Há
dois vírus rondando todos os púlpitos e todos os pregadores. Um é o da vaidade
e o outro da obviedade. Um porque ressalta o mensageiro e secundariza a
mensagem, e o outro porque está longe de ser boa nova. Se é, vem com
roupagem tão pobre que não consegue mostrar sua beleza. O vírus da
vaidade subverte (Mt 10,27). Na passagem, Jesus ordena que o que dele
aprendemos não fique apenas conosco: devemos trazer à luz. E manda ainda
que aquilo que nos foi dito aos ouvidos deve ser anunciado para o maior
número possível de pessoas. Seria essa a ideia, de subir ao telhado para evangelizar.
Mas são poucos os que sobem ao telhado chamado púlpito ou mídia para se
colocar acima dos outros e para chamar a atenção, não sobre a mensagem
proclamada para todos e, sim, sobre quem está lá em cima aparecendo mais do que
os outros fiéis. Embora seja o primeiro a ter de freqüentá-lo, ou tenho dito
que um curso de palavra humilde viria em boa hora para todos os pregadores que
falam para multidões. Motivo: o marketing da fé anda transformando o
pregador em produto e salientando mais sua imagem de que a mensagem que
deveria vir de seus lábios. Em muitos veículos, há câmeras demais no pregador,
presença excessiva de voz excessiva em detrimento do conteúdo eclesial.
Bastaria que ele lesse mais os documentos da Igreja, a palavra do Papa e dos
bispos, os textos dos sínodos e passagens sólidas de teólogos e antropólogos
católicos, para que aparecessem menos. Mas poucos pregadores o fazem. Sobem lá
com a cara e a coragem, sem papel e sem anotação alguma, e doam a
si mesmos.
Alguns
até pedem aplausos para o que acabam de dizer! Nas mais diversas igrejas,
percebe-se a falta de conteúdo, a repetição exaustiva dos mesmos temas, das
mesmas frases, e dos mesmos testemunhos. Acentua-se o poder de operar
curas, dado aquele pregador e a nenhum outro. A mensagem daquela igreja
ou daquele movimento centraliza-se nele. Em um montanhismo, (doutrina defendida
por montano no ano 157 a 212, líder frígio, que, dizendo-se porta voz do
Espírito Santo, exigia de todos, o mais severo ascetismo e declarava
estar próximo o fim do mundo, e o estabelecimento na Frigia da nova Jerusalém)
atualizado, a opinião que passam é a de que ali? Deus atua por meio dele. Os
demais pregadores tornam-se meras peças de adorno. É a autoproclamação levada
aos extremos. Entende-se que haja um pregador principal em um encontro, mas
postar-se à frente, secundarizar os outros, no caso do pregador cantor, colocar
os verdadeiros cantores e músicos lá atrás e não ao seu lado, privá-los de nome
e de ministério, reduzi-los ao título de banda do padre ou do pastor, tudo isso
revela essa tendência: a de ressaltar mais quem anuncia do que a palavra
anunciada. Mais o mensageiro do que a mensagem. Auxiliares de pregação
também têm nome. Não admira pois o que se vê pela mídia e pelos templos:
um pregador em pleno sermão dando indireta no outro que se torna o seu
concorrente, disputa por fiéis, contribuinte, espaço e canais, discursos
ressentidos e revanchistas.
Tudo
em nome de Jesus e da ortodoxia. Se é correção fraterna que se deseja, há
espaços fora do templo, onde o outro pregador pode ser procurado e as coisas
ditas de maneira cristã e fraterna. Bispos, padres e pastores,
instigando-se pelos jornais? Não pega mal? Recentemente um pastor invectivava
o outro como politicamente interesseiro porque, ao aderir a um candidato,
mirava uma emissora de televisão; ao que este respondeu que o outro aderia ao
candidato oposto para não perder o que já conquistara… Tudo por Twitter e
outras mídias. Um sacerdote, que ficara magoado, por não ver reconhecido seu
trabalho foi, enfim, chamado pelo bispo para receber uma nomeação e um prêmio.
Sim, ele merecia um elogio! Deveria ser mais do que suficiente, mas o vírus da
vaidade ferida pousou em sua auréola. O bispo não teve com o prêmio a intenção
de diminuir os outros pregadores e, sim, de incentivar o trabalho do esforçado
sacerdote. O que ele fez? Lavou a alma. Disse aos entrevistadores e amigos que
aquele prêmio que lhe fora concedido, era um cala-boca aos que questionavam o
seu trabalho. Que pena! Traiu-se! Então era isso! Proclamou-se, em vez de
agradecer aos que nele confiavam e, promete maior esforço dali por diante! Não
resistiu a tentação de devolver a ofensa; sinal de que não estava pronto para
ganhar aquele prêmio. Padres e Pastores, Leigos e leigas, presidentes e
governadores, precisam o tempo todo desta ascese: reconhecer o valor dos
adversários, dos que os antecederam, das outras Igrejas e dos outros partidos.
O excesso de elogios a eles mesmos, a seu grupo de Igreja, à sua Igreja, a seu
governo e a seu partido, mostrou que o vírus da vaidade lhe minou o conteúdo, o
marketing, e os tornou maiores do que eram. Mas quem admitirá que se excedeu,
se está impregnado de números de alta audiência, de vitória, de percentagens e
de poder e preeminência? Uma das coisas mais difíceis é de um sujeito
vaidoso admitir que é.
A
outra é dominar a vaidade. Talvez um curso de discurso humilde ajude, mais não
auxiliará por muito tempo; a menos que se torne mística pessoal! O que digo aos
outros digo a mim mesmo, que luto há anos para ser simples e não deixar que
elogios me subam à cabeça. Tomemos cuidado com as palavras: primeiro pioneiro,
mas, maior, melhor, único, imbatível, eleito… Ajudam a vender, mas não ajudam a
crescer. Não quando alguém ainda pensa que é mais do que outros! Preste
atenção nos discursos de pregadores e Igrejas, de políticos e partidos,
sobretudo durante as eleições. Não é discurso fraterno, nem amistoso, nem
humilde! Um procura derrubar o outro. É que a palavra “vencedor”
contaminou as tribunas e os púlpitos… Existe alguma razão parta correr
com tamanha fúria atrás do voto e do devoto! O leitor sabe. O
eleitor é que, às vezes não percebe.
Pe. Martins de Medeiros
30/04/1945 á 04/02/2014
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