segunda-feira, 21 de maio de 2018

Alguns observações sobre a participação na missa.


Pequenos detalhes que fazem a diferença e unem a Igreja[1]
Olhando para o texto tem muitas coisas que devem ser observada, contudo a casos de extremos que devem ser observado, por exemplo, os itens 18 e 19.  Não saia de seu lugar, como se a liturgia fosse um grupo de soldados em forma,  concordamos que  também não é pra fazer aquele passeio dentro da Igreja  para saudar a todas as pessoas e ainda dizer que deve esta preparado para comungar.
 Quem esta preparado? Quem pode comungar?
1.  
Não chegar atrasado. Lembre-se de que Deus está esperando você para enchê-lo com o seu amor, dar o seu perdão e um abraço, falar ao seu ouvido, e dizer o que o você precisa ouvir. Ele separou um lugar na mesa para você. Não o deixe esperando;
2.  
Não usar roupas provocantes. Não use vestuário que possa chamar a atenção ou provocar (decote, minissaia e shorts);
3.  
Não entre na igreja sem saudar o Senhor. Ao chegar, faça o sinal da cruz. Ele está lá, feliz por ver você. Agradeça-o, pois ele o convidou;
4.  
Não tenha preguiça de fazer a reverência ou a genuflexão. Se você passar em frente ao altar, que representa Cristo, faça a reverência. Se passar pelo Sacrário, onde está Cristo, faça a genuflexão (tocar o chão com o joelho);
5.  
Não masque chiclete nem coma ou beba. Só é permitida água e em caso de necessidade e por questão de saúde;
6.  
Não cruze as pernas. O ato de cruzar as pernas é considerado pouco respeitoso. O seu corpo deve expressar a sua devoção;
7.  
A mesma pessoa não deve fazer a Leitura e o Salmo. Se você vir um só leitor ou leitora, ofereça-se para ler, pois as Leituras e o Salmo devem ser proclamados por leitores diferentes (dois no meio da semana e três aos domingos ou dias festivos, quando há a Segunda Leitura);
8.  
Não adicione frases quando for fazer as Leituras e o Salmo. Não leia as letrinhas vermelhas nem diga: “Primeira Leitura” ou “Salmo Responsorial”;
9.  
Nunca recite o Aleluia antecipadamente. Não se adiante para dizer “Aleluia, Aleluia”. Espere alguns segundos, pois, certamente, alguém o cantará. Se nem o padre nem ninguém cantar, omita-o, mas nunca o recite;
10.    
Não faça o sinal da cruz na proclamação do Evangelho. Você só deve fazer três cruzes pequenas: uma na fronte, outra nos lábios e a última no peito;
11.    
Não responda no plural quando Credo é feito em forma de perguntas. Quem preside a Missa pode perguntar: “Creem em Deus Pai Todo Poderoso?” Neste caso, não responda “sim, cremos”, pois a fé é pessoal. Responda: “sim, creio”.
12.    
Não recolha a oferta durante a Oração Universal. A oferta deve ser recolhida durante a apresentação dos dons, quando todos estão sentados e o padre agradece a Deus pelo pão e o vinho e purifica as mãos;
