Quando resolvi interromper a escrita sobre o sentimento, lá em 2018, não foi desistência. Foi um silêncio urgente, pesado — um afastamento necessário para enfrentar emoções que gritavam por dentro, mas que eu ainda não conseguia traduzir em palavras. Era como se algo se rompesse no peito, algo que eu não podia nomear, mas que me exigia recuar para não me perder. Uma fuga com destino — a música. Passei a colocar minha voz em algumas canções no canal do YouTube. (Visite nosso canal) Canções no quadro Caminhos da Tradução que falam daquilo que todos temos, mesmo que não confessemos: frustração.
Frustração por ter acreditado, apostado, lutado por um projeto que não vingou. Mas seguimos. Sempre seguimos. É assim que a vida é. Somos homens e mulheres feitos de emoção — e essa emoção pode nos lançar ao céu ou ao inferno. Isso nos distancia dos anjos. Mas também pode nos tornar divinos, se aprendermos a cavalgar esse turbilhão. Amar alguém não pode nos apagar, não pode nos transformar em zumbis sentimentais.
Amar envolve presença, atitude, corresponsabilidade. E vice-versa.
Como eu disse em 2018, vítimas somos todos. Daquilo que escolhemos, ou daquilo que a vida nos impôs. Aquele velho ditado: “quando um não quer, dois não brigam” talvez precise ser corrigido: quando um não quer, os dois ficam feridos. A briga por amor, ou por puro orgulho, tem empurrado tanta gente para as trevas da solidão...
E às vezes, o caminho da luz está ali, fácil, claro — mas o medo ou o ego não deixam a gente atravessar. Foi nesse tempo que surgiu a canção “All of Me”, de John Legend. Não foi escolha aleatória. Foi pedida com o coração. Com intenção. A letra dizia tudo o que, talvez, já não cabia mais nas conversas.
“Tudo de mim ama tudo em você”, é isso que canta quem se entrega. Quem já foi ao fundo do sentimento e voltou com as mãos cheias.
Não se trata de um amor perfeito. Muito menos de um amor fácil. É aquele tipo que dá paz e depois bagunça tudo. Que acolhe e depois exige. Que assusta e cura.
E, sim, infelizmente, o casal que pediu a tradução da canção não ficou junto. Mas a música ficou. A tradução também.
E talvez o amor — esse que não se apaga — ainda esteja por aí, suspenso no tempo, esperando a hora certa.
Porque quando uma canção te traduz, é porque ela te conhece por dentro. E quem se reconhece numa canção, nunca está sozinho. Que não nos falte coragem — a nós, a quem nos lê — de viver um amor de verdade.
Mesmo que doa. Mesmo que tarde.
Mesmo que seja preciso recomeçar.
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