sexta-feira, 17 de maio de 2013

Dogmas segundo a Tradição apostólica.

Os Dogmas da Fé Cristã: Pilares da Verdade Revelada
Os dogmas são as verdades fundamentais da fé cristã, consideradas reveladas por Deus e transmitidas pela Tradição Apostólica. Tanto na Igreja Ocidental quanto na Oriental, um dogma é uma declaração de fé ou moral proposta formalmente pela Igreja aos fiéis, seja pela autoridade papal, por um concílio, ou pelo magistério ordinário. O primeiro registro desse uso remonta ao Concílio de Jerusalém (Atos 15; Atos 16,4), e nos escritos dos Padres da Igreja, o termo passou a indicar os preceitos estabelecidos por Jesus de Nazaré ou pelos apóstolos.
A adesão aos dogmas é um pré-requisito para ser membro da Igreja Cristã, seguindo o princípio "extra Ecclesiam nulla salus" (fora da Igreja não há salvação). Contudo, o Concílio Vaticano II esclarece que a salvação é possível também para aqueles que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho, mas buscam a Deus com coração sincero (cf. Lumen Gentium 16). Assim, a Igreja não se apresenta como detentora exclusiva da salvação, mas como o sacramento universal da salvação (cf. Lumen Gentium 48). O Catecismo da Igreja Católica reforça que a adesão aos dogmas é indispensável para a vida cristã e a salvação da alma (CIC 88-100).
Os dogmas da doutrina incluem proposições explicitamente presentes na Bíblia (cf. João 1,1; Hebreus 4,15), confirmadas pela Tradição e formalizadas pelo ensino da Igreja (Magistério) (cf. Dei Verbum 8-10). Exemplos notáveis incluem os artigos do Credo, a infalibilidade do Papa (cf. Concílio Vaticano I, Pastor Aeternus), a Imaculada Conceição de Maria (cf. Constituição Ineffabilis Deus, Pio IX, 1854) e a transubstanciação da Eucaristia (cf. Concílio de Trento, Sessão XIII).
Principais Dogmas da Igreja Católica
Todos os artigos do Credo dos Apóstolos são artigos de fé e dogmas para os católicos, resumindo as principais verdades da fé:

 * Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.
 * Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Foi concebido pela graça do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu ao inferno. No terceiro dia ressuscitou dos mortos. Subiu aos céus e está sentado à direita do Pai. De lá há de vir para julgar os vivos e os mortos.
 * Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

A seguir, uma lista representativa de outros dogmas essenciais, organizados por categoria:

1. Dogmas de Deus
a) Deus existe (cf. Salmo 14,2; Hebreus 11,6);
b) A existência de Deus é objeto da fé (Hebreus 11,6);
c) Deus é único e eterno (Deuteronômio 6,4; Salmo 90,2);
d) Deus é trino: um só Deus em três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo (Credo Niceno-Constantinopolitano; João 14,16-17; Mateus 28,19).

2. Dogmas sobre a Revelação Divina
A Revelação Divina é a ação pela qual Deus se manifesta e comunica Seu mistério à humanidade, permitindo que os homens se tornem participantes da natureza divina (cf. Dei Verbum 2). Ela se dá por ações e palavras intimamente ligadas na história da salvação.
a) Deus se Revela a Si Mesmo: Deus, em Sua bondade e sabedoria, aprouve-Lhe revelar-se e dar a conhecer o mistério de Sua vontade (cf. Efésios 1,9; Dei Verbum 2).
b) Jesus Cristo é a Plenitude da Revelação: Em Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, a revelação divina atinge sua plenitude, pois Ele é o mediador e a totalidade da Revelação (cf. Hebreus 1,1-2; Dei Verbum 4).
c) A Bíblia é a Palavra de Deus Inspirada: As Sagradas Escrituras são a Palavra de Deus, redigida por homens inspirados pelo Espírito Santo, e são infalíveis naquilo que diz respeito à verdade da salvação (cf. 2 Timóteo 3,16; Dei Verbum 11).
d) Tradição Apostólica e Magistério: A Revelação Divina é transmitida e interpretada fielmente pela Tradição Apostólica e pelo Magistério vivo da Igreja, que têm a missão de guardar, explicar e propagar a Palavra de Deus (cf. Dei Verbum 8-10).

3. Dogmas sobre Jesus
a) Jesus é verdadeiro Deus, consubstancial com o Pai e Filho de Deus (João 1,1; João 10,30);
b) Jesus possui duas naturezas, humana e divina, sem transformação ou mistura (Concílio de Calcedônia, 451; Hebreus 4,15; Filipenses 2,6-11);
c) Cada natureza possui vontade e operações próprias (Concílio de Calcedônia, 451);
d) Jesus se sacrificou na cruz como sacrifício verdadeiro e próprio (Hebreus 10,10);
e) Jesus redimiu e reconciliou o homem com Deus pelo sacrifício de sua morte na cruz (2 Coríntios 5,18-21);
f) No terceiro dia, Jesus ressuscitou dos mortos (1 Coríntios 15,3-4);
g) Jesus foi elevado em corpo e alma aos céus e está sentado à direita de Deus Pai (Atos 1,9-11; Romanos 8,34).

