terça-feira, 13 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé. PARTE III


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III - CRISTIANISMO: SUBVERSÃO POLITICA
Dom Adriano Hipólito.
Nos anos que temos o golpe a Igreja esta se redescobrindo e a Diocese de Nova Iguaçu esta em comunhão com o povo da Baixada Fluminense que vinha de áreas mais sofridas do Brasil para fazer o Rio de Janeiro.
Após o Concilio a Igreja tende a assumir uma posição voltada para a realidade e, sobretudo a criação das Conferências Episcopais no ano de 1952 que em 1962 – 1965 no concilio Vaticano II vai constituir o I plano de pastoral de conjunto levando os bispos a refletir sobre temas sociais e a discutir sobre a reforma agrária em um momento crucial para a democracia no mundo. Contudo os bispos conservadores editavam o livro “Reforma Agrária, Questão de Consciência”, opondo-se a encíclica do papa João XXIII A Pacem in Terris (A Paz na Terra) são esses mesmos que irão apoiar o golpe.  A carta propunha a Igreja uma colaboração entre os povos, o que levou a JUC (Juventude Universitária Católica) a fazer aliança com militantes comunistas nas eleições da UNE (União Nacional dos Estudantes) e nas lutas populares.
O Bispo Diocesano de Nova Iguaçu a sua maneira tenta ser fiel à proposta dos documentos e utiliza o jornal diocesano “A Folha” para orientar e forma o povo, mas sempre questionado ora por autoridades ou por pessoa que não via com bons olhos as mudanças dentro da Igreja e na Igreja.  Outro fenômeno que a diocese vai enfrentar é os movimentos, ou melhor, as seitas de campo pentecostais e a ainda a Igreja Católica Brasileira, fundada pelo bispo D. Duarte da Costa “o bispo de Maura”, tal Igreja bebe em uma fonte nacionalista, tinha o seu espaço de atuação confuso de acordo com D. Adriano, havia certos padres desta Igreja que rezavam na intenção do bispo romano Adriano, e até houve casos de supostos bispos da mesma que chegavam a D. Adriano na intenção de intimida-lo devido ao seu comportamento e afirmava que eles eram amigos de um general ou de um coronel. D. Adriano no jornal “A Folha” propôs um estudo mais detalhado sobre tal Igreja e seu fundador.
Há casos de acordo com Srº Lula (Luiz) da comunidade N. Srª. Da Graças do bairro Moquetá em Nova Iguaçu que o bispo da ordem de Santo André da Igreja Católica  Brasileira  ordenava meninos para tentar fazer frente a Igreja da Baixada. Sabemos que tal grupo religioso tinha uma forte vertente nacionalista desde que foi criada e para os que estavam no poder essa era uma das bandeiras; uma Igreja que pregasse uma fé inculturada ou uma teologia da libertação  só podia ser  uma teologia marxista como ainda alguns afirmam eram antinacionalistas. Uma Igreja voltada para o espiritual era defendida pelos poderosos que mandavam no sistema e manipulava o poder, citavam textos bíblicos para justificar seus atos.
  • ·      “Cada qual seja submisso as autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus. Assim quem se opõem à autoridade, esta se opondo à ordem estabelecida por Deus”*

