sábado, 5 de junho de 2021

Palavras no Papel!

Senhoras e senhores, lutamos todos os dias para manter a dignidade, olhando para nossa história e tentando compreender os fatos que nos colocaram nesta encruzilhada de insegurança e dor.

Somos culpados por termos feito demais?

Somos culpados por nossas omissões?

Somos culpados por simplesmente sermos quem somos?

"Dias de luta, dias de glória", cantou Chorão com a alma ferida de quem conhecia bem o chão da vida.
E é exatamente isso. Dias difíceis, dias de luta e de aparente derrota.
Como Jesus no Getsêmani, onde o suor se misturou ao sangue e a solidão tornou-se companheira.
Como o Gladiador caído na arena, traído e desonrado, mas ainda com o coração fiel ao que acreditava.
Como Wallace, o guerreiro escocês, gritando por liberdade mesmo ao ser despedaçado por um império cruel.
Mas não esqueçamos: Jesus ressuscita.
O Getsêmani não foi o fim. A cruz não foi a última palavra.
A pedra foi removida e a vida venceu a morte.
E o Gladiador, mesmo tombando no chão de areia, viu nos olhos o Campo de Elísios, onde reencontraria o que lhe fora tirado.
Wallace, ainda que dilacerado pela coroa, deixou a semente da liberdade no ventre da rainha grávida, como insinua o filme — o futuro carregado em silêncio por uma mulher ferida entre poderes.
A independência veio. Tardia, sofrida, mas veio.
Nem sempre vencemos com espada em punho. Às vezes vencemos com a memória viva, a verdade carregada no corpo, a semente plantada no tempo certo.
Sinto e lamento a ausência de algo que nunca me pertenceu por completo; algo bom que durou por causa das escolhas que fiz; algo que fez — e ainda faz — bem, e que traz uma sensação que ninguém mais sentirá como eu senti.
Uma saudade que às vezes dói mais que a própria perda.
Um silêncio que ecoa mais que mil gritos.

Dor da alma, dor física, dor emocional ou uma dor  que não têm nome 
Essa é  a sensação que muitos experimentam, que não tem explicação lógica.
Aquilo que foi não se explica, e o futuro parece uma narrativa distópica, tão distante da utopia que sonhamos.
Mas mesmo na escuridão, há quem acredite que o sol ainda vai nascer.
Palavras no papel — para quem entende, são uma mensagem.
Para quem não entende, a soma dos sentimentos que formam o som das palavras é apenas letra solta, ou sujeira no papel.
Senhoras e senhores, às vezes não somos claros.
Nem tudo é para ser dito, tampouco exposto.
A experiência nos ensina: fatos lançados à luz podem ferir inocentes, enquanto culpados se fazem vítimas das circunstâncias.
É nessa hora que o mocinho vira vilão, e o vilão se torna vítima da verdade oculta.
Nem toda verdade que sabemos pode ser dita. Algumas são pesadas demais para o mundo ouvir. São verdades que queimam por dentro como brasas vivas, que me consomem no silêncio.
Não as revelo — ainda — não por medo, mas porque sei o estrago que fariam.
São verdades que, se ditas, exporiam rostos, desmontariam discursos, desmascarariam piedades forjadas.
Guardo-as como quem carrega uma bomba de efeito retardado — não por lealdade, mas por misericórdia.
E mesmo ferido por conter o que sei, permaneço calado. Por enquanto.
Porque toda verdade tem sua hora, e quando ela vier, virá não como vingança, mas como justiça — ainda que tardia, ainda que solitária.
Não temos todas as respostas hoje.
Mas seguimos acreditando que tudo tem um toque do Sagrado.
As cordas do futuro são tocadas por um Ser Sagrado que nos toma para Si — se O deixarmos encontrar a melodia certa.
Talvez a noite ainda seja longa.
Talvez o frio ainda nos abrace.
Talvez ninguém venha nos buscar.
Mas o amanhecer, por mais distante, há de vir.

E quando vier, será como luz que invade a cela, como vento que derruba os muros, como a pedra removida do túmulo ao terceiro dia.
Amanhã, talvez, tenhamos um futuro com aquilo que nos pertence.
Não mais medindo palavras para poupar verdugos.
Não mais andando entre escombros de instituições que matam em nome da paz.
Um futuro com verdade, sem medo, sem insegurança, e sem a incerteza sobre se o fato é mesmo real.

Que Deus nos ajude. Que Ele mesmo seja o Juiz. Que o tempo seja o altar.

DNonato – Teólogo do Cotidiano

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