Anteriormente, refletimos sobre as figuras de Agostinho, São Paulo e o Papa Leão XIII, em um paralelo que se conecta à nossa reflexão atual¹, esquecer o paralelo entre o Francisco de Assis e de Roma²
Francisco e Leão: dois nomes que se repetem na história da Igreja, carregando em si o peso da profecia e a leveza da fidelidade. Este texto convida o leitor a perceber os ecos entre São Francisco e Frei Leão, e entre o Papa Francisco e o recém-eleito Papa Leão XIV. Um paralelo que revela como o Espírito age na complementaridade — entre quem anuncia com coragem e quem sustenta com ternura.
Boa leitura!
DNonato³
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Francisco e Leão: Ecos de um Evangelho Atemporal
As histórias de São Francisco de Assis e Frei Leão, assim como as do Papa Francisco e do recém-eleito Papa Leão XIV, ecoam através dos séculos, revelando como diferentes vidas podem se entrelaçar na propagação de um único Evangelho. A trajetória da Igreja raramente segue uma linha reta, desvendando-se, por vezes, em caminhos improváveis, como os desígnios divinos.
No século XIII, quando o corpo da Igreja ostentava poder e pompa, Francisco de Assis surgiu, qual novo João Batista em vestes de radical simplicidade: despojado, inquieto e profundamente irmanado à criação. Como o profeta do deserto, apontava para o essencial: “o Evangelho nu, como foi nu Cristo na cruz.” Seu chamado, um eco da voz de Isaías, era o de reconstruir ruínas antigas, levantar os fundamentos para as futuras gerações (Is 58,12). E ele o fez — com a eloquência da vida, e não a frieza dos tratados.
Contudo, mesmo o mais fervoroso dos profetas necessita de um confidente. Ao lado de Francisco, encontramos Frei Leão — não um arauto do verbo, mas um guardião do silêncio. À exemplo de João, o discípulo amado que reclinava a cabeça no peito do Mestre, Leão habitava o próprio coração de Francisco. Ele acolhia suas lágrimas, testemunhava suas noites em oração, compartilhava seus temores. Era o escriba da alma, a testemunha íntima. Se Francisco era a chama que incendiava, Leão era o abrigo que protegia e alimentava o fogo.
Séculos depois, no coração do século XXI, um ancião Jesuíta, influenciado pelo espírito de pobreza pregado pelo jovem Francisco de Assis, ao ser eleito para Bispo de Roma, escolhe o nome Francisco, recordando ao mundo a vida e obra do primeiro. Irrompendo das terras do sul do mundo como um Moisés que escutou o clamor de seu povo, convocou a Igreja a uma profunda conversão pastoral. Como Paulo, enfrentou resistências com uma firmeza adornada de ternura. E, à semelhança de Jesus, caminhou entre os marginalizados, preferindo a companhia dos esquecidos ao brilho das cúpulas de prestígio.
E, uma vez mais, a providência divina concedeu-lhe "Leões". Não apenas um, mas uma legião de colaboradores silenciosos, fiéis e obedientes — como aqueles setenta e dois discípulos enviados em missão de dois em dois (Lc 10,1). Foram eles que suportaram o peso das decisões cruciais, o desgaste das reformas desafiadoras e a esperança resiliente dos mais humildes. Entre esses leais companheiros, um nome se destacou: o Cardeal Robert Francis Prevost, agora elevado à cátedra de Pedro como Papa Leão XIV.
Leão XIV, o Cardeal Robert Francis Prevost, foi eleito Papa em 8 de maio de 2025, sucedendo a um pontificado marcado por intensa paixão e dinamismo. Seu ministério anterior caracterizou-se por uma atuação discreta, porém inabalável, buscando incessantemente a reconciliação e a consolidação das reformas empreendidas pelo Papa Francisco. Com um espírito pastoral análogo ao de Frei Leão, Leão XIV, nascido nos Estados Unidos, mas profundamente ligado ao Peru por sua história missionária, possui uma profundidade teológica e um carisma singular que harmoniza a solidez da tradição com as urgentes demandas dos tempos presentes. Seu pontificado não prenuncia uma ruptura, mas sim uma progressão natural — como um leão que, após atenta escuta e profundo aprendizado, assume a liderança para guiar com sabedoria.
Aquele que outrora caminhava ao lado, agora assume a condução do rebanho. À exemplo de Eliseu, que recebeu o manto de Elias, Leão XIV herda um legado e prossegue a jornada. Longe de negar a herança recebida, ele a aprofunda com discernimento. Tal como Frei Leão conheceu a alma do Francisco que acompanhou, o novo Pedro é chamado a confirmar seus irmãos na fé (Lc 22,32).
A história, agora, se entrelaça de forma notável, revelando como Frei Leão sustentou o carisma transformador de Assis, e como Leão XIV pode dar continuidade e solidez à reforma de Bergoglio. Um habitou um tempo marcado por profundas feridas; o outro tem a missão de conduzir um tempo de renovada esperança. Um velou pela santidade de um homem; o outro zela pela integridade de toda a Igreja.
Não se tratam de dois blocos isolados no fluxo do tempo, mas sim de distintas manifestações do mesmo Espírito Santo que sopra onde e como deseja
São Francisco de Assis e Frei Leão. Papa Francisco e Leão XIV. Quatro nomes, quatro vidas, convergindo em uma única e perene missão: anunciar o Evangelho com a autenticidade da vida, sustentar a fé com a ternura do coração e reformar as estruturas com a coragem que brota do amor.
A Igreja não pode estar estacionada à margem do mundo ferido, pois o Reino de Deus continua a florescer nas periferias existenciais e geográficas da humanidade em guerra. Por isso, o Evangelho não pode ser parado.
De Assis, onde a chama de Francisco acendeu, a Roma, onde Leão XIV assume o timão, a história da Igreja pulsa com a força da profecia e a solidez do apoio fraterno. Em cada época, o Evangelho se propaga quando corações ardentes e almas contemplativas unem seus dons. A audácia de um Francisco encontra eco na fidelidade de um Leão, revelando que a renovação da fé nasce tanto do grito que anuncia quanto do silêncio que sustenta, impulsionando a Igreja a um futuro de esperança.
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3 - DNonato é um leigo católico, Graduado em História, devoto de Nossa Senhora de Guadalupe, pejoteiro, cursilhista e esteve secretário por 5 anos do CNLB Leste I
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