda sempre pelo Brasil e pelo mundo. Brasília,
22 de junho de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler. OFM
Arcebispo de Porto Alegre – RS
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá – MT
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro – RJ
Secretário Geral da CNBB
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