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III - CRISTIANISMO: SUBVERSÃO POLITICA
Dom Adriano Hipólito. |
Nos
anos que temos o golpe a Igreja esta se redescobrindo e a Diocese de Nova
Iguaçu esta em comunhão com o povo da Baixada Fluminense que vinha de áreas
mais sofridas do Brasil para fazer o Rio de Janeiro.
Após
o Concilio a Igreja tende a assumir uma posição voltada para a realidade e,
sobretudo a criação das Conferências Episcopais no ano de 1952 que em 1962 –
1965 no concilio Vaticano II vai constituir o I plano de pastoral de conjunto
levando os bispos a refletir sobre temas sociais e a discutir sobre a reforma
agrária em um momento crucial para a democracia no mundo. Contudo os bispos
conservadores editavam o livro “Reforma
Agrária, Questão de Consciência”, opondo-se a encíclica do papa João XXIII
A Pacem in Terris (A Paz na Terra) são esses mesmos que irão apoiar o golpe. A carta propunha a Igreja uma colaboração
entre os povos, o que levou a JUC (Juventude Universitária Católica) a fazer
aliança com militantes comunistas nas eleições da UNE (União Nacional dos
Estudantes) e nas lutas populares.
O Bispo
Diocesano de Nova Iguaçu a sua maneira tenta ser fiel à proposta dos documentos
e utiliza o jornal diocesano “A Folha” para orientar e forma o povo, mas sempre
questionado ora por autoridades ou por pessoa que não via com bons olhos as
mudanças dentro da Igreja e na Igreja. Outro fenômeno que a diocese vai enfrentar é
os movimentos, ou melhor, as seitas de campo pentecostais e a ainda a Igreja
Católica Brasileira, fundada pelo bispo D. Duarte da Costa “o bispo de Maura”,
tal Igreja bebe em uma fonte nacionalista, tinha o seu espaço de atuação
confuso de acordo com D. Adriano, havia certos padres desta Igreja que rezavam
na intenção do bispo romano Adriano, e até houve casos de supostos bispos da
mesma que chegavam a D. Adriano na intenção de intimida-lo devido ao seu
comportamento e afirmava que eles eram amigos de um general ou de um coronel.
D. Adriano no jornal “A Folha” propôs um estudo mais detalhado sobre tal Igreja
e seu fundador.
Há
casos de acordo com Srº Lula (Luiz) da comunidade N. Srª. Da Graças do bairro
Moquetá em Nova Iguaçu que o bispo da ordem de Santo André da Igreja Católica Brasileira ordenava meninos para tentar fazer frente a
Igreja da Baixada. Sabemos que tal grupo religioso tinha uma forte vertente
nacionalista desde que foi criada e para os que estavam no poder essa era uma
das bandeiras; uma Igreja que pregasse uma fé inculturada ou uma teologia da
libertação só podia ser uma teologia marxista como ainda alguns
afirmam eram antinacionalistas. Uma Igreja voltada para o espiritual era
defendida pelos poderosos que mandavam no sistema e manipulava o poder, citavam
textos bíblicos para justificar seus atos.
- · “Cada qual seja submisso as autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus. Assim quem se opõem à autoridade, esta se opondo à ordem estabelecida por Deus”*
Esse
texto de São Paulo apóstolo era usado para endossar toda a atitude do sistema
que não respeita a realidade humana e não respeita, o ser humano. Dom Adriano
questionou tal cristianismo, pois são muitas as dores do povo e temos
que assumi-los como sendo de própria igreja e os documentos do Concílio
Vaticano II e toda a DSI (doutrina social da igreja) nos leva a tal compromisso com o povo. D. Adriano,
D.Pedro casaldaliga, D. Balduino , D. Helder e outros bispos juntamente com a
CNBB. Levantam uma questão que estavam em evidência as torturas que o povo
sofria, seja no salário mínimo e/ou na violência da falta de moradia, de comida
e de liberdade. São muitas as prisões do povo durante a ditadura.
A
Baixada Fluminense era o local da desova dos que incomodavam o poder, se jogava
os defuntos na região de Belford roxo e se colocava placa como se o defunto
tivesse estuprado roubado etc., e todos
esses crimes eram realizados pelo aparelho do estado e tinha a função de impor
o terror no povo.