13.    
Não se levante durante a apresentação dos dons. Às vezes, alguém se levanta e, por impulso, outros também ficam de pé. Talvez, ao ver o padre levantar o cálice e a hóstia, as pessoas pensam que já é a Consagração. Mas não é;
14.    
Não se ajoelhe logo depois do “Santo”. É preciso esperar que o padre peça que o Espírito Santo transforme o pão e o vinho em Corpo e Sangue de Cristo. É neste momento que se deve ajoelhar-se (se houver sino, ajoelhe-se quando ele soar);
15.    
Não ficar sentado durante a Consagração. Se você não consegue se ajoelhar, fique de pé, mas nunca se sente, a menos que seja por alguma doença. É falta de respeito com Cristo, que se faz presente no altar;
16.    
Não dizer nada em voz alta durante a Consagração. Tem gente que, durante a Consagração, diz em voz alta: “Meu Senhor, Meu Deus”. Mas isso distrai quem está fazendo uma oração pessoal em silêncio;
17.    
Não diga em voz alta: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo…”. Só quem deve dizer isso é quem preside a Missa;
18.    
Não saia do seu lugar para ir dar a Paz. Você só deve cumprimentar quem está perto de você, não outras pessoas, em outros bancos. Tampouco deve aproveitar para ir felicitar alguém ou dar pêsames;
19.    
Se você não estiver preparado, não comungue. Você deve ter guardado o jejum eucarístico (não ter comido nem bebido nada uma hora antes de comungar) e não ter pecado grave;
20.    
Não fazer somente uma fila de Comunhão (a do padre). Jesus está presente na Hóstia Consagrada, não importa se é a hóstia segurada pelo padre ou por um Ministro Extraordinário da Eucaristia, que é uma pessoa preparada e autorizada pela Igreja para distribuir a Comunhão na Missa e levá-la aos idosos e enfermos;
21.    
Depois de comungar, não converse com os outros. Volte ao seu lugar e fale com o Senhor. Se você não comungou, faça uma comunhão espiritual e converse com Ele;
22.    
Quando terminar a distribuição da Comunhão, não continuar cantando. O canto da Comunhão deve terminar quando a última pessoa receber a hóstia, para que haja um silêncio sagrado, em que cada pessoa entra em diálogo com Deus;
23.    
Desligue o celular. Não fique mandando mensagens ou falando ao celular durante a Missa, pois isso distrai você e os outros. Dedique sua atenção ao Senhor, que está dedicando a atenção Dele a você;
24.    
Não perca as crianças de vista. Ensine-as a aproveitar a casa do Pai e a se comportar na Missa;
25.    
Não saia antes que a Missa termine. Não perca a bênção fina, através da qual o padre o envia ao mundo para dar testemunho em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Saia da Igreja com um propósito novo, que tenha sido inspirado no Senhor, para edificar o mundo, seu Reino de amor.


