O texto a abaixo esta publicado no jornal Caminhado da Diocese de Nova Iguaçu e uma belíssima reflexão sobre a nossa vocação de cristão. O padre que assina é Pároco na cidade de Japeri, uma das mais pobres do Estado do Rio de Janeiro.
Daniel Nonato
Brasão Diocesano |
Mapa da Diocese de N. Iguaçu. |
Eles tinham cada dia uma “tarefa” a cumprir para encontrar pessoas (como todo trabalhador tem seu trabalho determinado) e eu faço o que “eu gosto” ou que “eu acho” importante. E assim, depois de seis anos há muitas ruas que nem entrei nelas. Muitas pessoas frequentam a igreja e eu não sabemos bem onde moram, outras deixaram de frequentar e eu nunca as procurei... e aqui não precisa “barquinho” para entrar nas ruas de algumas favelinhas onde corre livre o esgoto ou andar de cavalo com água até o pescoço para ir às ruas com lama, ou subir pelas trilhas dos morros: bastaria um pouco de boa vontade. E o pior é que quando a gente chega num lugar mais complicado, te acolhem como um herói e santo e... com muita alegria. A visita semanal aos presídios (lá estão os ‘últimos”), às vezes me custa tanto, mas o espírito missionário dos leigos, me fortalece.
E pensei em muitos missionários e missionárias do nosso povo: jovens que para seu futuro, trabalham de dia e estudam de noite (e eu no seminário recebia quase tudo de graça e ainda éramos exigentes...). Há pessoas que pegam o trem todos os dias às 4ou 5 horas da manhã pelo pão de cada dia (é a eucaristia diária deles?) e voltam tardas horas, longe da família e dos filhos, e eu... falo com muito zelo do dízimo, de partilha de colaboração generosa... e cobro a participação nas missas, nas reuniões, nas atividades comunitárias... e não conheço bem seus problemas, não escuto seus dramas, não sei apreciar o heroísmo e santidade deles. E quando chove, colocam sacos plásticos nos pés e levam tudo na maior esportiva e eu ando de carro, tenho “meus direitos”. A grande maioria mora em casas humildes e muitas com telhado de amianto: um forno! E eu penso às vezes de colocar um ar condicionado, e moro numa das casas mais bonitas do bairro. Das torneiras sai água imprópria, barrenta, às vezes falta, e pegam “viroses” e eu tenho plano de saúde, roupa limpa e passada, comida a meu gosto, prestígio e dignidade, e meu salário limpo, e sou chamado de “servidor” de Deus e do povo.
Quando jovem me encantei com a pessoa de Jesus: pensava em segui-Lo com total dedicação e pobreza, hoje me questiono: procuro o Tesouro .... ou me satisfaço com “chapeados”....
Pe. Jacinto Miconi
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