                 
Esse texto de São Paulo apóstolo era usado para endossar toda a atitude do sistema que não respeita a realidade humana e não respeita, o ser humano. Dom Adriano questionou tal cristianismo, pois são muitas as dores do povo e temos que assumi-los como sendo de própria igreja e os documentos do Concílio Vaticano II e toda a DSI (doutrina social da igreja) nos leva  a tal compromisso com o povo. D. Adriano, D.Pedro casaldaliga, D. Balduino , D. Helder e outros bispos juntamente com a CNBB. Levantam uma questão que estavam em evidência as torturas que o povo sofria, seja no salário mínimo e/ou na violência da falta de moradia, de comida e de liberdade. São muitas as prisões do povo durante a ditadura.
A Baixada Fluminense era o local da desova dos que incomodavam o poder, se jogava os defuntos na região de Belford roxo e se colocava placa como se o defunto tivesse estuprado roubado  etc., e todos esses crimes eram realizados pelo aparelho do estado e tinha a função de impor o terror no povo.
Diante deste quadro D. Adriano vai fundar a comissão de Justiça e Paz. A comissão já nascia perseguida pelo sistema no dia da primeira reunião no CENFOR (Centro de formação de lideres), que desde de março de 2007 é a sede do CDH (Centro de direitos humanos) e  de agosto de 2008 é a sede da Cúria diocesana, no bairro de Moquetá foi cercado pelo forte aparelhamento policial no qual o tenente Basto (hoje coronel da reserva) fazia parte de tal guarnição. Em uma entrevista em dezembro de 2005 no mesmo prédio ele diz ter participado de tal missão e fala que naquele ano de 78 no CENFOR (Centro de Formação de Lideres), se encontrava um grupo de comunistas e subversivos. Neste dia D. Adriano interrogava: aos militares presentes o porquê da tal atitude dos policias.
O jornal “A Folha”, publicada semanalmente pela Diocese de N. Iguaçu tinha duas características, a primeira de ensinar o povo a participar da missa, e a segunda de propor ao povo um momento de formação.
  Em fevereiro de 1979 na fabrica de carroceria Ciferal, no Rio de Janeiro a PM espancou operários que exigiam pagamento salário atrasado desde dezembro de 1978. Neste contexto D. Adriano na sua coluna do jornal “A Folha”, recorda o encíclica do Papa Paulo VI sobre o trabalho:
·         “o salário é uma questão de justiça. É um dinheiro honesto ganho com o suor do rosto. É uma paga do trabalho”[1]
. É por isso que o S. Padre afirma na encíclica  populorum progressio (Progresso dos povos). “No contexto atual, não a maneira mas importante para realizar a justiça.Nas relações entre trabalhadores e doadores de trabalho de que exatamente aquele que se concretiza na remuneração do mesmo trabalho. Independente do fato de o trabalho ser efetuado pelo sistema de produção na propriedade privada de meios de produção no  sistema em que a propriedade sofreu uma espécie de “socialização”, a relação entre o doador de trabalho (em primeiro lugar doador direito) e o trabalhador resolve-se à base de salário quer dizer, mediante a justa remuneração do trabalho feito.”2
O Papa ensina que a política salarial oferece o critério para julgar a justiça de um sistema socioeconômico. “Importa salientar também que a justiça de um sistema socioeconômico e, em qualquer hipótese, o seu justo funcionamento deve ser, apreciados, no fim de contas, segundo a maneira como é equitativamente remunerado o trabalho neste sistema.” Os bens da natureza ou os bens que são frutos da produção “tornam-se acessíveis ao homem do trabalho graças ao salário que ele recebe como remuneração do seu trabalho. Daqui vem que o justo salário se torna em todos os casos à verificação concreta da justiça de sistema socioeconômico e, em qualquer hipótese, do seu justo funcionamento.”
Seria bom se os cristãos de todos os pisos sociais, inclusive os que têm responsabilidade no bom funcionamento das leis ótimas (que nem sempre funcionam na parte dos operários), seria bom se tomassem a peito essas leis de justiça e paz social. Lições do Evangelho de Jesus Cristo.  Os cristãos não morrem de velhice, como afirmava D. Adriano, mas no caso do Padre de Pernambuco detido por está junto com os catadores de papel, foi acusado como comunista e torturado durante vinte e quatro horas e logo depois solto sem saber o real motivo da tal barbaridade.
Dom Adriano com o Beato João Paulo II 
“Preciso ter um cuidado especial com esse corpo que Deus lhe deu, e a Igreja esta no mundo para levar ao povo uma libertação total que a dita a Teologia. Pois a Teologia que não liberta, não pode ser teologia” , afirma D. Adriano.”3
O Bispo Adriano, quando acusado de comunista, dizia ser cristão e buscava no periódico semanal. “A Folha” a importância de Puebla na igreja de Nova Iguaçu, pois deveria ser orientada pelas linhas deste documento e, que o Pastor nunca fosse um  ativista político, até porque tanto como o socialismo marxista tinha suas ditaduras no mundo.
 Parafraseando Marx, a “religião é o ópio do povo”, quando não vai de encontro com uma proposta de libertação ou de solução para a realidade e, sendo assim, o comunismo encerra as instituições religiosas no mundo, permitindo certos privilégios aos seus lideres em suas doutrinas rígidas. Neste termo, o comunismo é ruim e atrapalha a humanidade a ser e até mesmo encontra-se como ser único, criado e amado por Deus.
A Diocese de Nova Iguaçu busca soluções para as implementações feitas pelo concilio Vaticano II e cria o Jornal “A Folha”, onde D. Adriano faz suas manifestações e reflexões sobre alguns temas que levem à população pensamentos.