[1] Artigo originalmente publicado por Desde la fé, traduzido e adaptado ao português por Aleteia.


sexta-feira, 11 de maio de 2018

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O LII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Tema: «"A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). 
Fake news e jornalismo de paz»
[13 de maio de 2018]

Queridos irmãos e irmãs!
No projeto de Deus, a comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão. Imagem e semelhança do Criador, o ser humano é capaz de expressar e compartilhar o verdadeiro, o bom e o belo. É capaz de narrar a sua própria experiência e o mundo, construindo assim a memória e a compreensão dos acontecimentos. Mas, se orgulhosamente seguir o seu egoísmo, o homem pode usar de modo distorcido a própria faculdade de comunicar, como o atestam, já nos primórdios, os episódios bíblicos dos irmãos Caim e Abel e da Torre de Babel (cf. Gn 4, 1-16; 11, 1-9). Sintoma típico de tal distorção é a alteração da verdade, tanto no plano individual como no coletivo. Se, pelo contrário, se mantiver fiel ao projeto de Deus, a comunicação torna-se lugar para exprimir a própria responsabilidade na busca da verdade e na construção do bem. Hoje, no contexto duma comunicação cada vez mais rápida e dentro dum sistema digital, assistimos ao fenómeno das «notícias falsas», as chamadas fake news: isto convida-nos a refletir, sugerindo-me dedicar esta Mensagem ao tema da verdade, como aliás já mais vezes o fizeram os meus predecessores a começar por Paulo VI (cf. Mensagem de 1972: «Os instrumentos de comunicação social ao serviço da Verdade»). Gostaria, assim, de contribuir para o esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas e para redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade.
1. Que há de falso nas «notícias falsas»?
A expressão fake news é objeto de discussão e debate. Geralmente diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros económicos.
A eficácia das fake news fica-se a dever, em primeiro lugar, à sua natureza mimética, ou seja, à capacidade de se apresentar como plausíveis. Falsas mas verosímeis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento, ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente conseguem circunscrever os seus danos.
A dificuldade em desvendar e erradicar as fake news é devida também ao facto de as pessoas interagirem muitas vezes dentro de ambientes digitais homogéneos e impermeáveis a perspetivas e opiniões divergentes. Esta lógica da desinformação tem êxito, porque, em vez de haver um confronto sadio com outras fontes de informação (que poderia colocar positivamente em discussão os preconceitos e abrir para um diálogo construtivo), corre-se o risco de se tornar atores involuntários na difusão de opiniões tendenciosas e infundadas. O drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade.
2. Como podemos reconhecê-las?
Nenhum de nós se pode eximir da responsabilidade de contrastar estas falsidades. Não é tarefa fácil, porque a desinformação se baseia muitas vezes sobre discursos variegados, deliberadamente evasivos e subtilmente enganadores, valendo-se por vezes de mecanismos refinados. Por isso, são louváveis as iniciativas educativas que permitem apreender como ler e avaliar o contexto comunicativo, ensinando a não ser divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores do seu desvendamento. Igualmente louváveis são as iniciativas institucionais e jurídicas empenhadas na definição de normativas que visam circunscrever o fenómeno, e ainda iniciativas, como as empreendidas pelas tech e media company, idóneas para definir novos critérios capazes de verificar as identidades pessoais que se escondem por detrás de milhões de perfis digitais.
Mas a prevenção e identificação dos mecanismos da desinformação requerem também um discernimento profundo e cuidadoso. Com efeito, é preciso desmascarar uma lógica, que se poderia definir como a «lógica da serpente», capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar. Trata-se da estratégia utilizada pela serpente – «o mais astuto de todos os animais», como diz o livro do Génesis (cf. 3, 1-15) – a qual se tornou, nos primórdios da humanidade, artífice da primeira fake news, que levou às trágicas consequências do pecado, concretizadas depois no primeiro fratricídio (cf. Gn 4) e em inúmeras outras formas de mal contra Deus, o próximo, a sociedade e a criação. A estratégia deste habilidoso «pai da mentira» (Jo 8, 44) é precisamente a mimese, uma rastejante e perigosa sedução que abre caminho no coração do homem com argumentações falsas e aliciantes. De facto, na narração do pecado original, o tentador aproxima-se da mulher, fingindo ser seu amigo e interessar-se pelo seu bem. Começa o diálogo com uma afirmação verdadeira, mas só em parte: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?» (Gn 3, 1). Na realidade, o que Deus dissera a Adão não foi que não comesse de nenhuma árvore, mas apenas de uma árvore: «Não comas o [fruto] da árvore do conhecimento do bem e do mal» (Gn 2, 17). Retorquindo, a mulher explica isso mesmo à serpente, mas deixa-se atrair pela sua provocação: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: “Nunca o deveis comer nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis”» (Gn3, 2-3). Esta resposta tem sabor a legalismo e pessimismo: dando crédito ao falsário e deixando-se atrair pela sua apresentação dos factos, a mulher extravia-se. Em primeiro lugar, dá ouvidos à sua réplica tranquilizadora: «Não, não morrereis»(3, 4). Depois a argumentação do tentador assume uma aparência credível: «Deus sabe que, no dia em que comerdes [desse fruto], abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal»(3, 5). Enfim, ela chega a desconfiar da recomendação paterna de Deus, que tinha em vista o seu bem, para seguir o aliciamento sedutor do inimigo: «Vendo a mulher que o fruto devia ser bom para comer, pois era de atraente aspeto (…) agarrou do fruto, comeu»(3, 6). Este episódio bíblico revela assim um facto essencial para o nosso tema: nenhuma desinformação é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos.
De facto, está em jogo a nossa avidez. As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que carateriza os meios de comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano. As próprias motivações económicas e oportunistas da desinformação têm a sua raiz na sede de poder, ter e gozar, que, em última instância, nos torna vítimas de um embuste muito mais trágico do que cada uma das suas manifestações: o embuste do mal, que se move de falsidade em falsidade para nos roubar a liberdade do coração. Por isso mesmo, educar para a verdade significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem «mordendo a isca» em cada tentação.
3. «A verdade vos tornará livres» (Jo 8, 32)
De facto, a contaminação contínua por uma linguagem enganadora acaba por ofuscar o íntimo da pessoa. Dostoevskij deixou escrito algo de notável neste sentido: «Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo» (Os irmãos Karamazov, II, 2).
E então como defender-nos? O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade. Na visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceptual, que diz respeito ao juízo sobre as coisas, definindo-as verdadeiras ou falsas. A verdade não é apenas trazer à luz coisas obscuras, «desvendar a realidade», como faz pensar o termo que a designa em grego:aletheia, de a-lethès, «não escondido». A verdade tem a ver com a vida inteira. Na Bíblia, reúne os significados de apoio, solidez, confiança, como sugere a raiz ‘aman (daqui provém o próprio Amen litúrgico). A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair. Neste sentido relacional, o único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único «verdadeiro» é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: «Eu sou a verdade» (Jo 14, 6). Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: «A verdade vos tornará livres»(Jo 8, 32).
Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis. Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor. Por isso, a verdade não se alcança autenticamente quando é imposta como algo de extrínseco e impessoal; mas brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca. Além disso, não se acaba jamais de procurar a verdade, porque algo de falso sempre se pode insinuar, mesmo ao dizer coisas verdadeiras. De facto, uma argumentação impecável pode basear-se em factos inegáveis, mas, se for usada para ferir o outro e desacreditá-lo à vista alheia, por mais justa que apareça, não é habitada pela verdade. A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam polémica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua atividade.
4. A paz é a verdadeira notícia
O melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem. Se a via de saída da difusão da desinformação é a responsabilidade, particularmente envolvido está quem, por profissão, é obrigado a ser responsável ao informar, ou seja, o jornalista, guardião das notícias. No mundo atual, ele não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão. No meio do frenesim das notícias e na voragem dos scoop, tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audience, mas as pessoas. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz.
Por isso desejo convidar a que se promova um jornalismo de paz, sem entender, com esta expressão, um jornalismo «bonzinho», que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos. Pelo contrário, penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escalation do clamor e da violência verbal.
Por isso, inspirando-nos numa conhecida oração franciscana, poderemos dirigir-nos, à Verdade em pessoa, nestes termos:
Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não
cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos
verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.
Amen.
Vaticano, 24 de janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano de 2018.
Franciscus

