quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé - PARTE VI


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VI - CONCLUSÃO.


    Quando resolvemos fazer memória desta História a primeira   motivação    foi  a nossa participação em um encontro de Circulo Bíblico no  fim do ano de 1993  na Paróquia N. Sra. conceição em Japeri,  onde foi  recordado sobre o  atentado da Catedral  de Stº Antônio de Jacutinga  e na nossa caminhada rumo a conversão ao Evangelho, nos sentimos no dever  de  pesquisa de forma mais profunda  sobre esse momento da História Brasileira e em particular da Baixada Fluminense  e o fato  em questão  e toda a pesquisa esta   arquivados na Cúria Diocesana  de Nova Iguaçu[1] e aqui neste nosso blog publicado em 6 partes  conforme apresentado acima. Destacamos ainda as acusações de que a Diocese não estava de acordo com as diretrizes da Igreja romana quando em sua caminhada se dedica no anuncio do evangelho de Jesus com  seu testemunho e  gesto concreto, se envolvendo nas lutas do povo que só quer ser tratado como gente e  não deseja ser coisificado pelo sistema.  O próprio bispo Waldir após a pregação na catedral de Nova Iguaçu foi chamado por um coronel que se fazia presente na liturgia para se explicar, pois aquele sermão era algo que estava mexendo com os brilhos do poder instituído. O bispo Waldir disse:
·     “O que eu falei é alguma mentira?”  2
Enfim quando se fala do período da ditadura militar no Brasil, nos tínhamos a coragem de maquiar e até mesmo existe aqueles que pensam, que naquele tempo não se via tanta corrupção  e desvio de verba publica.  Talvez quem pense, desta forma não perceba que o primeiro roubo, que o povo sofreu foi a perda do direito de dizer; sim ou não, como disse o bispo Waldir no III encontro de Fé e política do Rio de Janeiro em 19 de abril de 2008.
Outra questão que podemos afirmar: que o Bispo Adriano quando chegou a Nova Iguaçu era um homem das elites da Igreja e durante o tempo que esteve na Baixada o faz uma experiência de conversão e chega assumir:
·     “Na Baixada foi que me converti ao evangelho”3
Pe. Dinarte,  relata que na sua posse houve toda uma cerimônia de beija-mão   de Dom Adriano na Diocese de Nova Iguaçu,  que dificilmente depois de toda perseguição ele (D. Adriano) não  aceitaria.  Não recorda de Dom Adriano neste período de mais de 50 anos seria uma falha  com toda nossa História de luta.  Um Bispo que de forma direta ou indireta, constrói a Igreja da Baixada com um  rosto, uma identidade de comunhão com o povo perseguido.  
No ano  de 2007  o autor deste trabalho teve a honra de participar na organização do VI Encontro Nacional   de Fé e Política,    onde a memória desta luta e desta História foi celebrada por todos os homens e mulheres que vieram de todas as partes do Brasil.  Contando com a participação de  Cinco mil pessoas que se reuniram na Baixada nos dias 10 e 11 de  novembro daquele ano, refletindo  essa mística da Fé e Política e novamente setores conservadores da sociedade questionaram essa diretriz  da Diocese ora setores da direita ou  setores que se dizem apolíticos, chegaram ao ponto de acusar o atual bispo D. Luciano de não esta de acordo com as diretrizes de Roma.  
Dom Luciano Bergamin atual Bispo Diocesano.
A Diocese de Nova Iguaçu que é hoje composta de sete municípios (Paracambi, Japeri, Queimados, Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis e Belford Roxo) e três distritos (coletivo e carretão de Seropédica e Conrado o 3º distrito de Miguel Pereira) tem a característica de trazer para o altar a liturgia vivida em sua realidade.
Por isso, durante o período da ditadura sempre esteve ao lado dos perseguidos e apoiando os grupos que eram sinais de que Reino Deus começa aqui. A Diocese é grata ao Bispo Adriano que ousou  colocar em pratica as atitudes do evangelho de Jesus onde se tem clara a questão de Ele esta naquele que sofre dos males do mundo:4 o frio, a fome, o desemprego e sobretudo a perseguição política-religiosa. Por isso a proposta de um plano de Pastoral voltado para base para esses  que nada têm,  na Igreja inculturada na  realidade e é isso que vai gerar as perseguições como caso do coronel Moraes que acusa o jornal “A Folha” de comunista e subversivo. Então dom Adriano, traz um exemplo e fala se tivesse algo de comunista na folha ele mandaria fecha-la.
·     “O que é escrito na folha é somente a verdade do Evangelho.”5