Diante
deste quadro D. Adriano vai fundar a comissão de Justiça e Paz. A comissão já
nascia perseguida pelo sistema no dia da primeira reunião no CENFOR (Centro de
formação de lideres), que desde de março de 2007 é a sede do CDH (Centro de
direitos humanos) e de agosto de 2008 é
a sede da Cúria diocesana, no bairro de Moquetá foi cercado pelo forte
aparelhamento policial no qual o tenente Basto (hoje coronel da reserva) fazia
parte de tal guarnição. Em uma entrevista em dezembro de 2005 no mesmo prédio
ele diz ter participado de tal missão e fala que naquele ano de 78 no CENFOR
(Centro de Formação de Lideres), se encontrava um grupo de comunistas e
subversivos. Neste dia D. Adriano interrogava: aos militares presentes o porquê
da tal atitude dos policias.
O
jornal “A Folha”, publicada semanalmente pela Diocese de N. Iguaçu tinha duas
características, a primeira de ensinar o povo a participar da missa, e a
segunda de propor ao povo um momento de formação.
Em fevereiro de 1979 na fabrica de carroceria
Ciferal, no Rio de Janeiro a PM espancou operários que exigiam pagamento
salário atrasado desde dezembro de 1978. Neste contexto D. Adriano na sua
coluna do jornal “A Folha”, recorda o encíclica do Papa Paulo VI sobre o
trabalho:
·
“o
salário é uma questão de justiça. É um dinheiro honesto ganho com o suor do
rosto. É uma paga do trabalho”[1]
. É por isso que o S.
Padre afirma na encíclica populorum
progressio (Progresso dos povos). “No contexto atual, não a maneira mas importante
para realizar a justiça.Nas relações entre trabalhadores e doadores de trabalho
de que exatamente aquele que se concretiza na remuneração do mesmo trabalho.
Independente do fato de o trabalho ser efetuado pelo sistema de produção na
propriedade privada de meios de produção no
sistema em que a propriedade sofreu uma espécie de “socialização”, a
relação entre o doador de trabalho (em primeiro lugar doador direito) e o
trabalhador resolve-se à base de salário quer dizer, mediante a justa
remuneração do trabalho feito.”2
O
Papa ensina que a política salarial oferece o critério para julgar a justiça de
um sistema socioeconômico. “Importa salientar também que a justiça de um sistema
socioeconômico e, em qualquer hipótese, o seu justo funcionamento deve ser,
apreciados, no fim de contas, segundo a maneira como é equitativamente remunerado o trabalho neste sistema.” Os bens da natureza ou os bens que são
frutos da produção “tornam-se acessíveis ao homem do trabalho graças ao salário
que ele recebe como remuneração do seu trabalho. Daqui vem que o justo salário
se torna em todos os casos à verificação concreta da justiça de sistema
socioeconômico e, em qualquer hipótese, do seu justo funcionamento.”
Seria
bom se os cristãos de todos os pisos sociais, inclusive os que têm
responsabilidade no bom funcionamento das leis ótimas (que nem sempre funcionam
na parte dos operários), seria bom se tomassem a peito essas leis de justiça e
paz social. Lições do Evangelho de Jesus Cristo. Os cristãos não morrem de velhice, como
afirmava D. Adriano, mas no caso do Padre de Pernambuco detido por está junto
com os catadores de papel, foi acusado como comunista e torturado durante vinte
e quatro horas e logo depois solto sem saber o real motivo da tal barbaridade.
Dom Adriano com o Beato João Paulo II |
“Preciso
ter um cuidado especial com esse corpo que Deus lhe deu, e a Igreja esta no
mundo para levar ao povo uma libertação total que a dita a Teologia. Pois a
Teologia que não liberta, não pode ser teologia” , afirma D. Adriano.”3
O
Bispo Adriano, quando acusado de comunista, dizia ser cristão e buscava no
periódico semanal. “A Folha” a importância de Puebla na igreja de Nova Iguaçu,
pois deveria ser orientada pelas linhas deste documento e, que o Pastor nunca
fosse um ativista político, até porque
tanto como o socialismo marxista tinha suas ditaduras no mundo.
Parafraseando Marx, a “religião é o ópio do
povo”, quando não vai de encontro com uma proposta de libertação ou de solução
para a realidade e, sendo assim, o comunismo encerra as instituições religiosas
no mundo, permitindo certos privilégios aos seus lideres em suas doutrinas
rígidas. Neste termo, o comunismo é ruim e atrapalha a humanidade a ser e até
mesmo encontra-se como ser único, criado e amado por Deus.
A
Diocese de Nova Iguaçu busca soluções para as implementações feitas pelo
concilio Vaticano II e cria o Jornal “A Folha”, onde D. Adriano faz suas
manifestações e reflexões sobre alguns temas que levem à população pensamentos.