   FONTE: https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20180124_messaggio-comunicazioni-sociali.html


sábado, 5 de maio de 2018

Observando Atos dos Apóstolos

O  Livro de Atos dos Apóstolos durante algum período recebeu alguns  nomes que destacamos abaixo, sendo um Livro atribuído ao médico amigo de São Paulo Autor do terceiro evangelho presente  texto iremos fazer uma  reflexão  sobre autoria, aspecto histórico, o seu contexto  no tripé  didática,  teológico e a apologética  adotada no livro, como também iremos  fazer uma breve analise do livro ressaltando o papel de Pedro e de Paulo no contexto do Livro. Temos o conhecimento que o livro   foi considerado como um único livro junto com terceiro evangelho sendo a certidão de nascimento da Igreja[1].  Há uma breve introdução no início do texto, mas não se sabe ao certo quem está escrevendo e introdução, é possível notar claramente que o texto não está sendo iniciado aqui, mas é a continuação de outro já escrito. Ou seja, Atos não é um livro completo por si mesmo  (At.1.1-2; Lc.1.1-3). Contudo, um ponto relevante pode ser colocado aqui em relação a esses versículos entre o terceiro evangelho e Atos, pois  em nenhum dos documentos os autor revela-se claramente.
Há uma tradição que atribuir[2] os “Atos de todos os apóstolos” a Lucas. A validade dessa afirmação pode ser questionada pelo próprio documento, pois ele sugere que o livro foi escrito após a morte de Pedro, e que a partida de Paulo de Roma for a posterior a esse evento. Contudo, não é este o único documento que faz menção a Atos como sendo de Lucas. Irineu de Lion, em seu escrito[3], indicava sua aceitação de Lucas como autor de Atos. O mesmo fez Clemente de Alexandria (155-215d.C.), em Stromata, e Tertuliano (150-220d.C.), em Do Jejum. Contudo, o mais explícito dos testemunhos é feito por Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica), que parece ser o argumento final para as declarações externas a própria escritura. 
Seguindo o raciocínio, podemos dizer que o autor de ambos os livros é alguém de estimada a cultura e bom nível literário. Isso pode ser observado pelo conhecimento claro, da parte do autor, em relação a versão grega do do Primeiro Testamento, a Septuaginta. Sem contar no seu conhecimento sobre as condições políticas e sociais vigentes na época em que escreve. Outro detalhe importante é que tal personagem histórico não pode ser um dos discípulos de Cristo, visto que ele escreve a respeito das coisas  que foram transmitidas a ele pelas testemunhas oculares e ministros da palavra (Lc.1.1-3). Por outro lado, não é alguém alheio aos acontecimentos narrados, pois existe a indicação de que o autor esteve presente em alguns deles[4]. Observe que a narrativa normal acontece sempre na terceira pessoa do plural. Isso sugere que o narrador participou eventualmente de acontecimentos narrados no próprio livro. Ou seja, o autor acompanhou Paulo nesses acontecimentos. Logo, não pode ser nenhum dos personagens citadoso nesses trechos. Assim, como nem Lucas nem Tito são mencionados especificamente entre os companheiros de Paulo em Atos, presume-se que um dos dois tenha sido aquele que, anonimamente, se incluiu entre esse “nós”.  Portanto, se os argumentos anteriores são corretos não podemos ter outra opção senão considerar que Lucas, o “amado médico” (Cl.1.14) como o autor de tal documento. Aliás, é digno de nota que a autoria lucana não teria sido contestada até o advento das abordagens críticas do Novo Testamento no fim do século XVIII.
O livro teve alguns nomes[5] que podemos destacar:
·        simplemente Atos (Praxeis)
·        Atos de todos os apóstolos
·        Atos dos Santos Apóstolos (Praxeis ton hagion apostolon)
·        Atos dos Apóstolos
·         História do poder de Deus entre os Apóstolos
Sendo uma obra  que  tem um sentido,  uma  conexão  cronológica com o terceiro evangelho  e apresenta a missão da Igreja. Dedica cerca de sete capítulos à Igreja em Jerusalém, o restante (outros vinte e um capítulos) relata a expansão do Cristianismo até a cidade mais importante da época, Roma. A ênfase, portanto, é na missão aos Gentios – ainda que Paulo procure sempre os judeus em primeiro lugar (Rm.1.16).  Se percebe uma identificação com  Paulo[6],   e apresenta os aspectos como o evangelho chegou aos gentios duas vezes (10.1ss; 11.4ss); o decreto de Jerusalém sobre os Gentios três vezes (15.20, 29; 21.25). É interessante observar também que a missão da igreja foi essencialmente urbana (Jerusalém, Éfeso, Antioquia, Roma). O livro ainda apresenta  o Espirito Santo em ação.


  • Algumas observações em relação a data de sua origem:
1.     Não é mencionada nenhum material paulino em Atos. Portanto Atos foi escrito antes da circulação universal das carta de Paulo. Portanto Atos foi escrito antes do segundo século.
2.     Não é mencionada a Queda de Jerusalém. Isso aconteceu no ano 70d.C com General Tito. Portanto, Atos foi escrito em data anterior a esta.
3.     Não é mencionada a morte de Paulo. Isso sugere que Paulo ainda estava vivo enquanto Lucas coletava informações sobre os fatos mencionados. Se a tradição está correta, Paulo morreu debaixo do governo de Nero, que findou por volta do ano 68 d.C. Portanto, Atos foi escrito antes dessa data.
4.     Não é mencionada a perseguição de Nero contra os cristãos. Segundo a história, a perseguição de Nero, iniciada no ano de 64d.C., foi a mais cruel. Portanto, Lucas escreveu Atos antes de 64d.C.

