terça-feira, 2 de março de 2010

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé. PARTE I

     
          1APRESENTAÇÃO, DEDICATÓRIA  E AGRADECIMENTO.

    O presente Trabalho acadêmico foi  apresentado no Curso de História da UNISUAM  / Rio de Janeiro , como parte dos requisitos para obtenção do Título de Licenciatura em História,  orientado pelo Prof. Giovanni Condeca no 1° semestre de 2008. No primeiro momento foi publicado em um única pagina neste nosso espaço de construção do saber, atendendo ao pedido de alguns amigos,   resolvemos dividi-lo   em 6 partes conforme  como pode ser observado abaixo.  
·                    Dedicamos: ao Irmão Bispo Adriano,  a todos que viveram esse momento difícil da história da República Brasileira; aos meus pais: Sr. Francisco & Sra. Iracilda , que apesar de pouco conhecimento das letras me educaram  e me ensinam na Escola da Vida.
·                    Agradecemos: ao Deus Uno e trino que nos convoca para a missão de construir o Reino de Amor aqui e agora,  a Diocese de Nova Iguaçu, de um modo especial a D. Luciano (atual Bispo diocesano que durante esse período de nossa caminhada tem partilhado conosco a sua experiência de sacerdote do povo) , Pe. Mário Luiz, Pe Maciel Bezerra, os diáconos permanentes Francisco Sales e João Vieira de Souza, e a toda família da paróquia N. Srª. da Conceição de Japeri, a Comunidade Sant'Ana de Conrado/Miguel Pereira,   aos meus companheiros de viagem “no ônibus da Prefeitura Municipal  de Japeri” que muitas vezes  sofreu com  a falta do transporte para chegar a  UNISUAM e a  você que por algum motivo parou aqui nesta pagina   para refletir um pouquinho da   nossa História.
Boa leitura e agradeço pela sua visita ao nosso blog. 

“Temos que continuar, o céu começa aqui; Jesus Cristo está conosco. Que Deus lhe pague!”
(Dom Adriano *1918-1996)

(Basta click no titulo  abaixo  para acessar)
Ao longo do governo João Goulart, diversos grupos políticos conservadores e de direita mobilizavam no sentido de conspirar contra a democracia e em 31 de março de 1964, para ser mais exato na madrugada de 1º de abril.  Nesta Publicação demonstraremos  como a situação do governo militar e da Diocese de Nova Iguaçu, se cruzou no período  da pré-abertura. Sobretudo no período de1975 a 1980, onde o Bispo Diocesano Dom Adriano e as Igrejas sofreram diversos atentados.  A principio  o golpe teve o apoio da hierarquia da Igreja católica, que temia o comunismo.
Leonel Brizola
Goulart tinha projeto com reformas na área bancária, fiscal administrativa, urbana, agrária e universitária. Além da extensão do voto aos analfabetos e oficiais não graduados das forças armadas e ainda a legalização do PCB. O controle de capital estrangeiro e o monopólio estatal de setores estratégicos da economia também faziam parte do programa reformista. A esquerda era heterogenia e logo no início do governo Goulart forma uma, “estatização radical pró-reforma” de acordo com Argelina Figueiredo. Nesta fase temos o surgimento de lideranças como Leonel Brizola. O mesmo representava o que era de mais à esquerda no trabalhismo.
Brizola chegou a ponto de defender a luta armada e era o líder da Frente de Mobilização Popular (FMP) que congregava as principais organizações dos movimentos populares: a União Nacional do Estudante (UNE); os operários urbanos, com o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT); a confederação nacional dos trabalhadores na indústria (CNTI), pacto de unidade e ação (PUA) e a confederação nacional dos trabalhadores nas empresas de créditos (CONTEC); os subalternos das forças armadas e suas associações; facções das ligas camponesas; grupos de esquerda revolucionária, como ação popular (AP); a organização revolucionária marxista - política operária (ORM – POLOP), o partido operário revolucionário (trotskista)  (POR-T), os nacionais –revolucionários brizolistas e segmentos de extrema - esquerda do PCB; por fim os políticos do grupo compacto do PTB e frente parlamentar nacionalista.  Tais movimentos eram temidos pela hierarquia da Igreja Católica e foi isso que captou o apoio das lideranças de direita. O fim da propriedade privada e o ateísmo presente nas revoluções comunistas.
Contudo,  em 1964 houve um confronto grande entre a proposta de Goulart e a FMP (Frente Mobilização Popular), com panfleto onde declarava que era impossível uma conciliação. Neste contexto, havia um choque de todos os lados sobre o presidente da república. O presidente buscava uma conciliação com a esquerda mesmo sendo uma questão quase impossível. No dia 13 de março, significou a escolha de Goulart pela política de radicalização pregada pela esquerda. À frente de mobilização popular acreditava que agora aconteceria a reforma de base e Brizola afirmava em nome da FMP:

