“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu hei de dar é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6,51)
A solenidade de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, por meio da bula Transiturus de Mundo (“Para transmitir ao mundo”), determinando que esta festa acontecesse na quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, entre os dias 21 de maio e 24 de junho.
O desejo do Papa Urbano IV era propagar com mais intensidade o Mistério do Altar, inspirado nas visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que em 1244 começou a ter experiências místicas com Cristo Eucarístico. Após cinco anos de estudo e discernimento, o Papa decretou oficialmente a celebração da solenidade em 1269.
Contudo, como não havia internet nem meios modernos de comunicação, o decreto teve pouco alcance. Além disso, o Papa faleceu um mês após a promulgação da bula, o que retardou a sua difusão. Mesmo assim, algumas dioceses mantiveram a celebração, como a de Colônia (Alemanha), que inovou ao incluir a Procissão Eucarística no ano de 1270 — tradição que permanece até hoje. A festa se espalhou pela Alemanha, França e, somente a partir da segunda metade do século XVI, passou a ganhar importância em Roma.
Mistério de Fé
A Eucaristia não é apenas um símbolo — é um sacramento. E sacramento é aquilo que significa o que realiza, não aquilo que aparenta ser. Jesus está presente de forma real, inteira e substancial no pão e no vinho consagrados, com toda a sua humanidade e divindade. O mesmo Deus que se encarnou no ventre de Maria, na pequena Nazaré, há dois mil anos, se faz presente hoje nos altares do mundo.
Um dos registros mais antigos da instituição da Eucaristia encontra-se na carta de São Paulo aos Coríntios:
“Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim.’ Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.’ Assim, todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (1Cor 11,23-26).
O Catecismo da Igreja Católica reafirma esta doutrina com clareza: “Pela consagração realiza-se a conversão de toda a substância do pão no Corpo de Cristo e de toda a substância do vinho no Sangue de Cristo. Esta conversão denomina-se, de maneira apropriada e exata, transubstanciação” (CIC, n. 1376).
Sinais que confirmam a fé
Ao longo da história da Igreja, muitos sinais e milagres têm confirmado essa presença real. O mais antigo e conhecido é o Milagre de Lanciano, no século VIII. Conta-se que um monge da Ordem de São Basílio, cheio de dúvidas sobre a presença real de Jesus na Eucaristia, celebrou a Missa e, no momento da consagração, viu a hóstia tornar-se carne viva e o vinho converter-se em sangue vivo.
Somente em 1586 a Igreja reconheceu oficialmente este milagre. A carne permaneceu com textura fibrosa e coloração rosada, e o sangue coagulado em cinco fragmentos, que ao serem pesados juntos ou separadamente, misteriosamente têm o mesmo peso.
Em 1970, os Frades Menores Conventuais submeteram as relíquias a rigorosa análise científica, que concluiu:
“A carne e o sangue são de um ser humano vivo, do tipo sanguíneo AB, o mesmo tipo do Santo Sudário. A carne corresponde ao tecido do miocárdio (coração), contendo inclusive o nervo vago e o ventrículo esquerdo. Não há explicação científica para a conservação da carne e do sangue por mais de doze séculos em estado natural.”
Experiência viva e atual
Mas a Eucaristia não é apenas um dado do passado — é presença viva. Um exemplo concreto disso aconteceu com um jovem, oriundo de uma comunidade pentecostal. Ele dizia que a liturgia católica era apenas simbólica, sem fundamento bíblico. Lemos juntos João 6,53-57: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia...”
Ele não se convenceu. Não nos encontramos mais. Anos depois, esse mesmo jovem foi a uma festa na casa de um amigo, aqui no Rio de Janeiro, e soube que a família participaria da Missa em ação de graças pelo aniversário do filho. Curioso, foi com sua Bíblia de capa preta, pronto para criticar a “idolatria católica”.
Mas algo aconteceu. No momento da consagração, uma luz intensa tomou o ambiente, ele descreveu como o brilho do sol ao meio-dia. Tentou “repreender em nome de Jesus”, mas foi tomado por uma paz inexplicável. Chorou. Recordou da nossa conversa e da transfiguração do Senhor. Como Saulo, foi tocado por Cristo. Anos depois, nos reencontramos. Ele se aproximou e disse: “Hoje sou Católico. Agora eu entendi. A Igreja Católica se fundamenta em Jesus Vivo e Ressuscitado.”
Esse milagre interior ocorreu mais de uma vez — em diferentes paróquias, sempre no momento da consagração.
“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus” (Ef 2,20).
Há outros tantos sinais da presença real de Cristo na Eucaristia no mundo de hoje. Como afirmou São João:
“Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez; se cada uma fosse escrita, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se escreveriam” (Jo 21,25).
A Eucaristia é a certeza de que Jesus está conosco. É Ele quem nos alimenta, sustenta, perdoa e fortalece. Como está escrito no Evangelho de Mateus:
“Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
DNonato
Teólogo do cotidiano
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