quarta-feira, 30 de abril de 2025

Vermelho: A Cor Esquecida da Seleção Brasileira


A Seleção Brasileira iniciou sua trajetória internacional em 1914, ano em que foi criada a entidade que daria origem à atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Desde os primeiros tempos, o uniforme da Seleção era branco — com algumas variações ao longo dos anos —, mas sempre com predominância dessa cor.

No entanto, um episódio marcante mudou para sempre a história da camisa da Seleção: a final da Copa do Mundo de 1950, o célebre "Maracanazo". A derrota para o Uruguai, em pleno Maracanã, foi tão traumática que motivou uma mudança radical. Como o futebol está repleto de simbolismos e superstições, em 1952 foi promovido um concurso nacional para definir um novo uniforme.

O vencedor foi Aldyr Garcia Schlee, um jovem gaúcho de apenas 19 anos. Ele propôs a agora icônica combinação: camisa amarelo-ouro com detalhes verdes, calção azul-cobalto com listras brancas e meias brancas com detalhes verdes e amarelos. Uma das exigências do concurso era que o novo uniforme incorporasse as quatro cores da bandeira nacional — algo que Aldyr fez com maestria. O novo traje estreou nos Jogos Olímpicos de 1952 e ficou conhecido como a "camisa canarinho", símbolo da Seleção nas conquistas que viriam nas décadas seguintes.

Mas o amarelo não foi a primeira cor a vestir a Seleção. Nem o azul, tradicional segundo uniforme desde 1938. Poucos se lembram, mas o vermelho já vestiu a Seleção Brasileira em momentos históricos. Em 1917, durante uma competição pan-americana, e em 1937, em uma partida contra o Peru, o Brasil jogou de vermelho — bem antes da consagração do amarelo como padrão.Essas camisas vermelhas foram utilizadas em situações específicas, mas deixaram sua marca. Em 2015, o vermelho voltou a aparecer, dessa vez em uma edição comemorativa lançada pela Nike, em homenagem à equipe brasileira que disputou os Jogos Pan-Americanos de 1959, em Chicago. A camisa foi usada apenas pela equipe olímpica sub-23, em um amistoso, sem ligação direta com a equipe principal.

A Seleção principal nunca adotou o vermelho como cor tradicional, mas ele reapareceu pontualmente, sempre em contextos históricos ou comemorativos. E vale reforçar: essas aparições não têm relação com ideologias políticas ou partidárias — uma interpretação equivocada que surgiu em tempos polarizados. 

Além da história futebolística, há também um significado simbólico mais profundo. O vermelho está ligado à origem do Brasil: o pau-brasil, árvore que deu nome ao país, era usado para extrair uma tinta avermelhada. É também a cor do sangue que corre nas veias do povo brasileiro, símbolo de luta, resistência e construção de uma nação. Para os religiosos, o azul pode remeter ao manto de Nossa Senhora; o amarelo e o verde, à monarquia; já o vermelho, ao Espírito Santo — terceira pessoa da Santíssima Trindade.


A CBF já declarou que manterá as cores tradicionais — o amarelo, o verde, o azul e o branco — como identidade oficial da Seleção. Contudo, não se pode ignorar o vermelho como parte da história brasileira, tanto dentro quanto fora dos campos.

 Quem se limita ao amarelo talvez enxergue apenas o presente. Já quem veste o vermelho pode estar, na verdade, resgatando um patriotismo mais profundo, autêntico e ancestral.

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DNonato é licenciado em História, católico e cursilhista. Torcedor do São Paulo, acredita que futebol se joga com paixão — e que o povo vibra mesmo é quando a rede balança.

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