A imprensa do dia 24 de setembro de 2025 registrou com clareza esse momento: manchetes anunciaram o recuo de lideranças no Congresso, analistas apontaram desgaste da proposta, juristas lembraram a inconstitucionalidade de anistiar crimes contra a ordem democrática. Mas todos frisaram: o risco não acabou. O projeto ainda ronda os corredores do poder, pronto para voltar em nova roupagem. É como uma sombra que insiste em pairar sobre a República. Aqui está o ponto: se a política hesita, o povo grita. E quando a cidadania se levanta, a história muda de rumo.
Nas galerias da CCJ, a palavra pública tornou-se profecia os senadores se manifestaram.
- Alessandro Vieira (MDB‑SE, centro) relator afirmou: “a PEC abre as portas do Congresso Nacional para o crime organizado” e que o seu objetivo real é “encobrir investigações que possam prejudicá-los.”
- Eliziane Gama (PSD‑MA, centro-direita) acusou: “nasceu com o objetivo de criar um muro de impunidade … uma nova casta no Brasil … aqueles que podem cometer crimes e estariam fora dos rigores da lei.”
- Humberto Costa (PT‑PE, esquerda) foi direto e firme: “o Senado hoje vai decretar o fim dessa proposta indecente … a máscara da extrema direita caiu no nosso país.”
- Eduardo Braga (MDB‑AM, centro) evocou a importância do mandato popular: “essa PEC desmoraliza o mandato popular… o MDB … se manifestou … com firme oposição contra a PEC da Imoralidade, da Bandidagem e da Blindagem.”
- Omar Aziz (PSD‑AM, centro-direita) denunciou a audácia normativa: “essa PEC é imoral — não é ideológica — ela é imoral! Até porque um senador da República não tem o direito de expor a família de ninguém.”
- Eduardo Girão (Novo‑CE, direita liberal) completou a profecia: “essa PEC da Blindagem é indefensável … o voto secreto diminui a responsabilidade do parlamentar … o anonimato ajuda a corrupção e negociatas em portas fechadas.”
Cada declaração funcionou como eco do grito das ruas: a sociedade não aceitará pactos de impunidade, direita, centro e a esquerda sentiram a pressão popular.
Esse grito do presente não surge do nada; ele atravessa décadas e colide com as feridas abertas da história brasileira, lembrando que a impunidade tem sido usada como instrumento de poder há muito tempo. A memória de 1979 não pode ser esquecida. Naquele ano, sob a máscara da reconciliação, o regime militar ofereceu anistia “para ambos os lados”: libertou guerrilheiros, mas blindou agentes do Estado responsáveis por tortura, desaparecimentos e assassinatos. A aparente simetria escondia uma profunda injustiça, um pacto de silêncio que marcou décadas de impunidade. Hoje, a tentativa de anistiar golpistas ecoa essa mesma lógica perversa: perdoar crimes políticos em nome de uma falsa pacificação. Mas desta vez, a diferença é visível, audível e poderosa: o povo responde nas ruas que não aceitará repetir os erros do passado.
Hoje vivemos um ponto de inflexão. O que antes parecia passividade agora se transforma em mobilização. A bandeira do Brasil, sequestrada por extremistas durante anos, foi reconquistada pelo povo comum. A antropologia nos ajuda a ler esse gesto como rito de ressignificação: símbolos não são neutros, eles condensam identidades. Ao brandir o verde e amarelo contra a impunidade, a multidão afirmou que a pátria não pertence a golpistas, mas à democracia. Hannah Arendt já advertira que o perdão, quando banalizado, se transforma em cumplicidade com a violência; Paul Ricoeur lembrava que não existe perdão verdadeiro sem reconhecimento da culpa. A anistia que se propõe não é reconciliação, é apagamento. A ciência política confirma: ao premiar quem atacou as instituições, abre-se precedente para reincidência. A história ensina que o Brasil sempre recorreu a anistias como mecanismo de elites para proteger a si mesmas. Mas o que é novo, e profético, é que toda vez que o povo desperta, a lógica do silêncio é quebrada.
É aqui que o tom profético se impõe. A voz das ruas anuncia que não haverá democracia verdadeira sem memória, sem justiça e sem responsabilidade. Travar a anistia não é apenas vencer um projeto legislativo, é impedir que a pátria seja vendida em nome da covardia política. É recusar a reconciliação sem verdade. É afirmar que a democracia não se negocia, se defende. Como diria o profeta Amós, “corra o direito como as águas, e a justiça como um rio perene” — porque sem justiça, o perdão é apenas cumplicidade.
O futuro permanece aberto. A PEC da Bandidagem pode voltar com outro nome, mas agora ela sabe que o povo está atento. A anistia sentiu o peso da história, a força da memória e a energia da multidão. E se o povo brandar forte, não passará. O que está em jogo não é apenas uma votação, mas o destino da República. A democracia brasileira ainda é frágil, mas mostrou que tem anticorpos. O profético gesto das ruas e das vozes que se levantaram no Senado — de direita, centro e esquerda — anuncia: não haverá pacto de silêncio, não haverá esquecimento forçado, não haverá blindagem para golpistas.
O Brasil acordou. O povo não se cala. E se a democracia for atacada, haverá um grito que atravessará gerações: NUNCA MAIS IMPUNIDADE!
DNonato.- um brasileiro que prefere a democracia.
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