Compreende-se melhor, hoje, a autonomia dos leigos, no domínio temporal. No passado, tudo estava sob o controle do poder eclesiástico. Não só as Igrejas e cemitérios, mas até as escolas, os hospitais e outras obras de assistência. Essas instituições nasceram dentro da comunidade de fé e parecia normal que continuassem ligadas a ela, quanto às normas e decisões4 .
Padres e religiosos assistentes da juventude da Ação Católica começaram então a influenciar seus bispos; os bispos começavam a somar a riqueza de algumas dessas experiências, reunidos na CNBB. Mas era apenas o começo.E, como reza a experiência, o começo é sempre difícil, anda-se sempre às apalpadelas, qualquer tropeção maior assusta.Foi essa igreja em processo de mudança – e portanto dividida – que o golpe de 64 encontrou no
Brasil. Essa Igreja que, medrosa, assustada, deu uma freada no movimento de promoção humana que então iniciava, já agora com o respaldo vigoroso do Papa João XXIII e suas encíclicas Matter et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963). Foi essa Igreja que produziu o  documento de apoio ao golpe militar à boliviana que derrubou o presidente constitucional João Goulart, após trama sorrateira iniciada em Washington, como hoje se prova com rigor documental. Em pouco, porém, os bispos brasileiros viram que estavam embarcando numa canoa furada e saltaram logo que ela começou a fazer água para viver a fase mais expressiva dos quase quinhentos anos de sua história no Brasil.
Foi uma virada brusca, como lembra o mesmo dom Hélder Câmara nunca suficientemente citado. Os militares golpistas teriam motivos de sobra para se espantar. Diante da violência da repressão, de um lado, e da concentração de renda, de outro, que tornava agressiva a pobreza e insuportável e nada cristão o fosso a separar ricos muito ricos e pobres cada vez mais pobres no País, a Igreja passou a “denunciadora das injustiças, a encorajadora de todo um esforço de promoção humana”.
Em função dessa virada, a Igreja conhece o mais belo período de seus quase cinco séculos de história no Brasil. É o período de perseguição, no qual a Igreja no Brasil se encontra com a Igreja primitiva, a Igreja das catacumbas, do Império Romano, perseguida do primeiro ao quarto século. É o período em que a Igreja no Brasil se redime de tantos anos apagados e de mediocridade, nos quais o heroísmo – no sentido cristão da palavra – foi sempre uma exceção, embora dele sempre houvesse focos de grandeza, mas apenas focos, aqui e ali. Depois de 64, do golpe, a partir da repressão, num grau até então desconhecido em nossa historia, a Igreja, não é exagero dizer, atuou como um todo, o que é facilmente explicável.
Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns
Tudo no País, mas rigorosamente tudo, ficou de uma forma ou de outra, mais aqui, menos ali, sob o domínio do poder militar arbitrário. A Igreja, não. Foi a única exceção, o ultimo refugio – e isso lhe deu forças. Até porque, desligada do Estado, o Estado não tinha como controlá-la. O Estado era impotente, por exemplo, para tirar dom Paulo Evaristo Arns da arquidiocese de São Paulo, como certamente desejaria. O Estado era impotente para calar as denúncias de dom Helder em Paris, denúncias sobre as torturas, sobre os assassinatos, que foram tantos, sobre os desaparecidos. O Estado era impotente para afastar dom Pedro Casaldáliga de São Félix do Araguaia e do Brasil, como ardentemente desejou. Mas para isso dependia do Papa e encontrou sempre um firme obstáculo em Paulo VI. O Estado era impotente para aplicar aos dominicanos a solução pombalina da expulsão, como  também desejou. Assim, em determinado momento, quando todo País, todas as instituições civis estavam esmagadas pelo solado da bota, a Igreja era a única que conseguia fustigar o regime autoritário. Isso irritava o poder militar, que investia com fúria, mas só conseguia pequenas vitórias aparentes aqui e ali. Expulsava um padre estrangeiro hoje, prendia ou acusava padres, religiosos ou ligados à Igreja amanhã. Mas nunca conseguiu compreender que a Igreja cresce no que Ivo Lesbaupin chamou admiravelmente num de seus livros de “a bem-aventurança da perseguição”. Nem podia, porque os donos do regime nunca tinham estudado história da Igreja.            




* - Epistola de S. Paulo aos romanos 13,2
[1]  - encíclica  populorum progressio
2 -  Jornal  “A FOLHA”  pág 1  janeiro de 1979.
3  - Citando Pe. Zezinho, que encantava a Juventude na década de 70
4   - - documento 23  de 1978 (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil)



VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.

Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.

Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.

Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.

Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.

Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.

FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.

HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.

_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.

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_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.

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Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970

P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976

SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989

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