terça-feira, 3 de julho de 2012

Evangelizar através da Música é Mais que Show

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                 Assim Ele te fará mais famoso do que todas as nações que ele criou para seu louvor, sua fama e glória, a fim de que sejas um povo santo para o SENHOR teu Deus... [Deuteronômio 26,19]

Sei que esse tema é um tanto difícil de abordar, falar de louvor, da musicalidade em nossas Igrejas é um tanto difícil. Estivemos recentemente em um show de uma banda religiosa e aquilo que presenciamos foi algo que motivou essa reflexão. Nas últimas décadas temos observado o crescimento dos ditos shows de evangelização, de louvor ou a famosa Cristoteca e outros tipos de encontros que nos deixam intrigados se o nome anunciado é o nome de Jesus, o nosso próprio nome, ou o nome de um comércio — ou melhor, de uma mídia a serviço do deus mercado — onde se colocam luzes e brilhos excessivos.

Não queremos parar com esse método, contudo se faz necessária uma reflexão. Sabemos que alguns irão ver esse texto e dizer que é inveja ou despeito por não cantarmos bem ou tão pouco termos ritmo para tocar qualquer instrumento. Mesmo sem o ritmo ou cantando, existe algo que aprendemos: que o nosso canto deve ser a mais sincera oração. E aqui vale a pena citar o profeta Isaías:

·         Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a boca, enquanto o coração está longe de mim (Isaías 29,13).
A música, enquanto expressão simbólica, está presente em todas as culturas humanas. Segundo a antropologia, a musicalidade é uma das formas mais antigas de manifestação espiritual da humanidade — desde os cantos tribais em rituais religiosos até os salmos entoados no Templo de Jerusalém. Ela tem o poder de criar pertencimento, afetar emoções e construir memória coletiva.

Historicamente, o canto litúrgico sempre ocupou um lugar privilegiado na vida da Igreja. O Concílio Vaticano II, ao tratar da música na Constituição Sacrosanctum Concilium (1963), afirma que “a música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica” (n. 112). Isso significa que o papel da música na Igreja não é de performance, mas de comunhão e elevação espiritual.

Em outros grupos ou bandas seculares, eles vão lá, dão o show, cantam um amor que não conhecem de verdade, o público aplaude e ficam todos felizes naquele momento. Voltam para casa vazios de tudo. Infelizmente, foi isso que presenciamos e sentimos neste show.

É preciso reconhecer que está acontecendo um fenômeno preocupante: shows sem o compromisso da conversão, da mudança de vida e da aceitação real do Senhorio de Jesus em alguns encontros, em louvores de bandas católicas ou evangélicas.

Não existe a proposta da experiência do motivo do louvor, ou, se o grupo a fez, ela foi perdida durante a caminhada. Aqui se faz necessária uma reflexão sobre a semente que Jesus narra no Evangelho (Mateus 13,3-9): a Palavra lançada em terreno rochoso ou entre espinhos pode até germinar, mas não cria raízes profundas.

E não vale só para as bandas religiosas, mas para todos os agentes de pastoral que assumem compromissos e acabam sufocando a espiritualidade, mergulhando em um ativismo pastoral. Tornam-se, com o tempo, “profissionais da evangelização”, quando deveríamos atuar no e pelo amor, na e em comunhão com a Igreja e no Mistério do Cristo.

O Papa Bento XVI advertia sobre isso ao dizer que “o mundo oferece muitas falsas imagens de felicidade, mas a verdadeira alegria nasce da comunhão com Cristo e do amor gratuito que se doa aos outros” (Spe Salvi, n. 27).

Segundo dados do IBGE e estudos sobre juventude e religião, o Brasil tem vivenciado um deslocamento da religiosidade comunitária para uma religiosidade de consumo. Muitos jovens associam o sagrado ao espetáculo, à performance e à estética de palco, enquanto a experiência do mistério e do silêncio vão sendo esquecidas.

Temos que olhar em nossas liturgias. Não somos liturgistas e não queremos o direito de dizer que isso é certo ou aquilo é correto ou censurar aqueles que a conduzem. Mas uma reflexão podemos fazer.

A música, independente do ritmo, não é somente barulho em nossas celebrações. Ela se faz necessária nas missas, nos encontros, para promover e enriquecer o momento da oração, da reflexão e possibilita a melhor compreensão do Sagrado. Contudo, os cantores, os instrumentistas, tocadores devem estar em plena comunhão entre si e com a assembleia litúrgica, formando um único Corpo, “o Corpo de Cristo” (Romanos 12,4-5; I Coríntios 12,12-15).

Se faltar a comunhão, o guitarrista aumenta o som, o tecladista também, o cantor grita e a comunidade se desespera. Aquilo que seria louvor se torna barulho sem sentido.

Nos shows de louvor que participamos ou estamos atuando, se faz necessário um momento de oração, de reflexão e de reconhecimento de que, se o fazemos por e em Cristo, somente a Ele devemos anunciar. Podemos perceber que em alguns encontros (LOUVORES) e em alguns grupos (católicos e evangélicos), falta esse anúncio, e tudo o que interessa é vender o CD, emplacar mais um DVD etc. O Amor Primeiro, a Razão do louvor, fica em segundo plano.

Nos alerta também o Documento de Aparecida (2007), ao afirmar que “a missão não é proselitismo, mas um anúncio alegre, humilde e cheio de amor de Jesus Cristo” (DAp, n. 14). Quando esse anúncio é substituído pela vaidade, a evangelização perde sua força.

O nosso alerta é para todas as bandas que são conhecidas devido ao anúncio de Jesus como Nosso Senhor: tomem cuidado com vossos shows. Eles podem comunicar tudo e nada. Tudo no sentido da salvação e nada no sentido de divulgar a si mesmo.

Com muita tristeza, percebemos isso pela segunda vez no terceiro show que participamos de uma banda dita religiosa e ainda podemos sentir que um dos cantores citava Deus como: “O Cara lá de Cima”.

Para encerrar a discussão, deixamos um trecho da Carta de São Paulo aos Filipenses 2,3-11 e daí cada um tome suas decisões:

·                 Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si. E não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros. Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E, encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte — e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, em o Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai.

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