segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé. PARTE II

   
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II.           ORIGEM DA DIOCESE DE NOVA IGUAÇU.
Catedral de Sto Antonio de Jacutinga
A 26 de março de 1960 o Papa João XXIII criava a Diocese de Nova Iguaçu com a bula Quandoquidem Verbis[1] sendo uma Diocese com 6 municipio que são os seguintes: Nova Iguaçu,  Itaguaí, Mangaratiba, Paracambi, Nilópolis e São João Meriti.   
Nasce marcada pela graça do Concílio Vaticano II e pela desgraça da revolução de acordo com o bispo Adriano[2]. E sempre foi desafiada a responder a realidade da Baixada Fluminense que sofria violência no seu direito de ser gente e de ser cidadão.
A Diocese na Baixada Fluminense sofreu a pressão moral e física do governo militar que, baseado na ideologia da segurança nacional se fazia incapaz de entender as renovações, ou melhor, a aplicação do Concílio Vaticano II e de distingui, marxismo e doutrina social da igreja. A doutrina social da Igreja[3]nasceu em um tempo de transformações sociais e sua característica de adaptar a igreja ao tempo e a realidade vivida pela cristandade. A doutrina social evoluiu de Leão XIII em 1891 com a sua encíclica Rerum Novarum[4] ou ainda a condição dos operários. Neste período,  de mais de um século vários documentos dão a Diocese de Nova Iguaçu à certeza de construir um plano de pastoral voltado para realidade do povo da Baixada Fluminense, apoiando movimentos populares como AMAB (Associação de Moradores e amigos do Bairro), levando a Diocese que estava nascendo a apoiar os excluídos, marginalizados e os que eram perseguidos pelo regime de medo que figurava no Brasil e em alguns países da América latina.
A Diocese que nascia estava em sintonia com os documentos do Concílio Vaticano como Gaudiun et Spes (a igreja no mundo de hoje) que ressaltava a realidade da nova história da humanidade e logo no seu início destaca:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos discípulos de cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco em seu coração”
Abrem-se novos caminhos e novos enfoques para o ensinamento social da Igreja. Esta, por fim, resolve acertar os passos com o mundo e ritmo desenfreado das mudanças e a modernidade deixa de ser um bicho papão.
Após o concilio Vaticano II o papa Paulo VI demonstra a realidade do mundo onde os povos vivem em realidade de desigualdade social a sua carta populorum progressio, o desenvolvimento dos povos ou progresso dos povos em 1967 vem dando um choque na realidade desigual social entre os povos e questiona o preço que se paga pelo progresso da humanidade.
Nestes ares que o Bispo Adriano vai assumir a Diocese de Nova Iguaçu como o seu terceiro bispo, D. Adriano, sergipano aos 48 anos assume a diocese no dia 6 de novembro de 1966. Nomeado pelo Papa Paulo VI ele assumia a Diocese que muito nova (6 anos) já tinha tido dois bispos D. Walmor e D. Honorato , no livro o povo de Deus assume a caminhada o bispo Adriano diz que assumiu a Diocese como se tivesse caído de pára-quedas; ele que fora bispo auxiliar da Diocese de salvador, na Bahia e bispo conciliar chegava a Baixada Fluminense com a missão de colocar em prática as orientações do concilio Vaticano II ele faz uma experiência de conversão na realidade. Que tem uma Igreja alheia a realidade, nas nuvens era uma leva de pessoas vinda do nordeste, do Sul de Minas, do Espírito Santo e do norte do Estado, que sofrem pelo abandono do poder público.
A Baixada Fluminense que já foi a maior produtora de laranja até 1940 no período da II guerra mundial nesta fase estava loteando os seus laranjas e boa parte do centro onde hoje é a estação já estava ocupado.
Essa mesma Baixada que pertencia a Diocese de Barra do Piraí que tinha Pe. João Mush que atendia toda região com missa e desobrigas5 e em 1960 com a criação da Diocese e a sua missão de anuncia o evangelho e coroada de êxito ele ajudou a da forma aquilo que chamamos de Diocese de Nova Iguaçu. Em 66 quando o terceiro bispo assume tem a dura missão de levar esse povo assumir as mudanças proposta pelo Concílio Vaticano II. 
  Na realidade Nova Iguaçu há os famosos coronéis que se impunha através do  poder  financeiro  e  das armas e que neste momento o que a Igreja pregava era  marxismo segundo esses que desejavam se manter no poder. A Diocese ainda tem a sua frente os temíveis esquadrões da morte que se impunha pelo terror o profº José Luiz: destaca ainda que era comum fazer da Baixada Fluminense uma terra de desova, pois, os grupos da capital, que eram ligados ao poder assassinavam seus opositores e qualificava- os  como marginais e jogava seus corpos na Baixada dando uma ideia que a região era violenta. Na década de 60 as tais vitimas não recebiam nenhuma identificação e na década de 70 com o mito do “mão branca”, era comum se identificar os corpos com plaquetas bilhetes, falando de supostos crimes cometidos pelos defuntos.