O autor combina uma multiplicidade de intenções, todas elas envolvidos com aspectos característicos da narrativa. Podemos dizer que existem três grandes pilares em Atos: Didático, Teológico e Apologético.
 O Livro é o segundo volume de uma obra com intenções claramente didáticas (cf. Lc 1.1-4). Lucas intenta fortalecer e edificar Teófilo em sua fé por meio de um relato ordenado. No evangelho Lucas narra o ensino e a obra de Jesus, o Messias; em Atos, ele narra as obras do Cristo ressurreto por meio de Seus apóstolos, no poder do Espírito.
O tema do reino de Deus permeia os dois livros. Assim é que Atos começa com uma pergunta escatológica (1.6) e termina com vocabulário escatológico (28.31).
Outra ênfase teológica é o relacionamento da Igreja com o Reino de Deus, ou seja, como a mensagem do reino, soberanamente, deixou de ser um fenômeno predominantemente judeu e se tornou um movimento predominantemente gentílico, com seu centro se deslocando de Jerusalém para Roma. Ele demonstrou ao(s) seu(s) leitor(es) como Deus tencionava incluir em Seu reino um povo formado por judeus e gentios durante esta era
Assim como fizera no evangelho, Lucas vindicou esta mudança na operação divina em Atos narrando a oferta autorizada da mensagem cristã aos judeus, e sua rejeição por Israel, de Jerusalém a Roma, escancarando assim a porta aos Gentios. Assim, as palavras de Paulo e Barnabé aos judeus em Antioquia da Pisídia são significativas:
·        “Era necessário que a Palavra de Deus fosse proclamada primeiramente a vós; visto que a repudiais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios” [7]
Para os judeus incrédulos em Roma, Paulo citou Isaías 6.9-10, a passagem clássica de endurecimento e condenação nos quatro evangelhos, e disse:
·        “Fique sabido, portanto, que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios: eles a ouvirão”[8]
Outra ênfase é o papel preponderante do Espírito Santo como o fator motivador no progresso da mensagem do reino. Não foi o esforço humano, e sim o cumprimento da promessa de Jesus que possibilitou o dramático avanço do cristianismo até os confins da terra. Essa ênfase no Espírito Santo é vista ainda na continuidade dos ensinos proféticos de Jesus no livro de Atos:
 Alguns destaques  no Livro de Atos:
TEMATICA DE JESUS APRESENTADAS NO LIVRO DE ATOS
a)          A profecia do crescimento da Igreja, que seria vitoriosa contra Satanás (Mt 16.18)
b)          Jesus afirmou aos líderes religiosos que apenas um sinal seria dado a Israel, a Sua ressurreição (Mt 12.38-40; cf. Jo 2.19).
c)          Jesus declarou que a cidade de Jerusalém seria destruída, porque aquela geração de israelitas estava sob julgamento divino pelo pecado nacional de haver rejeitado o Messias (Lc 21.23-24).
d)          Lucas registrou o nascimento e o crescimento da nova entidade chamada igreja e a conquista dos domínios das trevas e do mal,
e)          A morte, ressurreição, e o ministério continuado de Jesus Cristo formam o contexto e a base do livro de Atos, sendo o centro da pregação dos apóstolos.
f)            Os apóstolos instaram com os judeus a que se arrependessem e se salvassem daquela “geração perversa” (At 2.40).
O autor   coloca em evidencia  as seguintes situações:
(1) O reino permaneceu em foco (1.3, 6; 28.31);
(2) Jesus não negou a restauração do reino a Israel (1.6-7);
(3) Jesus esboçou para os discípulos a sua tarefa até a época fixada pela autoridade do Pai (1.8);
(4) O ministério dos apóstolos, especialmente de Paulo, confirmou mais profunda e amplamente a rejeição do Messias por Israel e demonstrou um deslocamento da obra divina dentre os judeus para entre os gentios por meio da Igreja.

