terça-feira, 13 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé - PARTE V


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V - OS ATENTADOS  A DIOCESE  DE NOVA IGUAÇU

Catedral de Sto Antonio.
A Diocese vê a sua estrutura sofre outro atentado em 29 de maio de 1977, onde um grupo espalha ou melhor distribui nas Igrejas da Baixada em algumas Igrejas do Rio o jornal “A Folha” com duras criticas ao  bispo Pedro Casaldaliga, D. Tomás Balduíno e outros que buscavam esta na comunhão da CNBB. Neste Jornal apócrifo   eles era difamados e chamados de comunistas. A Cúria Diocesana de Nova Iguaçu recebe um bilhete dando parabéns pela mudança na abordagem da “A Folha” e  um grupos dentro da própria Diocese davam parabéns ao bispo pela mudança no texto da folha.
Tal atentado teve duas características:
 I - Desacreditar o  trabalho da Diocese que caminhava a passos longos para construção da comissão de Justiça e paz.
II - Semear a divisão entre os membros da Diocese.
Esse   atentado foi de caráter intelectual, haja visto que as ameaças até mesmo o sequestro que o bispo sofreu não pararam o plano da Diocese de apoiar perseguidos e os movimentos populares e as pastorais sociais.(Veja na publicação atentado ao Bispo de Nova Iguaçu)
Neste período de 76 a 79 á Diocese de N. Iguaçu respirava ameaças, pois era comuns os vereadores de Nova Iguaçu, se reunir com os militares e todas as ações da Diocese eram discutida em tais reuniões inclusive os textos do jornal “A Folha”. D. Adriano, Padres e leigos eram ameaçados através de bilhetes, telefonemas. Mas nem por isso a Diocese parava de avançar em direção ao povo que sofre.  No país inteiro havia Bispos, padres e leigos proibidos de se manifestar, sendo censurados pelo sistema, alguns presos torturados ou desaparecidos quando não foram assassinados por algum grupo radical1.
Presbitério da Catedral de stº Antonio
Durante o ano de 79, o Bispo foi ameaçado através de telefonemas por pessoas que o pressionavam até mesmo dentro da Igreja. No dia 10 de novembro de 1979 as Igrejas da Baixada amanheceram pinchadas com mensagens de oposição ao Bispo, e a linha de Pastoral:
"Use a Igreja para o fim que se destina, não para ensinar o comunismo; Bispo comuna” 2
Mensagens como essas foram pichadas na Catedral de Nova Iguaçu e nas outras Igrejas da Diocese de  Nova Iguaçu.  No bairro da Prata, mataram um filhote de pastor alemão que incomodava os pichadores quando executavam a pichação, na referida Igreja, deflagrando um cartucho de munição, usado pelas forças armadas na Catedral de Santo Antônio, foi testemunhada pelo vigia de uma construção que disse ter visto tal cena e que os indivíduos chegaram em carro preto e iniciaram a pichação, sendo que enquanto um praticava a ação, outro vigiava para não serem surpreendidos por ninguém.
Tal ação foi respondida pelo Bispo Diocesano, dizendo que tais pessoas eram incapazes de entender que a doutrina social da Igreja não tem nada a ver, com o marxismo, e não representava uma ameaça para a segurança nacional e sim uma necessidade de se estar no meio do povo para experimentar o sofrimento do pequeno excluído do sistema.
As pichações foram logo removidas pelos zeladores, da catedral e demais paróquias, despertando no povo e no clero como no Bispo uma necessidade de se dá uma resposta à altura, marcando uma missa como resposta iniciada com execução do hino nacional brasileiro e foi enviada uma carta ao ministro da Justiça, Senhor Petrônio Portela, solicitando providências, o povo começa a pinchar as ruas, apoiando Dom Adriano e a sua luta contra a ditadura, e Dom Adriano recebe o apoio dos Bispos, que compõem o Regional  Leste I3, pelo menos de quatro Bispos de forma direta: Dom Waldir, Bispo de Volta Redonda, que respondia a IPM, por incentivar greves e questionar o uso da força para os operários na CSN em Volta Redonda.

  • "Se a luta é do povo devemos apoiar...”4.
Esse lema trouxe Dom Waldir para o apoio a Dom Adriano, enquanto o Cardeal do Rio de Janeiro se via em uma situação complexa, dizendo aos jornais que os problemas de Nova Iguaçu deveriam ser resolvidos pelo Bispo de Nova Iguaçu5
Na missa de segunda feira, 19 de novembro de 1979, a Igreja Mãe da Baixada recebe centenas de pessoas, quatro Bispos e quinze padres na missa que era a maior resposta ao ato das pichações, onde Dom Adriano destacava:

