quarta-feira, 7 de maio de 2025

" O Papa ideal"

Em tempos de sucessão petrina, as apostas se dividem. Alguns desejam um conservador que, segundo eles, representa uma tradição com "t" minúsculo, ligada a costumes e rigores que nem sempre refletem o coração do Evangelho. Outros buscam um moderado, que tente equilibrar as tensões sem assumir posicionamentos claros, gerando por vezes insegurança.

Há ainda os que pedem um progressista, compreendido aqui como um liberal em matéria religiosa, propenso a relativizar a doutrina em nome da modernidade.

As limitações inerentes a cada uma dessas visões isoladas apontam para a urgência de um pastor que transcenda essas fronteiras, reunindo em si o que há de melhor em cada uma delas. Assim, a primeira característica desse líder que transcende as visões limitadas é um conservadorismo autêntico. A fidelidade à Tradição viva da Igreja (com "T" maiúsculo), que transmite desde os Apóstolos tudo o que a Igreja é e crê (Catecismo, n. 83), constitui esse conservadorismo essencial, diferenciando-se de tradições meramente humanas.

No exercício prático de seu ministério, essa fidelidade à Tradição deve ser temperada pela moderação, expressa em equilíbrio, prudência e um olhar atento à dignidade intrínseca de cada pessoa humana. A moderação é essencial no exercício do ministério papal, em consonância com a exortação do Concílio Vaticano II em Gaudium et Spes (n. 22): "A verdade é que somente no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem".

E essa atenção à dignidade humana naturalmente impulsiona o Papa ideal a ser Progressista (com "P" maiúsculo de Povo e de Papa) no sentido evangélico. Esse progressismo se traduz em um engajamento ativo na luta pela paz e na defesa da Verdade (com "V" maiúsculo), a exemplo de Jesus, que revolucionou seu tempo ao dialogar abertamente com mulheres (cf. Jo 4,7-30) e valorizar a presença das crianças (cf. Mc 10,13-16). Essa postura ecoa a visão de Bento XVI de que caridade e verdade são intrinsecamente ligadas (Caritas in Veritate, n. 2).

Em vez de erguer muralhas, o Papa ideal, inflamado pelo zelo pela paz e pela Verdade, empenha-se em construir pontes de diálogo com a humanidade, a exemplo de São Paulo, que se fez ponte entre culturas para anunciar o Evangelho (cf. 1 Cor 9,19-23). Consciente de sua vocação como "pontífice" – aquele que constrói pontes entre o humano e o divino, como recorda o Catecismo da Igreja Católica (n. 882) ao descrever o papel do Romano Pontífice como princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade da Igreja –, ele serve a Igreja (cf. Direito Canônico, cân. 331) e escuta suas dores e anseios (cf. Gaudium et Spes, n. 1), consciente da vocação da Igreja para o anúncio e a escuta.

O Papa ideal distingue claramente: a liturgia é vida da fé, não formalidade; seu papel é o de pastor, não de CEO de uma empresa religiosa. Infelizmente, em nossa realidade, percebemos essa mentalidade empresarial em algumas dioceses, com bispos que infelizmente conhecemos, focados em metas financeiras e gestão de recursos como executivos; e em paróquias, com padres que convivem bem próximo da gente, atuando mais como gerentes de serviços religiosos, preocupados com dinheiro e com seu conforto, fazendo do presbitério um palco, e estão longe de ser pastores próximos de suas dioceses e comunidades paroquiais. Essa perspectiva ressoa com os alertas do Papa Francisco, que sempre alertou para os perigos da mundanidade espiritual (Evangelii Gaudium, n. 93).

Embora líder na Igreja Católica, o Papa ideal sabe que Cristo é o verdadeiro Comandante (cf. Mc 4,35-41). Longe de posturas extremistas ou de uma moderação negligente, busca o equilíbrio essencial para cumprir sua missão única: "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, como um leão que ruge, anda ao redor, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pe 5,8-9), confirmando assim a fé dos irmãos (cf. Lc 22,32), protegendo a unidade eclesial, promovendo a justiça e a paz, e apontando para o horizonte do Reino. Na busca por um pastor segundo o Coração de Cristo – firme na fé, manso na escuta, audaz no amor e fiel à missão –, confiemos na guia do Espírito Santo, que age onde quer (cf. Jo 3,8).

Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, nos disse: "Se fordes aquilo que deveis ser, colocareis fogo no mundo inteiro" (Carta 368, a fra’ Raimondo da Capua).

Que o Espírito Santo nos conceda um novo Papa que seja fogo que ilumina, aquece e purifica, sendo ponte de diálogo, voz da Verdade e presença viva de Cristo em nosso meio; que Mãe de Guadalupe possa ser presença nesse pontificado que se iniciará com a eleição de um novo Papa possível, mais próximo do ideal e segundo o coração de Deus.

DNonato – Leigo católico, graduado em História, compromissado com sacerdócio batismal.

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