O autor  faz uma ligação a histórica com o propósito divino para o povo de Israel e para o mundo, que o acesso ao reino e o desfrute de suas bênçãos espirituais fosse partilhado por judeus e gentios em pé de igualdade até o tempo da restauração de Israel (cf. 1.6).
O livro faz uma comparação do ministério de Paulo e Pedro em evidencia,  demostrando a importância de ambos para Igreja  primitiva,  se percebe a narração da conversão de Paulo três vezes[9] sendo um evento de suma importância  na visão do autor. Eis um quadro[10] comparativo  entre Pedro e Paulo
Atos de Pedro
Atos de Paulo
3.1-11  Curou um paralítico de nascença
14.8-18  Curou um paralítico de nascença
5.15-16  Cria-se que sua sombra curava pes­soas.
19.11-12  Cria-se que seus lenços e aventais curavam pessoas.
9.32-35  Curou Enéias de paralisia
28.7-9  Curou o pai de Públio e outros (Malta)
9.36-41  Ressuscitou a Dorcas
20.9-12  Ressuscitou a Êutico
8.9-24  Repreendeu Simão, um ilusionista
13.6-11  Repreendeu Elimas, um feiticeiro

A possibilidade de que o Autor tenha escrito para demonstrar que o cristianismo não era religião nociva à pax romana pode-se depreender da afirmação dos judeus romanos sobre a fé cristã de que “em toda parte se fala contra ela” (28.22). O cristianismo já havia sido difamado em Roma antes de Paulo ali chegar.
Assim, Lucas indica cuidadosamente que as perseguições em Atos eram de origem religiosa, não política. Que haviam nascido da intolerância e incredulidade dos judeus, exceto em Éfeso e Filipos, onde os motivos foram puramente econômicos, embora relacionados a práticas religiosas.
Se levarmos em conta os dois volumes escritos por Lucas, descobrimos a declaração de inocência de Jesus por Pilatos foi registrada nada menos de três vezes (Lc 23.4, 14, 22). Em Pafos, o procônsul de Chipre, um homem de bom senso, abraçou a fé cristã (At 13.6-12). Em Filipos os magistrados se desculparam diante de Paulo e Silas por abuso de poder e violação de seus direitos de cidadania romana. Em Corinto, o procônsul da Acaia, Gálio, julgou Paulo e Silas inocentes de qualquer ofensa contra a lei romana (18.12-17). Em Éfeso, alguns dos oficiais da província eram amigos de Paulo e o escrivão da cidade o absolveu da acusação de sacrilégio (19.31, 35-41). Na Palestina os governadores Félix e Festo consideraram Paulo inocente das acusações contra ele levantadas, e o rei Agripa II concordou que Paulo “poderia ser libertado, se não houvesse apelado a César” (24.1-26.32).

O autor coloca em evidencia  na obra a origem da Igreja dando uma ênfase a sua origem no dia de Pentecoste,  na presença de  Pedro  como um dos lideres  até o capitulo 15, a  eleição e o martírio de Estevão[11] e pregação de Felipe ao ministro da Rainha Etíope[12]   a importância  da expansão da Igreja pelos confins da Terra.  O texto vai nos apresenta o papel do Espirito como fonte que vai guiar a Igreja[13]
A leitura do Livro de Atos  deve ser posterior a leitura a  de um dos Evangelhos  de preferencia a Leitura de Lucas, pois como se  perceber e até se defende como um único livro felicitará o entendimento abaixo apresentamos um quadro comparativo
Das viagens de Paulo e  as suas cartas.
  



[1] Atos 2
[2] Canon Muratoriano (180d.C)
[3] escrito “Adversus Heresiae“,
[4] At.16.8-10;  20.5-15; 21.1-18 e 27.1-28.16
[5] Orígenes, Tertuliano, Dídiomo, Hilário, Eusébio  Epifânio Atanásio, Cipriano, Eusébio, Ciril, Teodoret, Orígenes, Tertuliano e Hilário.
[6]  Narra três vezes (9.1ss; 22.3ss; 26.2ss) a conversão de São Paulo
[7] Atos 13, 46
[8] Atos 28,.28.
[9] Ato  9, 22, 26
[10] fonte: Carlos Osvaldo Pinto, Apostila de TBNT
[11]  Atos 6,6,;  7,55
[12]  Atos 8,29
[13] Atos  2.1-4; 6.3; 11. 28; 13.2; 15.28; 16.7; 21.11.