4. Dogmas sobre Maria
a) Imaculada Conceição: Maria foi concebida sem pecado original (Constituição Ineffabilis Deus, Pio IX, 1854; Lucas 1,28);
b) Maternidade Divina: Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotokos) (Concílio de Éfeso, 431; Lucas 1,42);
c) Virgindade Perpétua: Maria foi virgem antes, durante e após o parto (Concílio Latrão, 649; Lucas 1,34);
d) Assunção: Maria foi levada em corpo e alma à glória celestial (Constituição Munificentissimus Deus, Pio XII, 1950).

5. Dogmas sobre a Criação
a) Tudo o que existe fora de Deus foi criado do nada por Deus, que é sua causa primeira (Gênesis 1,1; Hebreus 11,3);
b) O mundo foi criado no tempo (Gênesis 1);
c) O mundo é preservado continuamente pelo poder divino (Colossenses 1,17).

6. Dogmas da Igreja
a) A Igreja foi fundada por Jesus Cristo (Mateus 16,18);
b) Jesus instituiu Simão Pedro como primeiro entre os apóstolos e cabeça visível da Igreja, conferindo-lhe o primado pessoalmente (Mateus 16,18-19);
c) O Papa possui poder pleno e supremo de jurisdição sobre toda a Igreja, em fé, moral, disciplina e governo (Concílio Vaticano I, Pastor Aeternus);
d) O Papa é infalível quando fala ex cathedra (Concílio Vaticano I);
e) A sucessão apostólica garante que os bispos sucedem aos apóstolos no ministério, com autoridade para ensinar, santificar e governar (Atos 1,20-26; 2 Timóteo 2,2);
f) A Igreja é infalível ao definir doutrina em fé e moral (Lumen Gentium 25).

7. Dogmas sobre a Natureza Humana
a) O pecado de Adão é transmitido a todos por geração, não por imitação (CIC 404);
b) O homem caído não pode redimir-se sozinho (Romanos 3,23; Efésios 2,8-9);
c) O homem é composto de corpo e alma (Gênesis 2,7);
d) O homem é imperfeito, só Deus é perfeito (Mateus 5,48).

8. Dogmas dos Sacramentos
a) O Batismo é sacramento instituído por Jesus para a remissão do pecado original e regeneração espiritual (Mateus 28,19; João 3,5);
b) A Confirmação é sacramento que confirma a fé e confere os dons do Espírito Santo (Atos 8,14-17);
c) A Igreja recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados após o batismo (João 20,22-23);
d) A confissão sacramental é necessária para o perdão dos pecados graves (João 20,23; CIC 1461);
e) A Eucaristia é o verdadeiro corpo e sangue de Cristo sob as espécies do pão e vinho, instituída por Jesus (Mateus 26,26-28; Concílio de Trento);
f) A Unção dos Enfermos é sacramento de cura e preparação para a vida eterna (Tiago 5,14-15);
g) A Ordem sacerdotal é sacramento pelo qual os eleitos são consagrados para o ministério (Atos 6,6; 1 Timóteo 4,14);
h) O Matrimônio é sacramento instituído na Lei Mosaica e confirmado por Jesus (Mateus 19,6).

9. Dogmas sobre a Vida após a Morte
a) O paraíso é a visão eterna de Deus (Apocalipse 21,3-4);
b) Existe o inferno, castigo eterno para os que rejeitam a Deus (Mateus 25,41-46);
c) Existe o purgatório para purificação antes da entrada no paraíso (2 Macabeus 12,46; Catecismo 1030-1032);
d) Jesus voltará para o juízo final (Atos 1,11; Apocalipse 22,12);
e) Todos os mortos ressuscitarão com seus corpos (João 5,28-29);
f) Jesus julgará os vivos e os mortos, enviando cada um conforme sua justiça (Mateus 25,31-46)

Conclusão
O reconhecimento dos dogmas da fé, como verdades essenciais da revelação divina transmitidas pela Tradição Apostólica e preservadas pelo Magistério da Igreja, constitui o alicerce da identidade cristã católica. Eles não são meros conceitos abstratos, mas sim faróis que guiam a compreensão da fé e a vida dos fiéis.
No entanto, o Concílio Vaticano II ampliou nossa compreensão sobre a salvação. Ele nos lembra que a misericórdia de Deus se estende muito além das fronteiras visíveis da Igreja, alcançando todos aqueles que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho, mas buscam a verdade e a justiça com um coração sincero (cf. Lumen Gentium 16). Essa perspectiva não diminui a importância dos dogmas, mas a situa dentro de um contexto de amor e graça divinos que abraçam a humanidade em sua totalidade.
Assim, a Igreja, sem abrir mão de suas verdades fundamentais, é impelida a um diálogo ecumênico contínuo com outras confissões cristãs e religiões. Os dogmas, nesse cenário, deixam de ser apenas pontos de doutrina interna e se tornam pontos de partida para a compreensão mútua. Ao invés de barreiras, eles podem ser pontes para a partilha da fé e para a busca comum da verdade. A Igreja, portanto, não apenas professa a plenitude da fé em Cristo, mas a testemunha como fonte de esperança para um mundo que anseia por unidade e sentido.

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