Compreende-se
melhor, hoje, a autonomia dos leigos, no domínio temporal. No passado, tudo
estava sob o controle do poder eclesiástico. Não só as Igrejas e cemitérios,
mas até as escolas, os hospitais e outras obras de assistência. Essas
instituições nasceram dentro da comunidade de fé e parecia normal que
continuassem ligadas a ela, quanto às normas e decisões4 .
Padres
e religiosos assistentes da juventude da Ação Católica começaram então a
influenciar seus bispos; os bispos começavam a somar a riqueza de algumas
dessas experiências, reunidos na CNBB. Mas era apenas o começo.E, como reza a
experiência, o começo é sempre difícil, anda-se sempre às apalpadelas, qualquer
tropeção maior assusta.Foi essa igreja em processo de mudança – e portanto
dividida – que o golpe de 64 encontrou no
Brasil.
Essa Igreja que, medrosa, assustada, deu uma freada no movimento de promoção humana
que então iniciava, já agora com o respaldo vigoroso do Papa João XXIII e suas encíclicas
Matter et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963). Foi essa Igreja que
produziu o documento de apoio ao golpe
militar à boliviana que derrubou o presidente constitucional João Goulart, após
trama sorrateira iniciada em Washington, como hoje se prova com rigor
documental. Em pouco, porém, os bispos brasileiros viram que estavam embarcando
numa canoa furada e saltaram logo que ela começou a fazer água para viver a
fase mais expressiva dos quase quinhentos anos de sua história no Brasil.
Foi
uma virada brusca, como lembra o mesmo dom Hélder Câmara nunca suficientemente
citado. Os militares golpistas teriam motivos de sobra para se espantar. Diante
da violência da repressão, de um lado, e da concentração de renda, de outro,
que tornava agressiva a pobreza e insuportável e nada cristão o fosso a separar
ricos muito ricos e pobres cada vez mais pobres no País, a Igreja passou a “denunciadora
das injustiças, a encorajadora de todo um esforço de promoção humana”.
Em
função dessa virada, a Igreja conhece o mais belo período de seus quase cinco
séculos de história no Brasil. É o período de perseguição, no qual a Igreja no
Brasil se encontra com a Igreja primitiva, a Igreja das catacumbas, do Império
Romano, perseguida do primeiro ao quarto século. É o período em que a Igreja no
Brasil se redime de tantos anos apagados e de mediocridade, nos quais o
heroísmo – no sentido cristão da palavra – foi sempre uma exceção, embora dele
sempre houvesse focos de grandeza, mas apenas focos, aqui e ali. Depois de 64,
do golpe, a partir da repressão, num grau até então desconhecido em nossa
historia, a Igreja, não é exagero dizer, atuou como um todo, o que é facilmente
explicável.
Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns |
Tudo
no País, mas rigorosamente tudo, ficou de uma forma ou de outra, mais aqui,
menos ali, sob o domínio do poder militar arbitrário. A Igreja, não. Foi a
única exceção, o ultimo refugio – e isso lhe deu forças. Até porque, desligada
do Estado, o Estado não tinha como controlá-la. O Estado era impotente, por
exemplo, para tirar dom Paulo Evaristo Arns da arquidiocese de São Paulo, como
certamente desejaria. O Estado era impotente para calar as denúncias de dom
Helder em Paris, denúncias sobre as torturas, sobre os assassinatos, que foram
tantos, sobre os desaparecidos. O Estado era impotente para afastar dom Pedro
Casaldáliga de São Félix do Araguaia e do Brasil, como ardentemente desejou.
Mas para isso dependia do Papa e encontrou sempre um firme obstáculo em Paulo VI.
O Estado era impotente para aplicar aos dominicanos a solução pombalina da
expulsão, como também desejou. Assim, em
determinado momento, quando todo País, todas as instituições civis estavam
esmagadas pelo solado da bota, a Igreja era a única que conseguia fustigar o
regime autoritário. Isso irritava o poder militar, que investia com fúria, mas
só conseguia pequenas vitórias aparentes aqui e ali. Expulsava um padre
estrangeiro hoje, prendia ou acusava padres, religiosos ou ligados à Igreja
amanhã. Mas nunca conseguiu compreender que a Igreja cresce no que Ivo
Lesbaupin chamou admiravelmente num de seus livros de “a bem-aventurança da
perseguição”. Nem podia, porque os donos do regime nunca tinham estudado
história da Igreja.
2 - Jornal “A FOLHA”
pág 1 janeiro de 1979.
3 - Citando Pe.
Zezinho, que encantava a Juventude na década de 70
4 - - documento
23 de 1978 (Conferencia Nacional dos
Bispos do Brasil)
Anexo: entrevista de Dom Adriano Hipólito em março de 1980
VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.
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