Uma semana depois dom Adriano foi sequestrado. Apesar de tal violência, a Diocese não mudou o rumo de trazer a Igreja para a realidade dos povos da Baixada. Toda tentativa de sufocar o projeto Pastoral da Igreja no Brasil foi inútil, pois a abertura aconteceu e ainda maior, pois até hoje se têm órgãos que denunciam as torturas do regime.  Não  se pode negar que a Baixada Fluminense teve a sua vida alterada, uma   região que era um palco de violência contra os direitos humanos e a cidadania na pessoa de Dom Adriano e da Diocese de Nova Iguaçu vem reclamar pelo Direito de ser mais que um espaço  para a participação popular e  mesmo depois da criação das Dioceses de Duque de Caxias e Itaguaí não perde as suas referências de ser a Igreja Mãe da Baixada.
O documento e Puebla em 1979 fortaleceu a opção da Diocese em adotar uma prática, de viver o evangelho na cultura do popular. Quando conhecemos  Dom Adriano, não  tínhamos  a noção do sofrimento que o mesmo experimentou,  por ter colocado em prática o projeto da Igreja do Brasil, seja os seus documentos ou estudos que cada ano se propunha analisar a realidade política nacional.  Neste contexto nasce o centro Sociopolítico que ajuda a conscientizar o povo sobre a questão da política, através de cursos, fóruns e palestras.
 A Igreja Diocesana assume a CF (Campanha da Fraternidade) como uma prioridade, realizando cada vez mais movimentos com a massa, com  celebrações que nos ajuda refletir sobre a nossa consciência critica.  A Diocese apoia a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e outros movimentos que defendem a dignidade da pessoa humana. Para aqueles que conheceram Dom Adriano, nas suas lutas e na sua vida de anúncio do evangelho que: “aqui se começa um novo céu”6 e uma  terra. Não se pode parar o projeto de transforma a Igreja da Baixada  em Igreja  povo de Deus que assume sua caminhada. 
 As relíquias do atentado foram expostas durante todo ano de 1980 e até hoje se encontram expostas(FOTO) à esquerda do altar (próximo ao sacrário), na Catedral de Santo Antônio em Nova Iguaçu7, em um nicho construído para tal finalidade e na Cripta do mesmo endereço onde se encontra o resto mortal de dom Adriano, existe uma exposição sobre a sua pessoa e todo fato aqui narrado. A Diocese se fortaleceu e o país se abriu, e hoje se tem o orgulho de ter participado do projeto de abertura política do país e  de uma Igreja fechada em Igreja do Povo de Deus que assume caminhada.  
No ano de 2010 fizemos celebramos o jubileu de ouro da Diocese de Nova onde fizemos questão de recorda as palavra de   Dom Adriano.     
“Temos que continuar, 
o céu começa aqui; 
Jesus Cristo está conosco. 
Que Deus lhe pague!”
(Dom Adriano *1918-1996) 




[1] Rua: D. Adriano Hipólito  nº 08 – Moquetá / Nova Iguaçu  sobre a responsabilidade do profº Antônio Lacerda de Menezes
2  - entrevista concedida em 19 de abril de 2008 no III encontro de Fé e Política do Rio de Janeiro.
3  - frase dita por  D. Adriano no II sínodo de N. Iguaçu.
4  Evangelho segundo são Mateus; 25,33-40.
5 - De acordo com a ‘’ A FOLHA’’ de março de 1992.
6 - Apocalipse de S. João 21,2-3. 
7 Av: Marechal Floriano centro de N. Iguaçu

VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.


Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.


Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.


Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.


Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.


Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.


FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.


HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.


_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.


Jornal Caminhando. Da Comissão Justiça e Paz ao Centro de Direitos Humanos: 25 anos de caminhada. MENESES, Antonio. Rio de Janeiro, março de 2003.


_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.


MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.


Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.


WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.


Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981


Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970


Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970


P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976


SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006


Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986


Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.



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