A entrada com aplausos é gritos de vivas na semana passada cedeu ao grito de crucifique-O na sexta pela manhã, a negação de que Ele era o Rei daquela multidão e essa é a realidade de toda negação própria do humano. A celebração do domingo de Ramos se encerra com a prisão, a tortura, a crucificação, o deboche e o grito desesperado de dor do Mestre na frente de sua mãe e do discípulo amado, mas nesse meio tempo acontece o grande silencio que grita alto que é, a morte de um inocente. O silêncio iniciado com sua morte e o seu sepultamento deveria nos levar a reflexão, o quanto precisamos do silêncio pra entender o mistério de Deus e quantas cruzes estamos vivendo neste século. De verdade, devemos ressuscitar do túmulo que sepulta os sonhos e toda dignidade humana. Neste domingo o grito de aleluia se solta de nossa garganta nas missas e celebrações em nossas Igrejas, capelas. Um grito que deve ecoar dentro das nossas realidades e nos ajudar na ação que promova a verdadeira e autentica ressurreição humana diante das sepulturas do desemprego, da fome, da falta de esperança que muitos vivem
Olhando para Evangelho de hoje, sem esquecer tecer um breve comentário da leitura de Atos dos Apóstolos sendo uma das obras de Lucas ( que escreveu um Evangelho e o Atos dos Apóstolos que aparentemente deveria ser uma única obra) que tem a sua origem entre os anos 80 e 90, em um momento que a Igreja já tem toda uma e estruturada e por isso começa surgir os Mestres que deturpam o projeto de Jesus e toda sua missão. As duas obras nos recorda a doutrina transmitida pelos apóstolos sob o impulso do Espírito Santo. Espirito que anima e motiva Igreja para viver com fidelidade o plano de salvação que o Pai iniciou com a escolha de um povo e sua conclusão com a concepção virginal de Jesus no ventre de Maria. Agora, cabe a Igreja a missão de fazer chegar a todos os homens esse plano de Salvação, neste sentido Pedro vem nos trazer a memoria quem é Jesus Nazaré, que é o Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se entregou. Por causa do amor do Pai à morte não conseguiu prende-Lo, Deus ressuscitou-O. A exemplo de Pedro somos convidados a comunicar e levar esse projeto. Mas antes precisamos entrar no mistério daquela madrugada do texto de João 20,1-9 sendo um texto escrito dentro do mesmo período de Lucas e o Apóstolo João revela uma Comunidade: chagada, ferida e sem esperança diante do Cristo sepultado, pois quando lemos o texto que publicamos a autopsia de um crucificado se imagina como o Senhor sofreu, por todos nós. Diante da dor e o sofrimento que a comunidade vivia se torna um tanto difícil acreditar nas mulheres, pois o testemunho das mulheres não era validos em tribunais sem a palavra de um homem confirmasse e até nisso Jesus vem vencer as barreiras.
"Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram”. Esse é o desespero de Maria Madalena. Ela sente um grande o vazio e mesmo Jesus falando com Ela vivo, é confundido com um serviçal. A tristeza de não ter um corpo é uma dor das pessoas neste nosso tempo que ainda hoje não sabe onde esta o corpo de muitos perseguidos na ditadura brasileira, nas praticas milicianas e do trafico de drogas. Foi essa dor que se abateu e não há nada pior que esse hiato. Como não fazer memória de amigos, vitimas da violência nesta data. A Páscoa não se resume a alegria dos chocolates, mas um olhar para as mais de 665.000 vitimas da pandemia no Brasil e todos sabemos, como é dolorosa a morte de um ente querido e aquele velório de 10 minutos com o caixão lacrado a dor é multiplicada, pois a uma interrogação se de fato aquele corpo ali dentro de fato é daquela pessoa amada. Jesus por causa das conversões da época também não gozou de um velório, foi logo sepultado e mesmo Ele falando que ressuscitaria a Igreja que ainda não tinha a plenitude do Espirito Santo, não conseguiu ver tal possibilidade. Nenhum apóstolos volta ao sepulcro para cumprir os ritos fúnebres, pois a ideia do fim de tudo os toma e ainda se fala de uma guarda no tumulo, isso desmotiva e assusta qualquer um que se aproximasse, mas Maria Madalena com outras mulheres veem como aquelas que precisam presta essa honra ao Mestre e pra elas o problema seria a pedra e aqui vale a pena refletir sobre aqueles cristãos que colocam dificuldades em tudo e não se colocam a caminho. A sepultura aberta só gerou uma dor maior de imediato.
O autor do Evangelho faz o recorte histórico “no primeiro dia da semana”. que significa um novo momento para humanidade com um projeto onde todos tem seu espaço garantido, a morte não é o fim, a morte é apenas um detalhe da natureza do homem que habita o tempo, Jesus sendo Deus habita o eterno e sua morte nos traz a dignidade de um dia poder habitar o eterno junto d'Ele.
Diante da noticia entregue pela mulheres Pedro e João partem no desespero pois ambos duvidam daquelas testemunhas. Pedro o mesmo que disse que morreria pelo mestre, aquele que cortou a orelha de um servo do sumo-sacerdotes e também aquele que negou o Cristo e João o discípulo amado que estava próximo de Jesus na ceia e na Cruz recebe a guarda da Mãe de Jesus. Na corrida para ver o tumulo ambos saem juntos, mas o jovem tem mais disposição e vigor chegando no tumulo e mesmo assim espera Pedro, pois Jesus sempre orientou para que o testemunho fosse em dupla. Ambos procuram um morto, mas Jesus esta vivo para testemunhar o amor do Pai.
A morte para muitos representa o fim, essa é a logica da comunidade diante do mundo que vive em guerra, diante dos conflitos. Devemos viver o hoje para vivermos na eternidade, não estamos sozinhos na cruz desta realidade, não estaremos sozinhos na ressureição. Se estamos como Jesus em comunidade devemos promover a ressurreição por onde passarmos e o autor deste texto demostra como as mulheres e como os homens encaram a ressurreição, ambos no primeiro momento duvidam daquilo que os próprios olhos deles revelam.
O autor do evangelho nos convida a remover as pedras e promover ressurreição combatendo os preconceitos, as misérias e denunciando os assassinos de Jesus ainda hoje como Pedro apresenta no texto de Atos10,34.37-43:
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demônio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.