Vivemos no Brasil e temos diante das nossas telas as mais variadas noticias, ouvimos ou assistimos relatórios das tragédias: guerra na Ucrânia, o incidente em Petrópolis e ainda o aumento dos preços dos combustíveis e a vivência de uma pandemia global somos convidados nesse 2º Domingo da Quaresma a fazer as seguintes leituras: Genesis 15,5-12.17-18; Salmo 26 (27) com a resposta: O Senhor é a minha luz e a minha salvação.; Filipenses: 3,17-4,1 e o evangelho Lucas9,28b-36.
Neste sentido, somos convidados a uma transfiguração dentro da nossa realidade que acontecerá dentro de um projeto se abraçarmos a conversão, onde unimos a oração com a escuta do Deus Vivo e nossa disposição pra vivermos a vida em sociedade e na Comunidade de Fé. A promessa de Deus ao Patriarca Abraão devido a sua fidelidade total, sua aceitação radical, na sua entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel nas promessas, nos faz pensar neste tempo quaresmal o quanto somos fieis aos projeto do Deus da Vida.
Escutar a voz do Filho do Pai, que é Jesus passa pelas periferias existências de uma sociedade consumista que não consegue olhar para o passado tirar lições para o presente, passa pela nossas escolhas e sobretudo da nossa intimidade com Deus. “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. A voz vinda da nuvem pede-nos para escutar aos clamores do Filho de Deus nas diversas cruzes. Vivemos o tempo onde todos querem opinar, todos querem gerar ou adquirir likes e aprovação, seja na Igreja, seja na sociedade do barulho, do som alto e algumas vezes das fakenews. Essa mensagem da escuta é algo essencial, precisamos ouvir o Deus que se revela nas periferias, nos becos e vielas, que fala com a boca dos excluídos e exilados por nosso moralismo religioso e hipócrita, precisamos presta atenção nesses filhos de Deus. No domingo anterior ouvimos que Jesus foi tentado e viveu uma experiência de se encontrar com o Inimigo de Deus e hoje diante de três testemunha ele se encontra com as bases do Judaísmo (Moisés e Elias) e parece que aqui neste momento, há uma conversa entre os três, e não se fala uma palavra de Jesus para os seus discípulos e os mesmos ficam em êxtase (abobalhados com tudo que estavam testemunhando), talvez diante das dores e crises, muitos buscam apenas essa experiência emocional de uma fé descomprometida e a fala do Apóstolo Pedro revela uma espiritualidade do comodismo, não tinha noção dos altos papos de Jesus com Moisés e Elias, mas deseja construir uma tenda pra cada um. O gesto de construir tenda envolve fixar-se em um local, e com a manifestação do Pai de forma imperativa paralisou qualquer proposta que os apóstolos tivessem em mente.
Dialogar com o a realidade envolve silenciar, envolve ainda nos comprometermos com um Reino que é pra todos, Pedro no seu êxtase e admiração não olhou pra si e para os companheiros, três tendas e aqui tínhamos seis pessoa. Agir por emoção positiva ou negativa nos colocam em risco pode provocar conflitos, o famoso eu disse, mas queria dizer isso. Por impulso se magoa e ofende e depois fica difícil a emenda, na quaresma neste domingo somos convidados a ouvir a voz de Deus, muitas das vezes Deus usa boca do próximo e até fala aquilo que não queremos ouvir. O diálogo verdadeiro é uma via de mão dupla, escuta e fala, geralmente nossas orações são falas e falas, achamos que Deus não nos responde, mas quando nos responde não entendemos, pois estamos acostumados a sociedade do excessos de som, imagens, dos vídeos etc.
Jesus se encontrando com Moisés e Elias só confirma sua natureza de Filho de Deus e a característica de sua missão. O jeito de ser de Jesus no falar e no agir deveria ser seguido por todos, sem a aplicação da logicas humana. Ele é a manifestação de um Deus, sendo sua plena Revelação, Daquele que cuida e protege. Nesses tempos que há os mais diversos tipos e modelo de Igreja, de pregadores. Ouvir a voz de Deus é o desafio, pois Deus vira um aplicativo que é usado pra justificar as mais diversas situações, sempre a serviço daquele pregador ou missionário que diz representa-Lo naquela realidade. Partido do pressuposto do evangelho se faz necessário distinguir o que de fato é o projeto de Deus e aquilo que é o ego desse ou daquele pregador, que assumiu a voz de Deus e faz disso um meio de vida. Deus fala na sua Palavra, na realidade das glória e de derrotas da nossa vida cotidiana. Em 2000 anos de Cristianismo quantos homens surgiram se dizendo a voz oficial de Deus, aqui serve pra muitos que possuem um cargo de liderança na Igreja. Mesmo com litro de óleo ungido, se percebe nos seus gesto e atitudes exigindo uma certa cerimônia de todos, mesmo com o tratamento dos seus títulos, todos sabem que dificilmente Deus se manifesta pelo sua boca, sendo um mero funcionário pra não dizer um mercenário que visa o retorno financeiro. Aquele que cumpre seu expediente e normas, a exemplo dos religiosos do tempo de Jesus. Eles constroem um deus que se manifesta no poder, nas honras, nos triunfos; nos rapapés e não percebem que Deus que se manifesta no dia-a-dia nas dores e lutas do povo, na entrega total de si, sem necessidade de uma recompensa neste plano, falam em nome próprio dizendo ser a pessoa de Cristo. Muitos Cristão gostam e se encantam por esse tipo de pregador que fala bonito no altar e o líder religioso. O seu testemunhos e atitudes e promiscuidade pregam bonito pra arrebata as multidões, mas não tem nada da voz de Deus, o deus dele se reduz ao luxo que cargo proporciona.