“O congresso não dará mais nada ao povo brasileiro. O congresso não esta identificado com o povo. Se os poderes da república não decidem, por que não transferimos essa decisão para o povo brasileiro que é a fonte do poder”.1

Com esse comício a FMP (Frente de Mobilização Popular) se transformou em uma frente única da esquerda, e exigia um plebiscito para a convocação de uma assembléia constituinte na intenção de realizar a reforma de base. E no dia 23 de março o panfleto publicado pela FMP, dizia que se o povo lutasse pela reforma de base estaria correto e o congresso não deveria se opor.  Para completar a desconfiança se abate a revolta dos marinheiros que provocou a grande crise militar, desestabilizando o governo Goulart. E neste contexto a esquerda não percebeu a gravidade de tal crise, apoiava e incentivava a insurreição. Com isso a maioria de oficiais, das três forças até então contra o golpe, começou a ceder aos argumentos da minoria golpista, pois, para eles o que estava em risco era a própria dignidade das forças.
Com o comício de março de 1964, o governo entra em confronto direto, desde de sua posse em janeiro de 1963 quando assumiu o governo, ele buscava a conciliação. No momento tal decisão de tentar a reforma independente da democracia que de acordo com Argelina Figueiredo não estava na pauta da direita ou da esquerda2 e uma parte da população não estavam nem aí se o poder estava na mão da direita ou da esquerda.
Outro ato foi o seu panfletário discurso numa assembléia de marinheiros, no automóvel clube do Brasil, na noite de 30 de março. Em auditório repleto de cabos e soldados sindicalista e políticos nacionalistas transmitidos pela tv, defendia com veemência, defendeu para a redenção do país, a necessidade de um “golpe de reformas”.  É preciso relatar que as ações pré-64 da direita era de golpear a democracia na tentativa de conter o avanço comunista no Brasil. O golpe foi saudado pela direita como uma revolução que evitava o surgimento de uma nova Cuba abaixo do Equador e eram elogiados.
Pela Igreja pelas autoridades norte-americanas.

“O Brasil foi, há pouco, cenário de graves acontecimentos, que modificaram profundamente os rumos da situação nacional. Atendendo à geral e angustiosa expectativa do povo brasileiro, que via a marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder, as Forças Armadas acudiram em tempo, e evitaram se consumasse a implantação do regime bolchevista em nossa terra. (...) Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da Nação, e gratos somos a quantos concorreram para libertarem-na do abismo iminente.”3

A esquerda progressista que estava fragmentada e desarmada nada pode fazer e alegando que não desejavam a guerra civil neste momento não se opuseram. Mais tarde, em 68 alguns setores sociais se levantaram contra o regime. Inclusive a Igreja que no começo não se opôs ao golpe.
Nesta fase do golpe a Igreja Católica romana respirava os ares do Concílio Vaticano II. Em 1968; a igreja se distancia do poder e começa a trabalhar as mudanças do Concílio Vaticano II com a formação das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e ainda foi o ano de Medellim onde os bispos do CELAM (Conferencia Episcopal Latino-americano) na resolução finais afirmavam.

“Não basta refletir, obter maior clareza e falar. É preciso agir. Esta não deixou de ser a hora da palavra mas tornou-se, com dramática urgência, a hora da ação”4

Nesta fase a Igreja do Brasil começa a utilizar o período da quaresma para realizar a CF (Campanha da Fraternidade). E neste momento da história brasileira se começa à perseguição aos religiosos que onde padres eram presos por falar, ou melhor, por pregar nas missas ou em palestras acusados pelo regime de incentivar a luta de classes, os padres ou como conhecidos sacerdotes do povo, que quando não eram presos ou  assassinados eram exilados como no caso do Pe. Francisco Jentel. E também os bispos eram ameaçados e processados pelo sistema. E no caso da Diocese de Nova Iguaçu o bispo foi seqüestrado  em 1976 e em 1979 ele ainda teve as igrejas da baixada pinchada, e uma bomba detonada na catedral.




1- Jornal do Brasil: Rio de Janeiro, 14 de março 69 pp 4--5 
2 – 1964-2004, 40 anos do golpe, ditadura militar e resistência no Brasil. Pág. 202.
3  - Trecho oficial da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil em 13 de abril de 1968.
4  - Documento oficial elaborada pelo CELAM (Conferencia Episcopal Latino-Americana)




Anexo: entrevista de Dom Adriano Hipólito em março de 1980


VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.


Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.


Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.


Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.


Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.


Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.


FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.


HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.


_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.


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_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.


MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.


Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.


WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.


Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981


Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970


Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970


P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976


SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006


Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986


Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.


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