Há ainda os que pedem um progressista, compreendido aqui como um liberal em matéria religiosa, propenso a relativizar a doutrina em nome da modernidade.
As limitações inerentes a cada uma dessas visões isoladas apontam para a urgência de um pastor que transcenda essas fronteiras, reunindo em si o que há de melhor em cada uma delas. Assim, a primeira característica desse líder que transcende as visões limitadas é um conservadorismo autêntico. A fidelidade à Tradição viva da Igreja (com "T" maiúsculo), que transmite desde os Apóstolos tudo o que a Igreja é e crê (Catecismo, n. 83), constitui esse conservadorismo essencial, diferenciando-se de tradições meramente humanas.
No exercício prático de seu ministério, essa fidelidade à Tradição deve ser temperada pela moderação, expressa em equilíbrio, prudência e um olhar atento à dignidade intrínseca de cada pessoa humana. A moderação é essencial no exercício do ministério papal, em consonância com a exortação do Concílio Vaticano II em Gaudium et Spes (n. 22): "A verdade é que somente no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem".
E essa atenção à dignidade humana naturalmente impulsiona o Papa ideal a ser Progressista (com "P" maiúsculo de Povo e de Papa) no sentido evangélico. Esse progressismo se traduz em um engajamento ativo na luta pela paz e na defesa da Verdade (com "V" maiúsculo), a exemplo de Jesus, que revolucionou seu tempo ao dialogar abertamente com mulheres (cf. Jo 4,7-30) e valorizar a presença das crianças (cf. Mc 10,13-16). Essa postura ecoa a visão de Bento XVI de que caridade e verdade são intrinsecamente ligadas (Caritas in Veritate, n. 2).
Em vez de erguer muralhas, o Papa ideal, inflamado pelo zelo pela paz e pela Verdade, empenha-se em construir pontes de diálogo com a humanidade, a exemplo de São Paulo, que se fez ponte entre culturas para anunciar o Evangelho (cf. 1 Cor 9,19-23). Consciente de sua vocação como "pontífice" – aquele que constrói pontes entre o humano e o divino, como recorda o Catecismo da Igreja Católica (n. 882) ao descrever o papel do Romano Pontífice como princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade da Igreja –, ele serve a Igreja (cf. Direito Canônico, cân. 331) e escuta suas dores e anseios (cf. Gaudium et Spes, n. 1), consciente da vocação da Igreja para o anúncio e a escuta.
O Papa ideal distingue claramente: a liturgia é vida da fé, não formalidade; seu papel é o de pastor, não de CEO de uma empresa religiosa. Infelizmente, em nossa realidade, percebemos essa mentalidade empresarial em algumas dioceses, com bispos que infelizmente conhecemos, focados em metas financeiras e gestão de recursos como executivos; e em paróquias, com padres que convivem bem próximo da gente, atuando mais como gerentes de serviços religiosos, preocupados com dinheiro e com seu conforto, fazendo do presbitério um palco, e estão longe de ser pastores próximos de suas dioceses e comunidades paroquiais. Essa perspectiva ressoa com os alertas do Papa Francisco, que sempre alertou para os perigos da mundanidade espiritual (Evangelii Gaudium, n. 93).
Embora líder na Igreja Católica, o Papa ideal sabe que Cristo é o verdadeiro Comandante (cf. Mc 4,35-41). Longe de posturas extremistas ou de uma moderação negligente, busca o equilíbrio essencial para cumprir sua missão única: "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, como um leão que ruge, anda ao redor, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pe 5,8-9), confirmando assim a fé dos irmãos (cf. Lc 22,32), protegendo a unidade eclesial, promovendo a justiça e a paz, e apontando para o horizonte do Reino. Na busca por um pastor segundo o Coração de Cristo – firme na fé, manso na escuta, audaz no amor e fiel à missão –, confiemos na guia do Espírito Santo, que age onde quer (cf. Jo 3,8).
Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, nos disse: "Se fordes aquilo que deveis ser, colocareis fogo no mundo inteiro" (Carta 368, a fra’ Raimondo da Capua).
Que o Espírito Santo nos conceda um novo Papa que seja fogo que ilumina, aquece e purifica, sendo ponte de diálogo, voz da Verdade e presença viva de Cristo em nosso meio; que Mãe de Guadalupe possa ser presença nesse pontificado que se iniciará com a eleição de um novo Papa possível, mais próximo do ideal e segundo o coração de Deus.
DNonato – Leigo católico, graduado em História, compromissado com sacerdócio batismal.
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