Não precisamos criar ou sair em busca dessa voz de Deus ou fazer experiências em cada dia em uma Igreja ou religião, não sejamos tolos Deus, não fala somente onde há um milagre x, y, nas revelações de um suposto vidente ou ainda na exibição de conhecimento de um pregador, se você se recorda do evangelho da semana passada quem tentou Jesus fez questão de exibir o conhecimento. A Igreja Católica vivendo a realidade do seu tempo no século passado fez um concilio que deu uma virada no jeito de ser e ouvir a voz de Deus e na Constituição Dogmática Dei Verbum no numero 4 diz:
"Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1, 1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1, 1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4). Por isso, Ele, vê-lo a Ele é ver o Pai (cfr. Jo. 14,9), com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna.
Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não se há-de esperar nenhuma outra revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. 1 Tim. 6,14; Tit. 2,13).
O concilio Vaticano II devolveu para o povo a riqueza da Palavra de Deus e fortaleceu a escuta da mesma e fez uma revisão sobre o Papel e a Escritura, fazendo uma releitura do papel do povo de Deus nesse tempo de noticia triste a Constituição Dogmática Lumen Gentiu no numero 38 diz:
"Cada leigo deve ser, perante o mundo, uma testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus e um sinal do Deus vivo. Todos em conjunto, e cada um por sua parte, devem alimentar o mundo com frutos espirituais (cfr. Gál. 5,22) e nele difundir aquele espírito que anima os pobres, mansos e pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (cfr. Mt. 5, 3-9). Numa palavra, «sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo» "
O cristão deve ser a boca Deus na defesa da Vida e aqui em consonância com texto da segunda leitura Paulo alerta para pregadores que se diziam mais dignos da revelação, sendo os donos da verdade, preocupados com o ritualismo judaico, a exemplo de pregadores que partem do 1º Testamento pra justificar essa ou aquela doutrina da sua igreja, manipulando e instrumentizando a Palavra de Deus pra justificar seu modo de operar e todos sabemos que somos imperfeitos, que devemos a cada dia caminharmos firmes no projeto de sermos melhores e para que possamos ser melhores se faz necessário ouvir a voz do Filho de Deus e com Ele devemos carregar nossas cruzes cumprindo a vontade do Pai.
Ainda olhando pra transfiguração de Jesus nesse domingo precisamos ter consciência que esse episodio apresenta elementos do antigo testamento, quando Jesus estava no deserto semana passada, ele foi só e hoje ele leva consigo 3 colaboradores e nesse contexto de revelação temos de fato um projeto sendo gestado. Na montanha Deus falava com Moises e no monte Ele faz aliança com Povo de Deus (Ex:34,29), sendo ainda que nuvem representa a presença da Gloria e proteção do próprio Deus, no caso do deserto Ex 40,35; Nm 9,18.22;10,34). Elias sendo o maior dos profetas aparece pra legitimar a filiação de Jesus, há uma crença judaica que o Reino de Israel será restaurado com volta desse profeta e aqui o evangelista relata os dois presentes para referenda e confirma a condição de Jesus como o Filho de Deus e instauração de um novo tempo. Jesus anunciou que ele seria condenado a morte, Ele falou de seu Reino e durante essa semana ele nos ensinou chamar de Deus de Pai, nesse sentido que somos chamados a vivermos como irmão uns dos outros. No contexto de Jesus subir a montanha envolve tomar uma decisão e receber uma missão, como no caso de Abraão que recebeu a noticia do próprio Deus que seria o pai de uma multidão e aqui Deus revela aos discípulos de Jesus quem de fato Ele era.
Que sejamos mais que pregadores com palavras que sejamos braços e pernas na missão de revelar a vontade de Deus aos povos e aqui vale uma frase de são Paulo:
"As Escrituras dizem: “Eu acreditei e, por isso, falei”. Assim, tendo o mesmo espírito de fé, nós também acreditamos e, por isso, falamos"
2 Coríntios 4, 13
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