Os municípios da Diocese de Nova Iguaçu hoje. 
Nem tudo é  era treva a Diocese com a missão de responder, a esse desafio, começa a utilizar o período da quaresma para refletir essa realidade, a CF (Campanha da Fraternidade) eram momento de que o povo precisava para pedir providência do poder público.
 Neste contexto a CF (Campanha da Fraternidade) nasce no ano do golpe e a sua primeira intenção era buscar a renovação interna da Igreja em 1968. Começa a questionar a realidade de uma fé sem ação. Inspirada pelos documentos “Luz do povo” (Lumeun Gentium) e o “desenvolvimento dos povos” (Populorum Progressio) tem o tema a Doação e lema Construir com as mãos e 1969. após nos levar ao encontro da realidade do outro é uma campanha que já vive a proposta do documento de Medellim elaborada pelo CELAM (Comissão Episcopal Latino-Americano) em 1968 em que a Igreja escolhe a sua opção radical pelos pobres e é essa diretriz que vai iluminar o Bispo Adriano.
Desde o primeiro dia de posse, Dom Adriano deu inicio ao seu serviço pastoral nesta grande porção da baixada fluminense. Mais de 25 anos de uma presença viva, atuante, forte e profética, sempre na linha de frente: anunciando, incentivando, denunciando e defendendo, como bom discípulo de São Francisco de Assis e, sobretudo, do próprio mestre Jesus, se solidarizando com os empobrecidos.
Muitas foram às realizações pastorais de Dom Adriano em Nova Iguaçu, convêm destacar algumas:
1968- Diocese introduziu o sistema colegial ou democrático de eleições para preenchimento dos cargos diocesano, naquele mesmo ano, sob sua orientação, era criado o Movimento de Integração Comunitária (MIC) como primeira resposta possível aos problemas da Baixada Fluminense. Realizava-se também o 1º Encontro Diocesano de Planejamento Pastoral.
1973- Foi inaugurado o Centro de Formação de Líderes, no Bairro de Moquetá.

Centro de Formação de Lideres Atual sede da Diocese de Nova Iguaçu 
1974- Foi criado o círculo bíblico como núcleos ou grupos de reflexão sobre a realidade da Baixada à luz da palavra de Deus (método VER, JULGAR e AGIR) da teologia da Libertação. 
1976- Foi seqüestrado por um grupo parapolicial de seis homens armados que o espancaram, pintaram-no de vermelho, o algemaram e encapuzaram. Era um daqueles grupos de extrema direita que atuavam na Baixada.
1977- Um grande debate sobre direitos humanos era impedido e proibido pelas forças de segurança, que cercaram o Centro de Formação de Lideres, ostentando um verdadeiro aparato de guerra.
1978- Foi criada a comissão Diocesana Justiça e Paz, como órgão de assessoria e enfrentamento dos problemas relacionados aos Direitos Humanos; era criada também a Pastoral da Terra da Diocese de Nova Iguaçu e ainda a Pastoral Operária era escolhida como prioridade da Ação Pastoral Diocesana.  
1979 - Catedral Diocesana e outras Igrejas filiadas da Diocese foram pichadas com acusações ao Bispo e à sua linha pastoral. Em 20 de novembro, do mesmo ano, uma bomba explodiu na Catedral, destruindo o Sacrário do Santíssimo, profanando as hóstias consagradas e danificando o altar lateral do templo. O grupo de direita que se autodenominava “Vanguarda de Caça aos Comunistas” (VCC) assumiu a autoria do bárbaro e sacrilégio atentado
1980 -  14 de março deste ano a  criação da Diocese de Itaguaí  com os  municípios de Itaguaí e Mangaratiba  da Diocese de Nova Iguaçu e parte da Diocese de Volta Redonda e  em 11 de outubro  a criação da Diocese de Duque de Caxias com o municípios  de São João de Meriti  e parte da Diocese de Petrópolis   


[1] - Quando a Palavra.
2  - II sínodo Diocesano de Nova Iguaçu
[3] - DSI
[4]  - Das Coisa Novas
5  - Celebração dos Sacramentos da iniciação Cristã (batismo,  Crisma e Eucaristia) 


VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.

Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.

Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.

Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.

Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.

Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.

FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.

HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.

_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.

Jornal Caminhando. Da Comissão Justiça e Paz ao Centro de Direitos Humanos: 25 anos de caminhada. MENESES, Antonio. Rio de Janeiro, março de 2003.

_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.

MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.

Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.

WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981

Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970

Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970

P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976

SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006

Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986

Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.




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