  • "Sempre que a Igreja se coloca ao lado do pobre e oprimido é atacada por um pequeno grupo de burgueses radicais”. 6
Relíquias do atentado exposta  na Catedral de Stº antonio
Tal resposta levou o grupo que fazia a oposição ao Bispo a engrossar a ação, fazendo panfletos de oposição aos Bispos que comungassem em uma proposta de abertura política e ao projeto de construção de um país democrático e mais justo. A missa de 19 de novembro não foi, uma provocação, mas uma manifestação pacífica em protesto a toda ação que representasse ameaça ao projeto de vida e dignidade. Todo o indício da época, que tais atentados foram coordenados com o apoio de grupos ligados ao regime que vigorava no país, pois: a DPPS (Departamento de Policia política Social) não se preocupou em investigar os atentados contra o Bispo ou contra as Igrejas e não assumia que podia ter sido obra de alguém ligado ao, Estado.
Um mês  depois nas ruas de Nova Iguaçu eram distribuído panfletos e cartazes em oposição aos Bispos que comungasse e pregasse a Teologia da Libertação e ainda dizia que a Igreja estava resgatando a bandeira de Prestes, a crítica maior era aos Bispos: Hélder Câmara, Evaristo Arns e Ivo Lorscheiter.
Quando zelador, senhor Ronaldo se aproximava do altar na Catedral, no dia 20 de
dezembro de 1979, às onze horas, uma explosão foi acionada próxima ao tabernáculo sagrado, destruindo por inteiro e danificando as paredes da Igreja Mãe da Baixada. A bomba encheu a catedral de fumaça e logo depois de gente e foi encontrada uma carta datilografada:
·           “Use a casa de Deus para os fins a que ela se destina, talvez seja essa palavra que a sua santidade o Papa lhe dirija em solidariedade. Morte PCB. Ass.: VCC”7.
A carta já fazia menção da visita do Papa João Paulo II no ano de 1980. O professor Silvio, que na época trabalhava próximo, correu como um dos curiosos para o local, porém, antes ligou para o Jornal do Brasil, que segundo o professor dava mais atenção para a esquerda no Brasil, Dom Adriano, chega ao local e convoca uma reunião para se decidir sobre o que fazer e se decidi fechar as Igrejas da Baixada no domingo, 23 de dezembro de 1979, em protesto contra tal ato de violência. O povo vinha rezar e a Igreja estava fechada e estava convocado para uma vigília na Catedral no dia 24 de dezembro, a partir das dezoito horas e o povo respondeu lotando a Igreja Mãe e reza pelos que executaram o atentado, pedindo que tal crime seja apurado pelas autoridades. Novamente, Dom Adriano recebe o apoio do povo, de padres, de Bispos, de associações de moradores e sindicalistas, sem mencionar as diversas Igrejas Evangélicas que lhe enviaram cartas de apoio.
No dia 30 de dezembro aconteceu a grande missa de protesto e desagrado à santíssima eucaristia8, contou com a presença de diversos 'padres, de seis Bispos do Regional Leste I da CNBB , que tinham a função de fortalecer o desejo de um país livre do regime.

  • "Envia tua Palavra I Palavra de libertação que vem -trazer a esperança e ao pobre a libertação”.9.
Esse canto anunciava a leitura do Evangelho do dia dedicado a Sagrada Família,  e   a   pregação  foi  um  momento   de  partilha  realizada   pelos   Bispos  presentes: Continuemos nesta luta, nesta caminhada de fidelidade ao Cristo, no irmão mais pobre, oprimido e não podemos ter medo”, palavras de Dom Adriano no meio de sua pregação dando força e coragem para o povo que estava presente.
E Dom Waldir confirmava sem a luta e do povo organizado não  teriamos um país livre, precisa-se continuar para que a mudança aconteça. A proposta de uma Igreja envolvida nas lutas sociais, nas mudanças sociais, onde o próprio Cristo foi imolado devido ao orgulho e o egoísmo de uns poucos que desejam se manter no poder para continuar a explorar o povão que não percebe que pelo qual motivo tiveram a coragem de profanar o santíssimo sacramento.
Logo após a missa foi realizada uma procissão pelas ruas de Nova Iguaçu, reunindo uma multidão de fiéis, seis Bispos e uma centena de padres, que lamentava tal atentado.




1 - Jornal Luta Democrática, página 03 e Jornal do Brasil, 2º caderno de 23 de novembro de 1979 - página 05.
2  - De Acordo com Pe Monteiro(na  época um dos principais colaboradores da Diocese) e sr Ronaldo  ( na época  sacristão e zelador da Catedral).
3 - Bispos do estado do Rio de Janeiro na época com oito dioceses
4 - Frase ainda hoje usada pelo referido Bispo, ouvida pelo autor no encontro de Leigos Católicos do Rio de Janeiro no ano de 1998, em Valença- RJ .
5 - Jornal O Globo, 12 de novembro de 1979.
6  -  Conforme documento arquivado na Cúria Diocesana de N. Iguaçu.
7 –  Esse é o um trecho da carta que está arquivada na Cúria Diocesana (Rua D. Adriano Hipólito n 8 Moquetá – N. Iguaçu).
8 -Para os católicos e o próprio Deus. Jesus sendo o sacramento principal da igreja, tal atentado foi um sacrilégio.
9 – Toda A liturgia de 30/12/79 esta no arquivo diocesano.  ( Rua: Adriano Hipólito n 8  Moquetá – N. Iguaçu), inclusive os discursos realizados pelos Bispos.


VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.

Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.

Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.

Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.

Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.

Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.

FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.

HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.

_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.

Jornal Caminhando. Da Comissão Justiça e Paz ao Centro de Direitos Humanos: 25 anos de caminhada. MENESES, Antonio. Rio de Janeiro, março de 2003.

_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.

MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.

Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.

WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981

Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970

Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970

P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976

SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006

Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986

Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.

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